quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dízimo e evangelização

COMUNIDADE: PARTILHAR PARA EVANGELIZAR

            A comunidade cristã tem consciência que a alma que a une e os membros entre si é sempre o Espírito do Amor. Ela sabe que foi convocada por Cristo para constituir o Povo de Deus no mundo onde se encontra, e para tal conta com a presença sempre renovadora desse Espírito que a consolida.
            A partir da consciência de ter origem e fim próprios – Deus mesmo -, a comunidade cristã experiencia e leva adiante esta convicção de fé. Em outras palavras: é evangelizada e evangeliza. Sente cada vez mais alegria em viver da presença de Deus que a sustém e, como não consegue guardar este tesouro somente para si, faz tudo para compartilhá-lo com o mundo que a circunda. Dentro dessa visão é que se coloca a partilha na comunidade cristã, seja ela oferta, dízimo ou qualquer outra forma de colaboração. Não pode existir entre comunidade e membros relação comercial. Numa comunidade cristã não tem venda e compra; não existem preços, descontos e promoções que possam ser aproveitados! Isso vai contra o espírito de gratuidade, pois na comunidade cristã, o mais pobre vale tanto quanto o mais rico, pois não são os bens que determinam a importância e a pertença.
            Uma comunidade cristã somente existe quando a vida é compartilhada entre todos. Os bens materiais são necessários, mas eles partilhados, para que todos tenham vida, e vida em abundância. Partilhar os bens materiais é sempre um meio para adquirir algo maior, nunca um fim em si.

É preciso ensinar
            Nenhuma comunidade pode subsistir se não busca sua auto-instrução. Necessita sempre levar aos seus membros possibilidades de se atualizarem no conhecimento teórico e prático. Verdadeiros mecanismos de ensino, conforme o tamanho da comunidade, seja ela uma paróquia, somente uma capela ou comunidade de bairro, devem ser constituídos. Mas para que isso aconteça, a instituição precisa de sustentação. Donde lhe vem ela? Da colaboração de seus membros, que livres e generosos doam, ou melhor, compartilham daquilo que sabem ter recebido de Deus; e que agora colocam como suporte para que a comunidade possa ser catequizadora.
            Os catequistas precisam das mínimas condições para bem desenvolver seu trabalho. Isso nas comunidades cristãs de nossos dias implica em ter salas equipadas, material – livros, cartazes, computadores etc. -, cursos de formação e de atualização, e muito mais. É a dimensão religiosa das ofertas e dos dízimos dos fiéis para que a comunidade, por meio dos catequistas possa atender às palavras de Jesus: “Ide e anunciai o Evangelho a todas as pessoas”.
É preciso servir
            A comunidade cristã, como toda a Igreja, a partir da experiência do Evangelho, sabe que é preciso servir, não somente aos seus membros, mas a toda a sociedade. Isso implica em se dispor a trabalhar para que os valores cristãos sejam sempre apresentados e respeitados entre as pessoas. A comunidade, no entanto, não pode prestar um verdadeiro serviço à sociedade se nem ela tem o necessário para seu sustento. Sendo assim, ela necessita ter, além da boa vontade de seus membros, bens que possam ser usados para socorrer os mais necessitados, os pobres da sociedade.
            A dimensão social do dízimo e das ofertas é justamente para isso. Não se justifica a comunidade dizer que seus membros também são pobres e por isso deixar ou excluir as dores e carências dos demais. O dízimo e as ofertas impulsionarão o trabalho da comunidade. Dão a ela o sabor para ser sal da terra, não apenas com palavras, mas com ações que aliviem os sofrimentos das pessoas.

Participação comunitária no trabalho missionário
            Como toda a Igreja, também as comunidades cristãs são missionárias. Ser responsável por esta dimensão não quer dizer que cada membro tenha que sair de sua família e de sua comunidade para levar o Evangelho a outros cantos da terra, mas ajudar no que for preciso para que a Boa Nova de Cristo seja compartilhada sempre mais. Alguns têm mais jeito para isso, outros para aquilo. A grande maioria não pode deixar suas atividades para ser missionária, no sentido estrito, mas pode ajudar com suas orações, seu exemplo de vida, e ainda, compartilhando seus bens. Aí entra em cheio a oferta na comunidade e o dízimo. Pois, além de cada cristão se sentir inserido no trabalho próprio da Igreja de testemunhar e anunciar Cristo e seu Evangelho, ele dá do que tem para que ações concretas se desenvolvam entre os humanos dos mais diversos lugares e situações.
            Trabalhar pelas missões individualmente pode ser bom, mas comunitariamente é muito melhor. É na comunidade que o Espírito se deixa experimentar e se difunde com mais leveza.

Formação contínua
            Como cada indivíduo precisa de formação contínua, também a comunidade o necessita. O tema sobre as ofertas e o dízimo precisa sempre de novas abordagens. Quando se acha que está tudo bem, começa-se a regredir. Partilhar exige esforço contra a tendência inata de guardar egoisticamente. Os vícios da ganância e do apego só podem ser vencidos com muita reflexão, oração e exercícios de caridade. Quem não sabe parar para refletir sobre o sentido das coisas, para agradecer o que tem, e para compartilhar, nunca saberá ofertar generosamente, nem menos dar o seu dízimo na comunidade.

Basicamente:
1.      Qualquer iniciativa em paróquias, capelas ou comunidades pequenas que tem como finalidade conscientizar sobre a importância e necessidade das ofertas e dízimos dos fiéis, deve partir da vivência profunda da fé e da comunhão que une os membros da mesma. Caso isso ainda não exista, deve-se primeiramente investir nesta questão; somente num segundo momento se passa para o tema em questão.

2.      Parte dos recursos adquiridos por uma comunidade cristã deve ser revertida para sua própria formação, assim como dar condições aos novos catequistas e aos veteranos, para se aprofundar nos conhecimentos de sua fé e de sua missão.

3.      A comunidade deve se sentir desafiada a servir sempre e em todas as circunstâncias, mas concretamente lá onde se situa. Para que isso seja possível, os contribuintes devem estar cientes sobre o que será feito com sua oferta e com o seu dízimo.

4.      A comunidade cristã é missionária, mas isso somente acontece quando todos, cada um dentro de suas reais possibilidades, sabem disso e se dispõem a colaborar; uns indo ao “corpo a corpo”, outros contribuindo com seus dons na evangelização.

5.      A formação contínua de uma comunidade depende de avaliações, de reflexões, de oração, mas principalmente do exercício da caridade, levado a sério, sempre de novo.


Pe. Mário Fernando Glaab

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