segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dízimo e Comunidade

A COMUNIDADE DE FÉ SE SUSTENTA COM O DÍZIMO

            A Igreja Cristã, desde os primórdios, tem consciência de que é uma comunidade: a comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, reunidos pelo Espírito Santo para viver no amor ensinado e vivido pelo mesmo Jesus. A comunidade é fruto da Boa Nova e é, ao mesmo tempo, o lugar próprio da vivência e do impulso missionário para que o Anúncio se espalhe por todo o mundo. É a comunidade de fé e de amor o início e o fim de toda a ação evangelizadora da Igreja de Jesus Cristo.

A manutenção da comunidade
            A comunidade cristã se mantém pela fé em Jesus, vivo e Ressuscitado, e pelo amor vivido concretamente no cotidiano, nas relações entre seus membros e nas relações com o mundo. Ela não é do mundo, mas está no mundo. Relaciona-se com tudo o que tem no mundo. Nesse sentido, ela não está imune a todas as implicâncias que o mundo tem na vida das pessoas. Também ela necessita se organizar e se sustentar, como qualquer outra organização. Aí vêm os desafios próprios dessa realidade, junto ao mundo que a circunda, para, como outras entidades, se manter coesa e unida.
            Não só de pão vive o homem, mas também ele é necessário. O pão é uma necessidade indispensável. Ninguém pode sobreviver sem pão. Sendo assim, a comunidade cristã não pode deixar de se preocupar com esta dimensão, a sua manutenção. Como fazer para que o sustento seja garantido?
            A partir da tradição judaica, a comunidade cristã entendeu que o dízimo é bíblico. Não é mera invenção humana, mas vem da própria Revelação. Conforme as diferentes situações históricas, a Igreja foi se adaptando aos costumes dos povos que se convertiam ao cristianismo, porém nunca deixou de se preocupar com o pão material para seu sustento. Mesmo chamando de modos diversos, a manutenção sempre foi vista como um meio para que a Igreja pudesse ser evangelizadora. Disso se pode concluir que:
1.      O fim sempre é a comunidade evangelizadora, seja ela oferta, dízimo, taxa, etc. Nenhuma campanha financeira empreendida pela comunidade cristã se justifica se não tiver como fim o bom funcionamento da evangelização. O dízimo nunca se justifica a si próprio. Uma comunidade que acumula bens sem investi-los na evangelização, perde seu sentido e sua identidade cristã.
2.      Desta forma os bens que os fiéis oferecem para a manutenção da comunidade adquirem um sentido que vai além do imediato. Eles contém em si uma participação evangelizadora. É um pouco daquilo que cada fiel faz para que o Anúncio do Reino siga pelo mundo afora. É a renúncia da fé que exige desapegar-se daquilo que é deste mundo em prol do Reino de Deus. É renúncia, mas renúncia livre e alegre.
3.      Neste sentido é eliminada toda barganha com Deus. Não se dá o dízimo ou qualquer outra oferta como pagamento. Sabe-se que é a comunidade que evangeliza, e não se compra a graça de Deus. A comunidade experimenta e faz experimentar a bondade de Deus e, quem contribui para a existência dela, este se abre para acolher o que o Deus de Bondade tem a oferecer.
4.      A manutenção da comunidade de fé dá ao contribuinte a oportunidade de participar, não somente pelo desejo, mas com obras concretas. Ele se doa por completo, na dimensão espiritual e material.
5.      Quando assumido como dever sagrado, a manutenção da comunidade educa e converte. Educa porque ensina a colocar os bens no seu devido lugar, não deixá-los tomar conta do coração humano; converte porque exige renúncia e sair de si. O egoísmo fecha o homem em si mesmo, mas a generosidade o abre para novos caminhos. Seguir o caminho do Evangelho pede muita generosidade.

