OBEDECER
E CRER
Ser obediente não é mesma coisa do que ter fé. Nem todo
aquele que obedece crê; mas todo aquele que verdadeiramente acredita, confia e
obedece. A obediência é um passo em direção da fé, mas a fé é muito maior do
que a obediência. Esta última é apenas caminho que nem sempre leva para o nível
superior da fé.
Maria
é obediente na fé
Contemplando a atitude de Maria, a Mãe de Jesus, diante
do anúncio de que seria mãe, constata-se que ela é obediente, mas muito mais,
ela crê além de todas as razões para obedecer. Obedecer, neste caso, é escutar,
crer é consentir. Ela é obediente ao convite de Deus porque escuta, mas
consente com o seu sim porque acredita na fidelidade de quem se revela. Maria,
justamente por não entender, vai além do simples escutar e se submete
totalmente às palavras do Anjo num ato de fé que abdica do agir e, deixa assim
lugar para que Deus atue totalmente nela.
Se Maria ficasse somente na escuta ela perguntaria “o que
devo fazer?”, mas nunca chegaria ao “eis aqui a serva do Senhor”. Esta última é
a resposta de quem se submete na fé sem medir consequências. Abre-se ao puro
dom de Deus. Assim, no mistério de Encarnação, não há nenhuma ação humana, mas
somente abertura para a ação de Deus. “E o Verbo se fez carne e veio morar entre
nós” (Jo 1,14). É, na verdade, a liberdade sem mistura de constrangimento e de
temor. Deus, por meio do Anjo, ajuda o ato de fé incondicional de Maria ao lhe
dizer: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás
em teu seio e darás à luz um filho” (Lc 3,30-31). A maravilha da concepção
virginal é a resposta de Deus à fé de Maria, que crê em nome de toda a
humanidade.
Escravos
da lei, livres pela fé
Não são poucos os cristãos que levam sua vida na
escravidão da lei. Eles veem sua religião como um amontoado de leis que
precisam ser observadas para não merecer o castigo e alcançar alguma
recompensa. O cristianismo, como doutrina, possui seus mandamentos, sim. Quem
os observa tem a segurança da lei. Mas a lei não deixa de ser uma imposição,
que justamente por isso, dá o ensejo de se livrar dela. Submeter-se é preciso,
porém a tentação de escapar por alguma interpretação favorável está sempre aí.
Cria-se toda uma mentalidade legalista; imagina-se o peso do descumprimento e
da obediência dos mandamentos. Tudo será colocado na balança. Conforme, para
onde pende a balança, haverá castigos ou méritos.
Esta visão, por mais justo que alguém pretende ser,
provoca angústia e desconfiança. Ninguém pode se considerar totalmente puro,
pois todos estão sujeitos ao erro. Em consequência Deus deixa de ser um Pai e
se torna um carrasco. A expressão “cólera de Deus” não está totalmente no
passado. Aliás, alguns pregadores usam de ameaças e da figura de Deus zangado,
para forçar a “conversão” dos adeptos. Isto, na verdade, é forçar a situação.
Não está baseado na lei do amor, ou melhor, não tem nada do amor de Deus, nem
do amor dos irmãos. É tortura espiritual.
Contudo, a fé em Jesus Cristo, quando é bem formada, leva
ao consentimento de seu mandamento. O mandamento de Jesus é o amor. Não se pode
experimentá-lo a não ser na liberdade gratuita. E isto somente se consegue com
a fé de que tudo o que Ele ensinou com palavras e obras é verdadeiro. A
convicção da verdade leva ao consentimento: “eu quero”. Torna-se opção livre e
responsável, mas, justamente por isso, não se prende às questões do castigo e
do mérito. Quem crê sabe abandonar-se no amor de Deus. Deixa que Ele – assim
como Maria fez – conduza a história de sua vida, produzindo frutos, não para
“vendê-los” mas para distribui-los como dons da graça aceitos na fé.
Se a submissão à lei provoca angústia, a opção de fé
produz a alegria da doação livre e generosa.
Que Maria, a pobre serva do Senhor, com sua intercessão e
com sua maneira de crer, ajude a todos nós para sermos cristãos de fato, não
apenas de fachada, observantes de algumas leis.
Pe. Mário
Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br
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