quinta-feira, 3 de março de 2022

APRENDER VIVENDO

 

RELAÇÕES COM DEUS E COM OS SEMELHANTES

 

            É verdade que é preciso se comunicar. Ninguém pode viver sem comunicação, e isso com os semelhantes e com o Transcendente. Porém, antes de se comunicar é necessário haver relações. E, para ter relações com um outro, não pode faltar conhecimento, ao menos do básico.

 

Conhecimentos

            No processo de conhecer alguém pode haver duas maneiras: uma que vem de afirmações teóricas e outra da experiência, ou do contato, da convivência. Pode-se aprender muitas coisas sobre alguém, e a partir disso, estabelecer relações. Por outro lado, no entanto, é possível, por meio de contatos, ir aos poucos se relacionando e se aprofundando nelas, sendo isso outra dimensão. São conhecimentos que influenciam enormemente nas relações entre nós e Deus. Quais são melhores?

            Até pouco tempo dava-se muita importância para o conhecimento intelectual, ou melhor, teórico. Procurava-se conhecer as coisas pelo que são, deixando na sombra o que têm a ver conosco. Nas últimas décadas o interesse pelo conhecimento se voltou mais para o conhecimento prático. Muito mais do que se perguntar sobre o que é, pergunta-se sobre o que a coisa pode significar para nós, qual a sua utilidade concreta. Este último modo de conhecer, vem da experiência ou do contato direto com a coisa. Não de ideias abstratas, mas de acontecimentos da história.

 

Na teologia cristã

            A teologia cristã, como não podida deixar de ser, também está neste contexto. Igualmente, como os demais saberes, ela foi atingida por estas maneiras de pensar. Durante muito tempo dava-se muita importância à doutrina sobre Deus, sobre Jesus Cristo ou sobre a Igreja; hoje, muito mais do que ficar em doutrinas (que não podem ser dispensadas!), foca-se o interesse em “experimentar” Deus, Jesus Cristo e a Igreja.

            Nada melhor, para entender a reviravolta, olhar para a metodologia de Jesus que se encontra nos evangelhos. Ele não expos altas doutrinas sobre Deus aos seus discípulos – que aliás, não tinham as mínimas condições para isto -, porém, falou do que ele mesmo vivia. Convivendo com eles, convidava-os a “experimentar” a sua maneira de viver, o seu conhecimento de Deus e do próximo. A Deus ele experimentava como Pai bondoso e o próximo, em consequência disso, como o irmão querido. Foi assim que os discípulos aprenderam algo sobre o Deus de Jesus e sobre o que é o semelhante, principalmente o mais pobre. Jesus, na sua experiência de Deus relacionava-se com Ele filialmente; e na sua experiência com o semelhante, relacionava-se fraternalmente. Isso ele ensinou e mostrou para quem o seguia.

            Na verdade, Jesus, no seu projeto de vida, anunciou o Reino de Deus, mais, ele o trouxe para junto dos seus. Os discípulos ouviram muitas explicações sobre o que é este Reino, porém, o sentiram concretamente agindo neles e entre eles, onde Jesus era acolhido e seguido.

 

Nossa Catequese

            O grande desafio para a Igreja hoje é anunciar com sentido a Boa-nova de Jesus para este mundo cada vez mais desinteressado dos valores que vão além do imediato. Concretamente pergunta-se como devem ser as pregações e a catequese em nossas comunidades?

            Sem dúvida, também as pregações e a catequese devem levar em conta as mudanças de nosso tempo. Não basta dizer muitas coisas, mesmo que sejam corretas. É preciso fazer com que as pessoas as experimentem, as saboreiem. Ter Jesus de Nazaré como o nosso Mestre nos ajuda muito. A pregação e a catequese, antes de ser doutrina, hão de ser, a exemplo de Jesus, vida. Os que ouvem uma homilia ou frequentam a catequese hão de ser envolvidos no que ouvem. Não devem ficar, como alunos, sentados nas carteiras, mas junto com o “mestre” serem levados a experimentar as verdades aí anunciadas.

            Nem é preciso dizer, a esta altura, que tanto os pregadores quanto os catequistas devem ser, em primeiro lugar, discípulos do Homem de Nazaré. Somente assim, no seguimento de Jesus, é que podem transmitir seu relacionamento com Deus e com o semelhante. Conhecendo, se estabelecem novas relações. Estas relações são compartilhadas.

            Concluindo, podemos dizer que “Deus encontramos em nossa própria humanidade”. Quer dizer, lá onde podemos nós nos relacionar; e, da mesma forma, o próximo encontramos igualmente em nossa humanidade. Do jeito como somos.

Pe. Mário Fernando Glaab.

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