Comunidade em vista do Reino
            Sendo tão importante para a pessoa de fé a participação e o anúncio do Reino, não deve haver dúvida de que é necessário prover a manutenção da comunidade para que ela possa cumprir a sua missão. Ela é o lugar onde se experimenta e vive a realidade do Reino e é também o ponto de partida para o trabalho missionário. Todo missionário tem atrás de si uma comunidade de fé.
            A Pastoral do Dízimo, que foi assumida pela Igreja no Brasil, está preocupada com esta questão. Ela não visa arrecadar dinheiro por dinheiro. Mas tem consciência de que as comunidades necessitam ter condições para se sustentar. Uma vez sustentadas – mesmo pobres, mas com dignidade -, elas têm o pão para o caminho que o anúncio do Reino percorre.
            Ao se entender o que é comunidade cristã, não é mais preciso insistir na quantidade da contribuição de cada fiel, pois sabe-se que ela vive daquilo que lhe é colocada à disposição dos membros. Cada membro se faz presente de corpo e alma, também com a sua ajuda financeira, para que tudo funcione bem. Aqueles que dependem diretamente das comunidades para fazer seu trabalho, não precisam esmolar, pois têm o respaldo de todos que colaboram livres, conscientes e generosamente. Este é o ideal.
            A comunidade cristã, que existe em vista do Reino e, que conta com cada um de seus membros na sua tarefa de implantar o mesmo nas realidades deste mundo, automaticamente valoriza e inclui a todos em seu seio. O dizimista é abraçado e abençoado na comunidade. É lá que ele se realiza na busca do Reino e na difusão dele.
            Que cada cristão possa descobrir a importância da comunidade, e, uma vez convencido disso, opte pelo dízimo, não como obrigação, mas como uma oportunidade para ser membro em todos os sentidos. Que o Reino de Cristo, inaugurado por Jesus, anunciado pela Igreja através dos séculos, esteja sempre diante do dizimista e das pessoas que doam do que é seu com generosidade.

Conclusão
            O fim do dízimo ou de qualquer oferta do povo de Deus não é arrecadar dinheiro, mas sempre, dar suporte à comunidade. É porque Jesus formou e mandou formar comunidade que se necessita dos bens que a mantém. A comunidade cristã, por sua vez, existe para que os membros possam “experimentar” o Reino. O fim último de tudo é o Reino. Mas como qualquer comunidade precisa dos meios para sua sustentação, também a comunidade cristã não escapa desta lei.
            Todo trabalho pastoral, no sentido de conscientizar para a responsabilidade da partilha, tem, na verdade, a meta de formar comunidade. Esta, tendo garantida sua manutenção, proporciona aos membros o acesso ao Reino, e dá-lhes suporte para anunciá-lo também além dos seus limites.

Pe. Mário Fernando Glaab.

sábado, 17 de março de 2018

Páscoa: Ressuscitou!

ELE RESSUSCITOU!

            Segundo o evangelista Marcos (16,5-6), quando as mulheres foram ao túmulo onde Jesus tinha sido colocado, viram um jovem vestido de branco que lhes disse: “Não vos assusteis! Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui! Vede o lugar onde o puseram! Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro: ‘ele vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis, como ele vos disse!’”

O crucificado e a sepultura
            Muito sugestivo que o jovem diz para as mulheres assustadas que devem ver o lugar onde o crucificado foi colocado: a sepultura. Lá é o lugar dos mortos! Contudo, ele não está lá no lugar dos mortos.
            Jesus, o nazareno, aquele que passou fazendo o bem a todos, acabou morrendo numa cruz. Esta foi a recompensa que recebeu do seu povo por tudo que lhe havia feito. Tanto amor que foi pago com ódio. A cruz tornou-se para Jesus o sinal da condenação; e, a sepultura o sinal da morte e da vitória do mal sobre o bem. De fato, Jesus morreu na cruz e foi sepultado. Nada mais valia aquilo que ele fizera, assim como toda a sua vida, o seu ser. Ele estava morto!
            As mulheres que iam embalsamar o corpo de Jesus, na verdade, estavam prolongando o sinal de morte: queriam conservar por mais tempo um corpo morto. Tudo está envolto pela sombra da morte. A experiência de vida que fizeram com o Homem de Nazaré agora somente se resumia em alguns momentos de saudades e de dor. Logo mais este corpo estaria se decompondo para sempre. E elas iriam voltar para casa, retornando à vida de antes. Nada restaria.

