sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sacramentos

A IMPORTÂNCIA DOS SACRAMENTOS NA CONSTRUÇÃO DA IGREJA?

            Talvez alguém possa imaginar que a Igreja se constrói fundamentalmente sobre a observância dos mandamentos, tendo como base a doutrina e a moral. Os sacramentos, nesse caso, ficariam mais como uma complementação individual de santidade, a perfeição espiritual do indivíduo; salvo a Ordem e o Matrimônio que se direcionam ao outro ou aos outros. Não é bem assim, pois, rompendo esse reducionismo, percebe-se íntima relação de todos os sacramentos com a Igreja.
            Antes, no entanto, de entrar na questão propriamente dita, devemos lembrar que o ser humano foi criado para a comunhão com Deus. Esta comunhão acontece quando o ser humano acolhe na comunidade a presença de Deus. Como a distância entre o infinito de Deus e o ser humano finito é abissal a relação entre os dois será por mediação. Mediação esta que na Igreja se atualiza em ritos, chamados sinais sacramentais.

Os sacramentos relacionam as pessoas com a Igreja
            Partindo-se da ideia de que a Igreja como sinal de salvação deve levar a todos o anúncio salvífico de Cristo, é fácil entender que em cada sacramento ela o proclama a cada pessoa, seja individual seja coletivamente. Assim é permitido imaginar os sacramentos como realizações, e até autorrealizações, de Igreja. Quando alguém é batizado ele se relaciona indissoluvelmente com Cristo, mas da mesma forma ele também estabelece relação estável com o corpo eclesial, é incorporado na comunidade de fé. Ao ser crismado, recebe o dom do Espírito Santo – enviado pelo Pai e pelo Filho -, mas é em nome da Igreja que ele vai viver sua missão testemunhal, ser fermento na massa, sal e luz que temperam a vida no mundo, conforme Cristo. Ao comungar eucaristicamente recebe o corpo de Cristo e se une ao amor infinito de Deus, mas comunga no mesmo pão que os irmãos comem. Portanto, sua relação eclesial é sinalizada e reforçada. Não é lícito comer desse Pão quando não se está em comunhão com a comunidade. Ao ser absolvido o pecador é acolhido nos braços misericordiosos do Pai, mas é igualmente reconciliado na e com a Igreja. Quando um doente é ungido Cristo se faz presente aliviando-lhe os sofrimentos e despertando nele a esperança; mas através do ministro a Igreja se compromete no cuidado diaconal. O ordenado, além da graça sacerdotal que o configura a Cristo-cabeça, está diretamente a serviço do povo de Deus. E o Matrimônio, ao unir marido e mulher em Cristo, dá-lhes a graça e a missão de se santificarem mutuamente, enriquecendo esta missão na extensão familiar para os filhos e demais membros.

Os sacramentos relacionam a Igreja com as pessoas
            Cada vez que alguém se aproxima de um sacramento a Igreja é construída. Os sacramentos constroem a Igreja ao engajar indivíduos no serviço da salvação desta. O Concílio Vaticano II ensinou que a Igreja é sacramento ou sinal universal de salvação (LG 48), quando então a pessoa individualmente se faz sinal desta salvação, ela contribui na missão de toda a Igreja. Neste sentido, ninguém recebe os sacramentos apenas para si, mas os recebe para a Igreja; melhor ainda, a Igreja os recebe em seus membros. O fiel recebe os sacramentos primordialmente para poder ser sinal na Igreja que é sinal universal.
            Por meio dos sacramentos a Igreja se relaciona com a pessoa. Ela lhe dá a graça de Cristo que possui em seu meio. Insere o indivíduo no seu convívio de comunhão. A relação é de acolhida e de envio. Assim como Cristo acolhe as pessoas para estarem com ele, fazerem a experiência da intimidade com Deus, depois os envia para o mundo com a missão de fazer novos discípulos; assim também a Igreja introduz seus filhos na comunidade de fé e de amor para daí, mandá-los à missão. Quão importantes são os sacramentos no relacionamento eclesial!

A comunhão eclesial
            Quanto mais os indivíduos se abrem para a promessa e o desafio dos sacramentos, tanto mais a Igreja se constrói, pois é na comunhão eclesial que ela se realiza. Pode-se dizer que é nos indivíduos que acontece a salvação de Deus por meio dos sacramentos, mas isso supõe o sacramento da comunhão eclesial. Cada indivíduo que na fé recebe os sacramentos dá sua resposta à Igreja e se coloca à sua disposição no discipulado pessoal em prol do serviço da salvação. É o lugar do indivíduo na Igreja onde assume a missão dela.
            Todo rito, estabelecido pela Igreja, cria o acontecimento celebrativo, o agir da Igreja, e esse se constitui a forma da qual Deus faz uso para conceder sua graça ao indivíduo. Na comunhão eclesial, então, existe a íntima relação entre o agir divino e o humano, e não podem ser separados. Deus age no agir da Igreja. Afinal, é a Igreja que recebeu de Jesus Cristo a missão de batizar, de fazer memória da Ceia...
            A comunhão eclesial é expressa privilegiadamente na liturgia dos sacramentos ao ponto de se dizer que os sacramentos são liturgia. Os sacramentos estão inseridos na oração da comunidade que celebra a tal ponto de não ser possível isolar aquele que recebe daquele que distribui: indivíduo e Igreja. A íntima comunhão produz graça para toda a Igreja, não somente para a pessoa.

Conclusão
            Não resta dúvida: os sacramentos são de extrema importância para a construção e a realização da Igreja. A Igreja, na sua missão de continuar na história a ação de Jesus Cristo, convoca e reúne constantemente as pessoas para levá-las ao encontro salvífico com Deus. Esse encontro com Deus, proporcionado por Jesus Cristo e atualizado na Igreja, tem sentido quando atinge seu alvo: a salvação do ser humano, individual e comunitariamente.
            Os sacramentos da Igreja oferecem ao ser humano esta possibilidade doe encontro com Deus; colocam-se como mediadores entre os dois, o Deus infinito e o ser finito. São como que a “proteção” que encobre a pequenez do humano finito. A comunicação entre humanos e Deus sempre depende de mediação. Esta necessariamente deve ser histórica e concreta para atingir o homem terreno. Torna-se isso possível por meio de palavras, figuras e simbolizações, que são as palavras, as figuras e simbolizações ditas pela Igreja em seus sacramentos aceitos eficazmente na fé dela e de cada pessoa que os recebe.


Pe. Mário Fernando Glaab

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