sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Novos tempos na pastoral

PASTORAL ATUALIZADA

            A Igreja, em todos os tempos de sua existência pelos séculos afora, sempre teve consciência de que, a partir do ordem de Jesus de levar a Boa Nova a todas as criaturas, sua missão é pastorear, isto é, trabalhar pastoralmente, ou fazer pastoral. Sem dúvida, conforme as épocas e as diversas circunstâncias, esta tarefa teve mais ou menos importância; mais ou menos intensidade, contudo, nunca deixou de estar presente nas atividades evangelizadoras da Igreja. Dito isso, voltemo-nos para a questão que se coloca diante de nós hoje: como a Igreja deve atuar em nossos dias para que a sua atividade pastoral responda aos anseios e necessidades do mundo hodierno? Ela responde às perguntas que o nosso povo faz hoje? Responde a esta gente que vive em situações cada vez mais desafiadoras e complexas; ou pretende responder às questões que ninguém mais coloca, sempre do mesmo jeito como respondia no passado?
            Muito se discutiu sobre isso. Muitas contribuições de especialistas estão ao dispor de quem busca por análises, aliás, o Magistério da Igreja continuamente produz orientações a nível mundial, nacional, regional e até nas dioceses e nas paróquias. Porém, isso não dispensa a preocupação de cada um no sentido de se atualizar e colaborar na busca dos melhores instrumentos para uma pastoral eficiente e adaptada à realidade das pessoas de nossas comunidades concretas, aos seus anseios e desafios. Assim, não pretendemos apontar para soluções acabadas – seria muita pretensão! -, mas apenas contribuir com algumas reflexões e sugestões.

Mundo agitado
            Usemos a imaginação: se um pároco que viveu há cem anos atrás em uma paróquia do interior de nosso vasto país chegasse hoje para continuar o seu trabalho no mesmo lugar, como seria? Pobre coitado! Independentemente das suas qualidades intelectuais e morais; até mesmo se tivesse sido um santo, ele não se adaptaria mais, de forma alguma, à sua paróquia que, por força das muitas mudanças na sociedade, já há bastante tempo não é a mesma. Ou ele precisaria passar por uma longa transformação – com certeza impossível -, ou não faria mais nada; e provavelmente impediria qualquer avanço da paróquia.
            A paróquia pacata e centrada no padre já não existe mais. A situação está toda mudada. A porcentagem de fiéis que são totalmente alheios à Igreja aumentou assustadoramente; os que “fiéis oportunos” – que aparecem lá de vez em vez quando têm uma criança para batizar, um casamento ou exéquias -, são um desafio constante; e, os que podem ser considerados paroquianos verdadeiros subdividem-se em muitos grupos. Alguns superativos, envolvidos nas diversas pastorais e movimentos; outros com estilo mais tranquilo, no entanto, bastante críticos. O padre necessita estar presente em toda a paróquia e junto a todas as atividades. Questões morais, das mais estranhas, fazem parte do cotidiano; e os problemas administrativos não são esporádicos. Além de tudo isso, existem os planos pastorais da Igreja a nível nacional, diretrizes e urgências. Roma não deixa por menos: documentos pontifícios aparecem continuamente.
            Isto é apenas um pouco do mundo agitado onde se encontram as paróquias; mais nos grandes centros, talvez pouco menos nas pequenas comunidades do interior; contudo, em toda parte os desafios são enormes. Aí o pároco, com uma boa equipe, deve se lançar de corpo e alma à pastoral. Pastoral atualizada e sempre em atualização.

Boa pastoral não é sinônimo de sucesso
            A mentalidade atual quer fazer crer que sucesso é o mesmo que bom trabalho. Não é verdade. A longa experiência da Igreja convida a ir mais a fundo na questão. Em se tratando do anúncio do Evangelho, o fiel há de saber que a dedicação é importantíssima, mas não é tudo. Algumas vezes os frutos não surgem onde se planta com grande esforço, mas aparecem onde menos se espera, ou mesmo onde pouco se investiu. Depara-se aí na questão do mistério da graça. Jesus falou sobre isso quando comparou o crescimento do Reino à semente que é lançada na terra e que germina e cresce sem o agricultor saber como isto acontece (cf. Mc 4,27).
            Contudo, nem hoje nem no passado pode se dispensar a dedicação dos pastores e agentes de pastoral. Até mesmo na parábola que Jesus contou ele não esquece do semeador. O trabalho dedicado de quem semeia, prega ou organiza as pastorais na comunidade é indispensável. Além de exigir muito esforço, precisa ser feito de tal maneira que sempre esteja lá onde está o interesse das pessoas, isto é, estar no lugar onde as pessoas procuram chegar. Se nem toda boa pastoral leva a sucessos imediatos e visíveis; com certeza, os sucessos pastorais que aparecem nas comunidades têm atrás de si muito trabalho e pastorais bem planejadas e criativas.

Novos meios de comunicação
            A mensagem evangélica é sempre a mesma: Deus Salvador entre nós. Mas o jeito de levar esta mensagem às pessoas de hoje não pode continuar como era nos tempos passados. Já não se busca conhecer o Evangelho somente em “sermões” ou em “aulas de catecismo”, mas os olhos e ouvidos das pessoas estão nos modernos meios de comunicação. É difícil encontrar um jovem, um adolescente e, mesmo uma pessoa adulta que nãos esteja conectada às redes sociais, que não esteja com seu celular ao toque de sua mão. A televisão e a internet estão em toda parte. E, em tom de brincadeira, podemos dizer que se não quisermos que Deus seja expulso do lugar que lhe é próprio (em toda parte), precisamos garantir-lhe seu posto em todos esses novos meios de comunicação, caso contrário, eles o dispensam! A pastoral, para ser válida também hoje, necessita inserir seu conteúdo evangélico em toda parte, aproveitando qualquer brecha que encontrar nos meios de comunicação que todos usam.
            Neste sentido é que se deve falar dos planos para a ação pastoral. Estes planos nunca podem partir de especialistas somente. Devem, sim, contar com profissionais pensantes que sabem olhar para a realidade; contar com a experiência de líderes que caminham com as comunidades; que sentem as alegrias e as tristezas, as angústias e os sucessos dos homens e das mulheres nos desafios do dia-a-dia. A partir de tudo isso, iluminados pela fé que se professa expressamente, mas igualmente pela fé que o povo muitas vezes não consegue expressar, elaborar planos, projetos a formas novas de evangelizar. Mais com o intento de ser Igreja-Sacramento-da-Misericórdia-de-Deus do que Mestra que ensina; mais como serva que vai aprendendo e se moldando ao novos desafios da vida e das comunidades que “Senhora Sábia” e que está acima de qualquer problema.
            Neste sentido, tanto gestores como agentes de pastoral estão na mesma luta. Cada um no seu devido lugar, mas unidos pela mesma vontade de ajudar na construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna; lugar onde todos podem viver com dignidade, viver sua fé, sua esperança e sua caridade; dando oportunidade para que Deus ocupe o seu lugar em toda parte. Este será um projeto que passa do teórico para o prático, e que colabora verdadeiramente com a implantação progressiva do Reino de Deus neste mundo, mesmo que o nosso mundo não seja mais como ele era a cem anos atrás. O nosso mundo agitado também precisa de Deus. Nós, como Igreja, temos nossa parte de responsabilidade neste processo.
Pe. Mário Fernando Glaab


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