A
COMUNIDADE DE FÉ SE SUSTENTA COM O DÍZIMO
A Igreja Cristã, desde os primórdios, tem consciência de
que é uma comunidade: a comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, reunidos
pelo Espírito Santo para viver no amor ensinado e vivido pelo mesmo Jesus. A
comunidade é fruto da Boa Nova e é, ao mesmo tempo, o lugar próprio da vivência
e do impulso missionário para que o Anúncio se espalhe por todo o mundo. É a
comunidade de fé e de amor o início e o fim de toda a ação evangelizadora da
Igreja de Jesus Cristo.
A
manutenção da comunidade
A comunidade cristã se mantém pela fé em Jesus, vivo e
Ressuscitado, e pelo amor vivido concretamente no cotidiano, nas relações entre
seus membros e nas relações com o mundo. Ela não é do mundo, mas está no mundo.
Relaciona-se com tudo o que tem no mundo. Nesse sentido, ela não está imune a
todas as implicâncias que o mundo tem na vida das pessoas. Também ela necessita
se organizar e se sustentar, como qualquer outra organização. Aí vêm os
desafios próprios dessa realidade, junto ao mundo que a circunda, para, como
outras entidades, se manter coesa e unida.
Não só de pão vive o homem, mas também ele é necessário.
O pão é uma necessidade indispensável. Ninguém pode sobreviver sem pão. Sendo
assim, a comunidade cristã não pode deixar de se preocupar com esta dimensão, a
sua manutenção. Como fazer para que o sustento seja garantido?
A partir da tradição judaica, a comunidade cristã
entendeu que o dízimo é bíblico. Não é mera invenção humana, mas vem da própria
Revelação. Conforme as diferentes situações históricas, a Igreja foi se
adaptando aos costumes dos povos que se convertiam ao cristianismo, porém nunca
deixou de se preocupar com o pão material para seu sustento. Mesmo chamando de
modos diversos, a manutenção sempre foi vista como um meio para que a Igreja
pudesse ser evangelizadora. Disso se pode concluir que:
1.
O fim sempre é a comunidade
evangelizadora, seja ela oferta, dízimo, taxa, etc. Nenhuma campanha financeira
empreendida pela comunidade cristã se justifica se não tiver como fim o bom
funcionamento da evangelização. O dízimo nunca se justifica a si próprio. Uma
comunidade que acumula bens sem investi-los na evangelização, perde seu sentido
e sua identidade cristã.
2.
Desta forma os bens que os fiéis
oferecem para a manutenção da comunidade adquirem um sentido que vai além do
imediato. Eles contém em si uma participação evangelizadora. É um pouco daquilo
que cada fiel faz para que o Anúncio do Reino siga pelo mundo afora. É a
renúncia da fé que exige desapegar-se daquilo que é deste mundo em prol do
Reino de Deus. É renúncia, mas renúncia livre e alegre.
3.
Neste sentido é eliminada toda barganha
com Deus. Não se dá o dízimo ou qualquer outra oferta como pagamento. Sabe-se
que é a comunidade que evangeliza, e não se compra a graça de Deus. A
comunidade experimenta e faz experimentar a bondade de Deus e, quem contribui
para a existência dela, este se abre para acolher o que o Deus de Bondade tem a
oferecer.
4.
A manutenção da comunidade de fé dá ao
contribuinte a oportunidade de participar, não somente pelo desejo, mas com
obras concretas. Ele se doa por completo, na dimensão espiritual e material.
5.
Quando assumido como dever sagrado, a
manutenção da comunidade educa e converte. Educa porque ensina a colocar os
bens no seu devido lugar, não deixá-los tomar conta do coração humano; converte
porque exige renúncia e sair de si. O egoísmo fecha o homem em si mesmo, mas a
generosidade o abre para novos caminhos. Seguir o caminho do Evangelho pede muita
generosidade.
Comunidade
em vista do Reino
Sendo tão importante para a pessoa de fé a participação e
o anúncio do Reino, não deve haver dúvida de que é necessário prover a
manutenção da comunidade para que ela possa cumprir a sua missão. Ela é o lugar
onde se experimenta e vive a realidade do Reino e é também o ponto de partida
para o trabalho missionário. Todo missionário tem atrás de si uma comunidade de
fé.
A Pastoral do Dízimo, que foi assumida pela Igreja no
Brasil, está preocupada com esta questão. Ela não visa arrecadar dinheiro por
dinheiro. Mas tem consciência de que as comunidades necessitam ter condições
para se sustentar. Uma vez sustentadas – mesmo pobres, mas com dignidade -,
elas têm o pão para o caminho que o anúncio do Reino percorre.
Ao se entender o que é comunidade cristã, não é mais
preciso insistir na quantidade da contribuição de cada fiel, pois sabe-se que
ela vive daquilo que lhe é colocada à disposição dos membros. Cada membro se
faz presente de corpo e alma, também com a sua ajuda financeira, para que tudo
funcione bem. Aqueles que dependem diretamente das comunidades para fazer seu
trabalho, não precisam esmolar, pois têm o respaldo de todos que colaboram
livres, conscientes e generosamente. Este é o ideal.
A comunidade cristã, que existe em vista do Reino e, que
conta com cada um de seus membros na sua tarefa de implantar o mesmo nas
realidades deste mundo, automaticamente valoriza e inclui a todos em seu seio.
O dizimista é abraçado e abençoado na comunidade. É lá que ele se realiza na
busca do Reino e na difusão dele.
Que cada cristão possa descobrir a importância da comunidade,
e, uma vez convencido disso, opte pelo dízimo, não como obrigação, mas como uma
oportunidade para ser membro em todos os sentidos. Que o Reino de Cristo,
inaugurado por Jesus, anunciado pela Igreja através dos séculos, esteja sempre
diante do dizimista e das pessoas que doam do que é seu com generosidade.
Conclusão
O fim do dízimo ou de qualquer oferta do povo de Deus não
é arrecadar dinheiro, mas sempre, dar suporte à comunidade. É porque Jesus
formou e mandou formar comunidade que se necessita dos bens que a mantém. A
comunidade cristã, por sua vez, existe para que os membros possam
“experimentar” o Reino. O fim último de tudo é o Reino. Mas como qualquer
comunidade precisa dos meios para sua sustentação, também a comunidade cristã
não escapa desta lei.
Todo trabalho pastoral, no sentido de conscientizar para
a responsabilidade da partilha, tem, na verdade, a meta de formar comunidade.
Esta, tendo garantida sua manutenção, proporciona aos membros o acesso ao
Reino, e dá-lhes suporte para anunciá-lo também além dos seus limites.
Pe. Mário
Fernando Glaab.
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