sábado, 5 de outubro de 2019

Julgados, mas julgamos!


Que mundo queremos?

            Impressionados com o mundo cheio de maldade, de injustiça e de corrupção às vezes nos perguntamos: que mundo queremos, afinal? É este que está aí, ou queremos um outro? Um outro mundo é possível?
            Não é tão fácil responder. Mas, a partir de um olhar cristão, vamos tentar uma reflexão. Com certeza, não é assim que o cristão sonha o mundo criado por Deus e no qual o Reino de Cristo se constrói e se faz presente. Tendo Jesus de Nazaré e o seu projeto como base, o cristão busca uma maneira diferente de estar nele e de colaborar na transformação dele em um lugar bom para se viver e, onde há espaço para todos, e mais ainda, para todas as manifestações de vida.

Julgados pelo mundo
            O mundo nos julga. Aliás, todos são julgados pelo mundo. Quem está conforme a maneira de ser do mundo é aprovado por ele; quem é diferente, é reprovado por ele. Basta ter os olhos aberto para percebê-lo. Alguns o mundo coloca como seus modelos, como seus heróis e mitos; outros como seus opositores, como os que incomodam e prejudicam o andamento. Quem não se adapta ao seu ritmo, à sua maneira de estabelecer sua “ordem”, é considerado obstáculo.
            Mais do que nunca, os cristãos são julgados pelo mundo de hoje. O mundo, enquanto traça seus próprios caminhos, defendendo seus interesses, lança um forte juízo sobre os cristãos por terem outros projetos, os projetos do Reino de justiça, de perdão, de fraternidade e de inclusão. Quando os interesses do mundo e dos cristãos não se afinam, o mundo emplaca os cristãos de atrasados, de alienados e de comunistas. Cada vez mais, fruto da mentalidade mundana de nosso tempo, preocupar-se com o pobre é visto como sendo comunista! Pobre é vagabundo e desordeiro, e quem o defende não é nada mais do que um deles!
            Até o Evangelho é julgado: ele não pode ser lido em seu contexto histórico, mas somente no sentido de dar conselhos práticos para ter sucesso na vida; ter prosperidade. Jesus é tirado de sua história e de seu ambiente geográfico; colocado nos tronos onde não incomoda; e muito longe das multidões de pobres de nossas periferias. Mas aí, com certeza, ele não se encontra.

Julgamos o mundo
            Não é só o mundo que nos julga; mas nós, como cristãos também julgamos o mundo. Aderindo ao projeto de Jesus de Nazaré mostramos outros valores que desafiam o mundo e seu interesses. É Jesus, seu Evangelho – o Reino – que no cristão estão julgando o mundo. Dizem, sempre de novo: “Felizes os pobres!” (cf. Mt 5,3); e, “todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (cf. Mt 25,40). Isto com palavras, mas principalmente com a forma de agir e de se relacionar com o mundo, e nele, com todo e qualquer tipo de pobre. É aí que se mostra que ser verdadeiramente cristão – seguidor de Cristo Jesus – não deve nada ao comunismo, e que o mundo é muito injusto e mentiroso ao classificar dessa forma os cristãos engajados na realidade e desejosos de construir um mundo mais justo, mais fraterno e melhor para todos viverem.
            Jesus foi julgado, mas este julgamento lançou luz sobre o seu projeto. Defender o pobre, o pequeno, o injustiçado valeu-lhe a morte na cruz; mas é o sinal mais forte e eficaz da justiça divina: Deus justo para com os que sempre são injustiçados. Deu a vida por eles. Portanto, também nós – os cristãos – não somos só julgados, mas julgamos o mundo, ou seja, sentenciamos com eficácia, colocamos o mundo na ordem à qual o mundo é chamado toda vez que praticamos a justiça do Reino. O cristão é sinal de contradição: o mundo destrói e mata; o cristão constrói e faz viver. Sejamos cristãos autênticos, criticados e perseguidos pelo mundo, mas sinais de vida e vitória para os homens de boa vontade. De que lado estamos? É possível outro mundo? É possível ser cristão hoje? Que Jesus sempre seja nosso caminho, verdade e vida.
Pe. Mário Fernando Glaab

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