Ressuscitou: ide dizer
            Se o jovem com vestes brancas chama a atenção das mulheres sobre o lugar onde colocaram o crucificado, e dizendo que ele não está ali, muito mais atenção merece quando diz: “Ele ressuscitou! Ide dizê-lo a seus discípulos...” Este é o anúncio da Páscoa. Passagem do Crucificado para o Ressuscitado; do medo para o corajoso anúncio. Transformação total. O que era já não é mais. Agora é o primeiro dia da semana; o sábado já passou. Tudo está renovado.
            Mas o que aconteceu não pode ficar escondido. É preciso anunciá-lo, é preciso testemunhá-lo. Dizê-lo aos discípulos e a Pedro para que se dirijam à Galileia, pois lá o verão. Por que dirigir-se à Galileia? É que ali na Galileia tudo começou. Ali estavam aqueles homens e aquelas mulheres do povo pobre e sofrido que um dia se encontraram com um homem que olhou para eles com olhar diferente. Um homem que os convidou a fazer uma caminhada; caminhada rumo à vida. Na verdade, caminhada rumo a Jerusalém e à cruz. Porém, na cruz e na morte ele doou a sua vida para que os seus pudessem ter vida. Agora esta vida, compartilhada com os seguidores, pode ser vista novamente na Galileia. Lá, à medida em que os discípulos e Pedro souberem compartilhar vida, eles o verão. E mais ainda, muitos poderão “vê-lo” e receber de sua vida.
            Portanto, Ele ressuscitou! Não está mais na sepultura. Ide dizê-lo a todos. Mas voltem para o lugar onde ele os atraiu por primeiro; voltem às periferias da sociedade. Voltem para onde as pessoas têm mais carência de vida, e compartilhem com estas a Vida que vem do Ressuscitado. Lá ele estará presente até o fim dos tempos.
            Feliz Páscoa a todas as pessoas que querem um mundo mais justo e fraterno; um mundo onde tenha vida, e vida em abundância para todos. Boa Páscoa para todos os que lutam pela paz, a todos os que têm coragem de desmascarar os sinais de morte, de desrespeito, de violência. Que o Ressuscitado seja a nossa força”

Pe. Mário F. Glaab

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Religião e Salvação

RELIGIÃO, PARA QUÊ?

                        Se é Deus quem salva, mais ainda no cristianismo se crê que é Jesus quem salva, para que serve a religião? Alguns dizem que todas as religiões são boas, outros, pelo contrário, já pensam que as religiões não contam, mas que é preciso crer e esperar a salvação de Deus ou de Jesus – que é Deus. O que dizer das religiões e da religião cristã?

Religião e salvação
            Religião, num sentido muito amplo, quer levar ao conceito de voltar para a divindade. “Religar a Deus” as pessoas ou coisas que estão desligadas dele. Por traz desse conceito já transparece a ideia de que a salvação não está na religião em si, mas naquele ao qual ela leva ou liga. A salvação está além da religião. Está em Deus mesmo ao qual a religião “liga” o religioso.
            Os que afirmam tranquilamente que todas as religiões são boas, talvez não têm clara a função delas. Não há dúvida de que uma instituição séria que se arvora o título de “religião” deve estar preocupada em levar os seus adeptos a Deus; contudo, algumas fazem isto com mais segurança e comprometimento, enquanto outras o fazem por caminhos mais tortuosos. Não é tão simples assim, uma vez que em tudo isso está presente o elemento humano, que não deixa de ser dicotômico, isto é, uma mistura de boas e não boas intenções. É o ser humano que se torna religioso, mas em tudo isto ele leva consigo o bem e o mal. A maneira de “organizar sua religião” pode ter elementos muito bons e outros maus.
            Se não é a religião que salva – mas somente Deus -, ela para ser boa, precisa oferecer ao ser humano os meios para que este possa se encontrar com o Deus Salvador. Necessita dar-lhe condições para se abrir à salvação que vem de fora. Sem dúvida, existem tradições religiosas que pretendem garantir a salvação através de seus ritos e de suas normas de vida, mas não é esta a concepção de religião que nos orienta. Confundir Deus com religião não é bom.

