RELAÇÕES
COM DEUS E COM OS SEMELHANTES
É verdade que é preciso se comunicar. Ninguém pode viver
sem comunicação, e isso com os semelhantes e com o Transcendente. Porém, antes
de se comunicar é necessário haver relações. E, para ter relações com um outro,
não pode faltar conhecimento, ao menos do básico.
Conhecimentos
No processo de conhecer alguém pode haver duas maneiras:
uma que vem de afirmações teóricas e outra da experiência, ou do contato, da
convivência. Pode-se aprender muitas coisas sobre alguém, e a partir disso,
estabelecer relações. Por outro lado, no entanto, é possível, por meio de
contatos, ir aos poucos se relacionando e se aprofundando nelas, sendo isso outra
dimensão. São conhecimentos que influenciam enormemente nas relações entre nós
e Deus. Quais são melhores?
Até pouco tempo dava-se muita importância para o
conhecimento intelectual, ou melhor, teórico. Procurava-se conhecer as coisas
pelo que são, deixando na sombra o que têm a ver conosco. Nas últimas décadas o
interesse pelo conhecimento se voltou mais para o conhecimento prático. Muito
mais do que se perguntar sobre o que é, pergunta-se sobre o que a coisa pode
significar para nós, qual a sua utilidade concreta. Este último modo de
conhecer, vem da experiência ou do contato direto com a coisa. Não de ideias
abstratas, mas de acontecimentos da história.
Na
teologia cristã
A teologia cristã, como não podida deixar de ser, também
está neste contexto. Igualmente, como os demais saberes, ela foi atingida por
estas maneiras de pensar. Durante muito tempo dava-se muita importância à
doutrina sobre Deus, sobre Jesus Cristo ou sobre a Igreja; hoje, muito mais do
que ficar em doutrinas (que não podem ser dispensadas!), foca-se o interesse em
“experimentar” Deus, Jesus Cristo e a Igreja.
Nada melhor, para entender a reviravolta, olhar para a
metodologia de Jesus que se encontra nos evangelhos. Ele não expos altas
doutrinas sobre Deus aos seus discípulos – que aliás, não tinham as mínimas
condições para isto -, porém, falou do que ele mesmo vivia. Convivendo com
eles, convidava-os a “experimentar” a sua maneira de viver, o seu conhecimento
de Deus e do próximo. A Deus ele experimentava como Pai bondoso e o próximo, em
consequência disso, como o irmão querido. Foi assim que os discípulos aprenderam
algo sobre o Deus de Jesus e sobre o que é o semelhante, principalmente o mais
pobre. Jesus, na sua experiência de Deus relacionava-se com Ele filialmente; e
na sua experiência com o semelhante, relacionava-se fraternalmente. Isso ele
ensinou e mostrou para quem o seguia.
Na verdade, Jesus, no seu projeto de vida, anunciou o
Reino de Deus, mais, ele o trouxe para junto dos seus. Os discípulos ouviram
muitas explicações sobre o que é este Reino, porém, o sentiram concretamente
agindo neles e entre eles, onde Jesus era acolhido e seguido.
Nossa
Catequese
O grande desafio para a Igreja hoje é anunciar com
sentido a Boa-nova de Jesus para este mundo cada vez mais desinteressado dos
valores que vão além do imediato. Concretamente pergunta-se como devem ser as
pregações e a catequese em nossas comunidades?
Sem dúvida, também as pregações e a catequese devem levar
em conta as mudanças de nosso tempo. Não basta dizer muitas coisas, mesmo que
sejam corretas. É preciso fazer com que as pessoas as experimentem, as
saboreiem. Ter Jesus de Nazaré como o nosso Mestre nos ajuda muito. A pregação e
a catequese, antes de ser doutrina, hão de ser, a exemplo de Jesus, vida. Os
que ouvem uma homilia ou frequentam a catequese hão de ser envolvidos no que
ouvem. Não devem ficar, como alunos, sentados nas carteiras, mas junto com o
“mestre” serem levados a experimentar as verdades aí anunciadas.
Nem é preciso dizer, a esta altura, que tanto os pregadores
quanto os catequistas devem ser, em primeiro lugar, discípulos do Homem de
Nazaré. Somente assim, no seguimento de Jesus, é que podem transmitir seu relacionamento
com Deus e com o semelhante. Conhecendo, se estabelecem novas relações. Estas
relações são compartilhadas.
Concluindo, podemos dizer que “Deus encontramos em nossa
própria humanidade”. Quer dizer, lá onde podemos nós nos relacionar; e, da
mesma forma, o próximo encontramos igualmente em nossa humanidade. Do jeito
como somos.
Pe. Mário Fernando Glaab.
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