A
IMPORTÂNCIA DOS SACRAMENTOS NA CONSTRUÇÃO DA IGREJA?
Talvez alguém possa imaginar que a Igreja se constrói
fundamentalmente sobre a observância dos mandamentos, tendo como base a
doutrina e a moral. Os sacramentos, nesse caso, ficariam mais como uma
complementação individual de santidade, a perfeição espiritual do indivíduo;
salvo a Ordem e o Matrimônio que se direcionam ao outro ou aos outros. Não é
bem assim, pois, rompendo esse reducionismo, percebe-se íntima relação de todos
os sacramentos com a Igreja.
Antes, no entanto, de entrar na questão propriamente
dita, devemos lembrar que o ser humano foi criado para a comunhão com Deus.
Esta comunhão acontece quando o ser humano acolhe na comunidade a presença de
Deus. Como a distância entre o infinito de Deus e o ser humano finito é abissal
a relação entre os dois será por mediação. Mediação esta que na Igreja se
atualiza em ritos, chamados sinais sacramentais.
Os
sacramentos relacionam as pessoas com a Igreja
Partindo-se da ideia de que a Igreja como sinal de
salvação deve levar a todos o anúncio salvífico de Cristo, é fácil entender que
em cada sacramento ela o proclama a cada pessoa, seja individual seja
coletivamente. Assim é permitido imaginar os sacramentos como realizações, e
até autorrealizações, de Igreja. Quando alguém é batizado ele se relaciona
indissoluvelmente com Cristo, mas da mesma forma ele também estabelece relação
estável com o corpo eclesial, é incorporado na comunidade de fé. Ao ser
crismado, recebe o dom do Espírito Santo – enviado pelo Pai e pelo Filho -, mas
é em nome da Igreja que ele vai viver sua missão testemunhal, ser fermento na
massa, sal e luz que temperam a vida no mundo, conforme Cristo. Ao comungar eucaristicamente
recebe o corpo de Cristo e se une ao amor infinito de Deus, mas comunga no
mesmo pão que os irmãos comem. Portanto, sua relação eclesial é sinalizada e
reforçada. Não é lícito comer desse Pão quando não se está em comunhão com a
comunidade. Ao ser absolvido o pecador é acolhido nos braços misericordiosos do
Pai, mas é igualmente reconciliado na e com a Igreja. Quando um doente é ungido
Cristo se faz presente aliviando-lhe os sofrimentos e despertando nele a esperança;
mas através do ministro a Igreja se compromete no cuidado diaconal. O ordenado,
além da graça sacerdotal que o configura a Cristo-cabeça, está diretamente a
serviço do povo de Deus. E o Matrimônio, ao unir marido e mulher em Cristo,
dá-lhes a graça e a missão de se santificarem mutuamente, enriquecendo esta
missão na extensão familiar para os filhos e demais membros.
Os
sacramentos relacionam a Igreja com as pessoas
Cada vez que alguém se aproxima de um sacramento a Igreja
é construída. Os sacramentos constroem a Igreja ao engajar indivíduos no
serviço da salvação desta. O Concílio Vaticano II ensinou que a Igreja é
sacramento ou sinal universal de salvação (LG 48), quando então a pessoa
individualmente se faz sinal desta salvação, ela contribui na missão de toda a
Igreja. Neste sentido, ninguém recebe os sacramentos apenas para si, mas os
recebe para a Igreja; melhor ainda, a Igreja os recebe em seus membros. O fiel
recebe os sacramentos primordialmente para poder ser sinal na Igreja que é
sinal universal.
Por meio dos sacramentos a Igreja se relaciona com a
pessoa. Ela lhe dá a graça de Cristo que possui em seu meio. Insere o indivíduo
no seu convívio de comunhão. A relação é de acolhida e de envio. Assim como
Cristo acolhe as pessoas para estarem com ele, fazerem a experiência da
intimidade com Deus, depois os envia para o mundo com a missão de fazer novos
discípulos; assim também a Igreja introduz seus filhos na comunidade de fé e de
amor para daí, mandá-los à missão. Quão importantes são os sacramentos no
relacionamento eclesial!
A
comunhão eclesial
Quanto mais os indivíduos se abrem para a promessa e o
desafio dos sacramentos, tanto mais a Igreja se constrói, pois é na comunhão
eclesial que ela se realiza. Pode-se dizer que é nos indivíduos que acontece a
salvação de Deus por meio dos sacramentos, mas isso supõe o sacramento da
comunhão eclesial. Cada indivíduo que na fé recebe os sacramentos dá sua
resposta à Igreja e se coloca à sua disposição no discipulado pessoal em prol
do serviço da salvação. É o lugar do indivíduo na Igreja onde assume a missão
dela.
Todo rito, estabelecido pela Igreja, cria o acontecimento
celebrativo, o agir da Igreja, e esse se constitui a forma da qual Deus faz uso
para conceder sua graça ao indivíduo. Na comunhão eclesial, então, existe a
íntima relação entre o agir divino e o humano, e não podem ser separados. Deus
age no agir da Igreja. Afinal, é a Igreja que recebeu de Jesus Cristo a missão
de batizar, de fazer memória da Ceia...
A comunhão eclesial é expressa privilegiadamente na
liturgia dos sacramentos ao ponto de se dizer que os sacramentos são liturgia.
Os sacramentos estão inseridos na oração da comunidade que celebra a tal ponto
de não ser possível isolar aquele que recebe daquele que distribui: indivíduo e
Igreja. A íntima comunhão produz graça para toda a Igreja, não somente para a
pessoa.
Conclusão
Não resta dúvida: os sacramentos são de extrema
importância para a construção e a realização da Igreja. A Igreja, na sua missão
de continuar na história a ação de Jesus Cristo, convoca e reúne constantemente
as pessoas para levá-las ao encontro salvífico com Deus. Esse encontro com
Deus, proporcionado por Jesus Cristo e atualizado na Igreja, tem sentido quando
atinge seu alvo: a salvação do ser humano, individual e comunitariamente.
Os sacramentos da Igreja oferecem ao ser humano esta
possibilidade doe encontro com Deus; colocam-se como mediadores entre os dois,
o Deus infinito e o ser finito. São como que a “proteção” que encobre a
pequenez do humano finito. A comunicação entre humanos e Deus sempre depende de
mediação. Esta necessariamente deve ser histórica e concreta para atingir o
homem terreno. Torna-se isso possível por meio de palavras, figuras e
simbolizações, que são as palavras, as figuras e simbolizações ditas pela
Igreja em seus sacramentos aceitos eficazmente na fé dela e de cada pessoa que
os recebe.
Pe. Mário
Fernando Glaab