Religião cristã
            No cristianismo dos últimos tempos há grupos que exageram em afirmar que “é só Jesus quem salva! A religião não salva ninguém”. Tudo bem, é Jesus quem salva. Porém, podemos perguntar a estas pessoas: como haveremos de chegar a Jesus, a não ser por meio de uma religião? O próprio fato de valorizarem tanto as Escrituras já conduz à valorização da religião. Quem “produziu” as Escrituras? Quem nos transmite e prega o Evangelho? Não foi uma religião, e os pregadores não são homens religiosos?
            Na fé cristã nada é mais importante do que o encontro vivo com Jesus Cristo, que se professa ser o Senhor. Caso alguém nega isto, não pode ser cristão. É de Cristo que se espera a salvação. Mas para isto, a religião fornece os meios. Ela ensina quem é Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, estabelece a conduta de vida que abre as portas para que Ele se torne o Salvador do fiel. Ensina e incentiva o sujeito a seguir, como discípulo, os passos do Mestre. A pessoa é treinada a viver como Ele viveu, isto é, no amor a Deus e às criaturas.
            Já no tempo da Reforma Protestante (século XVI) se tinha consciência de que da religião cristã – se ela quiser ser coerente – se deve esperar duas coisas: uma doutrina moral e uma orientação cívica para bem viver e, o consolo diante da morte e do juízo final. Como se pode ver, o primeiro aspecto trata do como viver; é exigência. O segundo é promessa de salvação futura; é tranquilizante. A religião deve conservar no fiel estes dois aspectos unidos, nunca acentuar demais um em detrimento do outro. As duas coisas necessitam andar juntas. Se quisermos, podemos dizer que a fé é o primeiro passo para alguém ser religioso, a caridade se inicia no caminhar, e a esperança ilumina tudo.

Jesus e a fé judaica
            Alguns dizem que Jesus, por ser judeu, apenas aprofundou a fé daquela tradição. Não é bem isso. Jesus renovou, não somente os costumes, mas principalmente a ideia e a experiência que se tinha de Deus. A partir da concepção e da experiência de Deus como Pai, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, é que se forma a religião cristã. Isto é muito importante.
            Assim, a religião cristã, para ser conforme o seu Fundador, deve levar os seres humanos a conceber Deus de modo novo. Não mais como um Deus distante e legislador, muito menos como um ameaçador, mas como aquele que é Pai Querido. De experimentá-lo na vivência concreta da caridade para com o próximo, e com todas as criaturas, que que são obras de seu amor.

Conclusão     
Precisamos ir a Deus por Jesus, o Salvador, mas a religião, que se concretiza na Igreja, tem a importantíssima tarefa de mostrar quem é Deus, e como se abrir aos seus convites de amor salvífico.
As religiões são boas e necessárias, sim. Tanto mais o são quanto mais levam a Deus que ser revela e que salva. Uma religião que não faz isto não é boa religião. Em todas elas é preciso discernir o que é bom do que não é bom; aproveitar do que é bom e eliminar o que não bom. Quanto mais as religiões se unirem para construir um mundo melhor, tanto mais estarão levando a Deus e, estão cumprindo sua missão. Por outro, lado, quanto mais elas brigam entre si, tanto mais são causa de discórdia entre os povos, e afastam de Deus, negando sua própria missão.
Pe. Mário Fernando Glaab.

www.marioglaab.blogspot.com.br

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Deus aqui e agora

ONDE ESTÁ DEUS?

            Onde está Deus, este de quem esperamos ajuda; de quem falamos tanto? Onde está o seu trono, onde podemos ver o Céu? Estas são perguntas que fazemos; aliás, sempre foram feitas, e mais ainda hoje com as conquistas da ciência que penetra cada vez mais no universo, que parece ser infinito. Mas, Deus e o seu trono não é encontrado.
            Foram exatamente estas questões que Peter Seewald perguntou ao papa emérito Bento XVI no final de uma longa entrevista, pouco tempo faz. (Entrevista que virou livro: Bento XVI – O último testamento em suas próprias palavras, Editora Planeta). A resposta de Bento XVI – fruto de seu profundo conhecimento teológico, e mais, da longa experiência da vida de fé – é bastante interessante. Ele diz: “Não existe um lugar onde Ele (Deus) está sentado em seu trono. O próprio Deus é o lugar sobre todos os lugares. Quando o senhor olha para o mundo, não vê o céu, mas vê em todos os lugares as marcas de Deus. E onde o senhor vês seres humanos encontrará as marcas de Deus. O senhor vê o vício, mas também vê a bondade, o amor. São esses os lugares, aí é onde Deus está” (p.277). E o bom Papa Emérito continua a explicar que Deus não está “num lugar” ou “num momento”, mas que Ele é o criador de todos os lugares e de todos os tempos. Justamente por isso, Deus está fora dos espaços e dos tempos, mas estes são frutos da sua mão criadora. Ele é o Criador Infinito, a Realidade. O estar em um lugar é limitação. “O Criador, que é tudo, se estende por todos os tempos e não é Ele mesmo o tempo, mas o cria e sempre está presente” em todos os lugares.

