PASTORAL
ATUALIZADA
A Igreja, em todos os tempos de sua existência pelos
séculos afora, sempre teve consciência de que, a partir do ordem de Jesus de
levar a Boa Nova a todas as criaturas, sua missão é pastorear, isto é,
trabalhar pastoralmente, ou fazer pastoral. Sem dúvida, conforme as épocas e as
diversas circunstâncias, esta tarefa teve mais ou menos importância; mais ou
menos intensidade, contudo, nunca deixou de estar presente nas atividades
evangelizadoras da Igreja. Dito isso, voltemo-nos para a questão que se coloca
diante de nós hoje: como a Igreja deve atuar em nossos dias para que a sua
atividade pastoral responda aos anseios e necessidades do mundo hodierno? Ela
responde às perguntas que o nosso povo faz hoje? Responde a esta gente que vive
em situações cada vez mais desafiadoras e complexas; ou pretende responder às
questões que ninguém mais coloca, sempre do mesmo jeito como respondia no
passado?
Muito se discutiu sobre isso. Muitas contribuições de
especialistas estão ao dispor de quem busca por análises, aliás, o Magistério
da Igreja continuamente produz orientações a nível mundial, nacional, regional
e até nas dioceses e nas paróquias. Porém, isso não dispensa a preocupação de
cada um no sentido de se atualizar e colaborar na busca dos melhores
instrumentos para uma pastoral eficiente e adaptada à realidade das pessoas de
nossas comunidades concretas, aos seus anseios e desafios. Assim, não
pretendemos apontar para soluções acabadas – seria muita pretensão! -, mas
apenas contribuir com algumas reflexões e sugestões.
Mundo
agitado
Usemos a imaginação: se um pároco que viveu há cem anos
atrás em uma paróquia do interior de nosso vasto país chegasse hoje para
continuar o seu trabalho no mesmo lugar, como seria? Pobre coitado! Independentemente
das suas qualidades intelectuais e morais; até mesmo se tivesse sido um santo,
ele não se adaptaria mais, de forma alguma, à sua paróquia que, por força das
muitas mudanças na sociedade, já há bastante tempo não é a mesma. Ou ele precisaria
passar por uma longa transformação – com certeza impossível -, ou não faria
mais nada; e provavelmente impediria qualquer avanço da paróquia.
A paróquia pacata e centrada no padre já não existe mais.
A situação está toda mudada. A porcentagem de fiéis que são totalmente alheios
à Igreja aumentou assustadoramente; os que “fiéis oportunos” – que aparecem lá
de vez em vez quando têm uma criança para batizar, um casamento ou exéquias -,
são um desafio constante; e, os que podem ser considerados paroquianos verdadeiros
subdividem-se em muitos grupos. Alguns superativos, envolvidos nas diversas
pastorais e movimentos; outros com estilo mais tranquilo, no entanto, bastante
críticos. O padre necessita estar presente em toda a paróquia e junto a todas
as atividades. Questões morais, das mais estranhas, fazem parte do cotidiano; e
os problemas administrativos não são esporádicos. Além de tudo isso, existem os
planos pastorais da Igreja a nível nacional, diretrizes e urgências. Roma não
deixa por menos: documentos pontifícios aparecem continuamente.
Isto é apenas um pouco do mundo agitado onde se encontram
as paróquias; mais nos grandes centros, talvez pouco menos nas pequenas
comunidades do interior; contudo, em toda parte os desafios são enormes. Aí o
pároco, com uma boa equipe, deve se lançar de corpo e alma à pastoral. Pastoral
atualizada e sempre em atualização.
Boa
pastoral não é sinônimo de sucesso
A mentalidade atual quer fazer crer que sucesso é o mesmo
que bom trabalho. Não é verdade. A longa experiência da Igreja convida a ir
mais a fundo na questão. Em se tratando do anúncio do Evangelho, o fiel há de
saber que a dedicação é importantíssima, mas não é tudo. Algumas vezes os
frutos não surgem onde se planta com grande esforço, mas aparecem onde menos se
espera, ou mesmo onde pouco se investiu. Depara-se aí na questão do mistério da
graça. Jesus falou sobre isso quando comparou o crescimento do Reino à semente
que é lançada na terra e que germina e cresce sem o agricultor saber como isto
acontece (cf. Mc 4,27).
Contudo, nem hoje nem no passado pode se dispensar a
dedicação dos pastores e agentes de pastoral. Até mesmo na parábola que Jesus
contou ele não esquece do semeador. O trabalho dedicado de quem semeia, prega
ou organiza as pastorais na comunidade é indispensável. Além de exigir muito
esforço, precisa ser feito de tal maneira que sempre esteja lá onde está o
interesse das pessoas, isto é, estar no lugar onde as pessoas procuram chegar.
Se nem toda boa pastoral leva a sucessos imediatos e visíveis; com certeza, os
sucessos pastorais que aparecem nas comunidades têm atrás de si muito trabalho
e pastorais bem planejadas e criativas.
Novos
meios de comunicação
A mensagem evangélica é sempre a mesma: Deus Salvador
entre nós. Mas o jeito de levar esta mensagem às pessoas de hoje não pode
continuar como era nos tempos passados. Já não se busca conhecer o Evangelho
somente em “sermões” ou em “aulas de catecismo”, mas os olhos e ouvidos das
pessoas estão nos modernos meios de comunicação. É difícil encontrar um jovem,
um adolescente e, mesmo uma pessoa adulta que nãos esteja conectada às redes
sociais, que não esteja com seu celular ao toque de sua mão. A televisão e a
internet estão em toda parte. E, em tom de brincadeira, podemos dizer que se
não quisermos que Deus seja expulso do lugar que lhe é próprio (em toda parte),
precisamos garantir-lhe seu posto em todos esses novos meios de comunicação,
caso contrário, eles o dispensam! A pastoral, para ser válida também hoje,
necessita inserir seu conteúdo evangélico em toda parte, aproveitando qualquer
brecha que encontrar nos meios de comunicação que todos usam.
Neste sentido é que se deve falar dos planos para a ação
pastoral. Estes planos nunca podem partir de especialistas somente. Devem, sim,
contar com profissionais pensantes que sabem olhar para a realidade; contar com
a experiência de líderes que caminham com as comunidades; que sentem as
alegrias e as tristezas, as angústias e os sucessos dos homens e das mulheres
nos desafios do dia-a-dia. A partir de tudo isso, iluminados pela fé que se
professa expressamente, mas igualmente pela fé que o povo muitas vezes não
consegue expressar, elaborar planos, projetos a formas novas de evangelizar.
Mais com o intento de ser Igreja-Sacramento-da-Misericórdia-de-Deus do que
Mestra que ensina; mais como serva que vai aprendendo e se moldando ao novos
desafios da vida e das comunidades que “Senhora Sábia” e que está acima de
qualquer problema.
Neste sentido, tanto gestores como agentes de pastoral
estão na mesma luta. Cada um no seu devido lugar, mas unidos pela mesma vontade
de ajudar na construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna; lugar onde
todos podem viver com dignidade, viver sua fé, sua esperança e sua caridade;
dando oportunidade para que Deus ocupe o seu lugar em toda parte. Este será um
projeto que passa do teórico para o prático, e que colabora verdadeiramente com
a implantação progressiva do Reino de Deus neste mundo, mesmo que o nosso mundo
não seja mais como ele era a cem anos atrás. O nosso mundo agitado também
precisa de Deus. Nós, como Igreja, temos nossa parte de responsabilidade neste
processo.
Pe. Mário Fernando Glaab
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