CRIADOS
POR AMOR E PARA O AMOR
O ser humano sempre fez, faz e fará perguntas sobre sua
própria existência. Donde venho, para onde vou? Por que estou aqui? Qual é o
sentido de minha vida? E coisas assim. Muitas respostas foram dadas; tentativas
das mais diversas, provenientes de sábios, de religiosos, das religiões e das
culturas de todos os tempos. Aliás, as religiões se propõem a “religar” o ser
humano à sua verdade originária, dar-lhe as condições para “retornar” ao seu
início onde se compreende também finalidade última de toda a existência.
Resposta
judeo-cristã
Sem criticar as muitas soluções ou caminhos encontrados
pelas mais diversas tradições religiosas, culturais e buscas filosóficas;
queremos nos ater ao que a fé de Israel e, depois, a fé cristã nos propõem.
A característica da fé de Israel (Antigo Testamento) é de
que Deus mesmo toma a iniciativa de vir ao encontro do ser humano para lhe
“dizer” algo sobre o seu sentido mais profundo. Com isso não se pretende
afirmar que os “inspirados líderes” do povo não buscassem ansiosamente o
contato com Deus. Certamente eles, junto com o povo que acreditava e procurava
viver sua fé, criaram as condições favoráveis para que Deus “pudesse” vir ao
seu encontro, dizendo-lhes algo sobre si mesmo e sobre o sentido da vida e
existência humanas.
A este processo que veio para falar chamamos de
Revelação. Deus, que por livre iniciativa, se apresenta na história deste povo
que o busca, e lhe mostra sua vontade para ele. Contudo, não é tão simples
assim. Para que o ser humano – concretamente, aquele povo -, pudesse acolher e
crer no que lhe estava sendo revelado, tudo aconteceu no caminhar da história:
Deus – Javé, como o chamavam – veio em socorro desse povo sofrido, ajudando-o a
se libertar da escravidão para a vida como povo. Ele se mostrou como aquele que
quer estabelecer uma aliança com um povo livre. Ele sendo o Senhor e o povo
sendo seu povo livre que pudesse viver.
Tudo isso desembocou no conceito de criação. Assim como
Deus constituiu (criou) um povo para poder existir e viver na liberdade, também
criou o homem e tudo o que existe para a liberdade. Esta fé na criação foi
assumida igualmente pelos cristãos. Mas, para que criou Deus todas as coisas?
Criados
e escolhidos, escolhidos e criados
A fé judaica foi aprofundada à luz de Jesus Cristo. Hoje,
quando falamos da fé bíblica na criação, entendemos os dois testamentos, o
Antigo e o Novo.
A fé bíblica nos ensina que nós, e conosco todas as
criaturas, existimos porque Deus é amor. Ele nos cria e escolhe para o amor; ou
também podemos afirmar que nos escolhe por amor e, em consequência, nos cria.
Todas as criaturas são fruto do amor criador de Deus, mas somente nós, os
humanos, pela consciência sabemos disso e, damos nossa adesão de fé,
comprometendo-nos a corresponder livremente ao amor criador de Deus. Portanto,
Deus cria para se revelar, revela-se para amar e deixar-se amar e, assim,
compartilhar vida. Mesmo que o ser humano seja infiel aos planos de seu
Criador, este não se deixa vencer pela desobediência do pecador. Oferece-lhe
redenção e promessa de vida em plenitude. Convida o ser humano a já, aqui e
agora, fazer a experiência desta vida, deixando-se envolver no mistério do amor
verdadeiro que é o amor de Deus em nós: o Espírito derramado em nossos
corações.
Não é possível, então, separar as questões da criação, da
redenção e da plenitude. O amor de Deus é a causa última de tudo. E, uma que
este amor quer se compartilhar, escolhe, cria, redime e salva. Quanto mais o
ser humano responde positivamente com amor à escolha, à criação, à redenção e à
salvação, tanto mais se realiza e se aproxima da plenitude de Deus que é vida
sem fim.
Tudo
é graça
Se tudo parte e vai para o amor de Deus criador, redentor
e salvador, pode-se dizer que tudo é graça. Mas, como poderemos ser gratos a
Deus por tudo que ele fez e faz por nós? Viver com alegria!
A fé não admite tristeza, pois ela coloca a criatura
diante do Criador que a ama. Este amor do Criador lhe basta. Esta é a
realização mais profunda do homem; a alegria que vem de Deus. A alegria da fé
transforma tudo. Tudo será valorizado e tudo terá sentido. Cada criatura
ocupará o seu lugar, e nenhuma será negada, desprezada ou matada. Cada ser
humano será convidado à festa da alegria, onde não haverá mais choro, tristeza
ou dor.
Só a gratidão das pessoas felizes pode dizer: “Tudo é
graça”; porque acolhem-na para compartilhá-la.
Alguém vai dizer que no mundo existem também as sombras,
as trevas, a dor e a morte. É verdade! Mas tudo isso não vem da luz (graça),
mas dos obstáculos postos à luz. Sejamos gratos a Deus, ao semelhante, e a
todas as criaturas; e, na alegria testemunhemos o amor sem medidas de nosso
Deus, ajudando na tarefa de tirar tudo o que obstrui o livre caminho para
todos, unindo-nos à festa da vida. Deus, em Jesus, venceu as trevas, o mal e a
morte: alegrai-vos!
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab,blogspot.com.br
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