Deus em Jesus
            Deus está em todos os lugares e em todos os tempos. Contudo, Ele se fez um de nós – ser humano – em Jesus de Nazaré. Um homem concreto, histórica e geograficamente localizado. Jesus nos revela, não mais um Deus distante e inacessível, mas um Deus pessoal que está no meio de nós. Ele mesmo, em todo o seu ser, nas palavras e nos feitos, é Deus-conosco. É nele que se pode e se deve encontrar com Deus.
            Mas Jesus realiza este encontro do humano com o divino de que modo? Sem dúvida, ele o oferece o encontro, porém da parte do homem necessita ser acolhido. Esta acolhida é adesão de fé. Quem se deixa tocar pelo Homem-Jesus-de-Nazaré em sua concretude histórica e geográfica, experiencia seu amor incondicional defronte a seus pecados, este pode dizer “Deus está aqui agora!”. Este “toque”, no entanto, não se restringe aos homens que viveram na Palestina no século I de nossa era. Jesus, o Deus Encarnado, assumiu todos os seres humanos em todos os tempos e em todos os lugares, como toda a criação. Isso quer dizer que Ele se faz presente em toda a natureza, mas de modo especial nos pequenos e humildes, seus irmãos e irmãs pobres e doentes. É neles, estejam onde estiverem, que Deus continua a se fazer humano para se encontrar com os humanos. Lá Ele toca a humanidade sempre de novo. Mas somente os que se deixam tocar com fé por esta manifestação de amor são capazes de reconhecê-lo e comungar com Ele.

Deus pessoal em comunhão com pessoas
            A teologia e a catequese precisam ajudar o homem de hoje a se libertar de muitos conceitos ultrapassados, que a cultura científica não aceita mais. É necessário mudar a linguagem e os esquemas conceituais, que já não são compreendidos, para uma linguagem e tradução mais atualizadas, que possam ajudar o homem a compreender hoje que Deus não deve ser procurado em “um lugar” ou em “um tempo” determinados. Deus, que é Pessoa, está com cada pessoa em qualquer lugar e em qualquer tempo.
            Assim como para nós, seres humanos pessoais, o espaço e o tempo não são limites intransponíveis, pois nós os transcendemos; assim o Deus-Pessoa ultrapassa todo espaço e todo o tempo, uma vez que Ele sustém a tudo. Nós não estamos apenas em nosso corpo aqui e agora, mas vivemos uma amplidão, isto é possível, pois espaço e o tempo estão ao nosso dispor. Nossos relacionamentos, tanto amorosos quanto odiosos, vão além do que está aqui e é agora; podemos estar e influenciar em outro lugar e aqui ao mesmo tempo, assim como hoje e no futuro. Claro que sempre sob a comunhão ou não-comunhão com Deus que é Pessoa por excelência. Ele, Deus, é Pessoa, e não podemos fixá-lo em uma localidade física ou momento histórico, já que sua personalidade abrange todos os lugares e todos os tempos.
            Concluindo, nós não podemos e nem devemos fixar Deus e as pessoas a espaços e a tempos. Deus e as pessoas vão além deles. Deus, como Criador, sustém todos os lugares e todos os tempos; e os seres humanos, pessoas na Pessoa, estão acima das limitações de espaço e de tempo. Elas, na sua comunhão com Deus, trazem em si, no aqui e no agora, o próprio ser de Deus. Esta comunhão se atualiza em toda plenitude em Jesus de Nazaré e, na vida dos seres humanos que se abrem ao seu projeto. Lá, aqui e agora, está Deus! O seu trono está no coração e na história de cada ser humano que o deixa entrar e agir, assim como na natureza que Deus mantém na existência para o bem homem.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com

Spessje

DAT FRITZJE AUS DE SCHUL

Das is doch mo traurich: dat Fritzje hot doch imme was fa sei Mamma se ergane. Die Toche kummt ea vun de Schul un saad: “Mammi, die letz Wuch hat die Lehrin de August heem geschickt weil de sich net richtich gewesch hot – de wo noch treckich am Hals”. “Oje, – antwat die Mamma – un hat dat was genutzt?” “Sicha, - soad dat Fritzje – heit wore jo schunn siewe Buwe um Medje wo sich net gewasch harre! Moie, will ich mo siehn ep es fa mich oach klappt”. Dunnawettekeil, noch mol! Da is doch mo schlimm mit de Kurizzadde wenn die die Mamma un die Lehrin kwehle wolle. Die misse mo Knut grien; awa wea machts? Die Mamma griet’se net, un de Papa is doch imma am schloofe wenn ea net in de Plantosch is.

