Que
mundo queremos?
Impressionados com o mundo cheio de maldade, de injustiça
e de corrupção às vezes nos perguntamos: que mundo queremos, afinal? É este que
está aí, ou queremos um outro? Um outro mundo é possível?
Não é tão fácil responder. Mas, a partir de um olhar
cristão, vamos tentar uma reflexão. Com certeza, não é assim que o cristão
sonha o mundo criado por Deus e no qual o Reino de Cristo se constrói e se faz
presente. Tendo Jesus de Nazaré e o seu projeto como base, o cristão busca uma
maneira diferente de estar nele e de colaborar na transformação dele em um
lugar bom para se viver e, onde há espaço para todos, e mais ainda, para todas
as manifestações de vida.
Julgados
pelo mundo
O mundo nos julga. Aliás, todos são julgados pelo mundo.
Quem está conforme a maneira de ser do mundo é aprovado por ele; quem é
diferente, é reprovado por ele. Basta ter os olhos aberto para percebê-lo.
Alguns o mundo coloca como seus modelos, como seus heróis e mitos; outros como
seus opositores, como os que incomodam e prejudicam o andamento. Quem não se
adapta ao seu ritmo, à sua maneira de estabelecer sua “ordem”, é considerado
obstáculo.
Mais do que nunca, os cristãos são julgados pelo mundo de
hoje. O mundo, enquanto traça seus próprios caminhos, defendendo seus
interesses, lança um forte juízo sobre os cristãos por terem outros projetos,
os projetos do Reino de justiça, de perdão, de fraternidade e de inclusão.
Quando os interesses do mundo e dos cristãos não se afinam, o mundo emplaca os
cristãos de atrasados, de alienados e de comunistas. Cada vez mais, fruto da
mentalidade mundana de nosso tempo, preocupar-se com o pobre é visto como sendo
comunista! Pobre é vagabundo e desordeiro, e quem o defende não é nada mais do
que um deles!
Até o Evangelho é julgado: ele não pode ser lido em seu
contexto histórico, mas somente no sentido de dar conselhos práticos para ter
sucesso na vida; ter prosperidade. Jesus é tirado de sua história e de seu
ambiente geográfico; colocado nos tronos onde não incomoda; e muito longe das
multidões de pobres de nossas periferias. Mas aí, com certeza, ele não se
encontra.
Julgamos
o mundo
Não é só o mundo que nos julga; mas nós, como cristãos
também julgamos o mundo. Aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré mostramos
outros valores que desafiam o mundo e seu interesses. É Jesus, seu Evangelho –
o Reino – que no cristão estão julgando o mundo. Dizem, sempre de novo:
“Felizes os pobres!” (cf. Mt 5,3); e, “todas as vezes que fizestes isso a um
destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (cf. Mt 25,40).
Isto com palavras, mas principalmente com a forma de agir e de se relacionar
com o mundo, e nele, com todo e qualquer tipo de pobre. É aí que se mostra que
ser verdadeiramente cristão – seguidor de Cristo Jesus – não deve nada ao
comunismo, e que o mundo é muito injusto e mentiroso ao classificar dessa forma
os cristãos engajados na realidade e desejosos de construir um mundo mais
justo, mais fraterno e melhor para todos viverem.
Jesus foi julgado, mas este julgamento lançou luz sobre o
seu projeto. Defender o pobre, o pequeno, o injustiçado valeu-lhe a morte na
cruz; mas é o sinal mais forte e eficaz da justiça divina: Deus justo para com
os que sempre são injustiçados. Deu a vida por eles. Portanto, também nós – os
cristãos – não somos só julgados, mas julgamos o mundo, ou seja, sentenciamos
com eficácia, colocamos o mundo na ordem à qual o mundo é chamado toda vez que
praticamos a justiça do Reino. O cristão é sinal de contradição: o mundo
destrói e mata; o cristão constrói e faz viver. Sejamos cristãos autênticos,
criticados e perseguidos pelo mundo, mas sinais de vida e vitória para os
homens de boa vontade. De que lado estamos? É possível outro mundo? É possível
ser cristão hoje? Que Jesus sempre seja nosso caminho, verdade e vida.
Pe. Mário
Fernando Glaab
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