Glaabsmario.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Hunsrikisch Geschichtje

JAKOBUS MAJOR

Fria is doch mo passiat dat mo so en Kolonist von unse deitsch-brasilionische Kolonie im die gross Stadt kum is. Dat wo jo doch imma en Freit wen Jimand die Gelechenheit hot un kunt mo raus, bisje unna die Leit.
Um dat wo so: No dem ea sei Geschefte abgemach hot, do horra mo gedenkt jetz kent ea ach mo die Kerich besuche gehen. Oje, so en gross un schen Kerich hot ma jo gonet im Land gekent. Dan mo hin um rin. Alles mo boguckt un gestaunt: “Was ma do net Alles schenes sien kan!” Bisje gebet, un die Runde is weita gang. Dan uff emol hot de Baua mo die Apostelstatue oangeguckt. Dat wore werklich schene Figure. Bei Jedem hat de Nome do gestan: Petrus, Andreas um so weita. Awa uff emol is doch mo was komisches uffgefall, un ea hot ach gleich mo de Mann wo do gestan hot um uffgepast, gefroht: “Na, soch doch mo: woa dann de Jakobus (Tiago) en  Soldot? Das wuscht ich doch noch net”. “Ja warum meint ihr das?”, antwatet de Man. “Ei, do steht doch ‘Jakobus Major’”.
(Jakobus Major heist uff Latain so viel wie in brasilianisch “Tiago Maior”; awa dat wusst halt unsa orme Baue net!).

Glaabsmário.

sábado, 4 de novembro de 2017

Natal Cristão

NATAL – O VERBO SE FEZ CARNE

            Todos os anos, ao se aproximar a solenidade do Natal do Senhor, ressoa em nossos ouvidos o que o evangelista João escreveu no prólogo de seu evangelho: “E o Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (1,14). Esta afirmação da fé cristã é o motivo de toda celebração natalina. Se assim não for, o que se comemora não é Natal cristão. Pode ser qualquer outra coisa, menos o que os cristãos celebram nesta festa.

Verbo de Deus
            Verbo (Palavra) de Deus é, conforme o mesmo evangelista, Deus mesmo (Jo 1,1). Poderíamos dizer, em palavras mais acessíveis para nós que não somos especialistas em teologia bíblica, que o Verbo é a comunicação do próprio Deus – Ele que vem como o Deus-Amor. Não se trata de um “aviso” ou de uma notícia que Deus manda através de alguém; mas dEle mesmo. A Comunicação é Deus em pessoa.
            Estamos aqui no mistério da Trindade, um Deus em três Pessoas. Mas, ao professar que o Verbo se fez carne, crê-se na entrada deste mistério na história limitada das criaturas. A Eternidade tocando o tempo; melhor ainda, o Eterno entrando no tempo, para fazer história com o ser humano que, com as criaturas, caminha na direção de uma meta que lhe foi proposta pelo Criador.
            O Verbo de Deus é, portanto, o mistério do próprio Deus. É este Deus que habita em luz inacessível, e que justamente por isso, só pode ser vislumbrado pela fé. Aliás, todos os povos de todos os tempos sempre estão à busca deste Deus. É o que todas as religiões fazem. As religiões almejam “religar” as pessoas (também as coisas) a Deus – estabelecer contato com Ele. Cada uma o faz como “descobriu” ser o melhor caminho. Daí as inúmeras doutrinas e práticas religiosas que, quando seguidas por pessoas de boa vontade, levam a Deus.
            Nós cristãos, ao falar do Verbo de Deus já estamos nos apoiando na revelação de que Deus é comunicação. Ele se comunica no mistério trinitário, mas também se comunica para suas criaturas. E “Verbo” foi o termo que o evangelista encontrou para apresentar esta comunicação divina.

Se fez carne
            É o que se chama de “Encarnação”. Quer dizer, Deus Eterno se faz um de nós: “em tudo semelhante a nós, menos no pecado” (Hb 4,15). Este, que é Deus, é carne: um de nós! Com “carne” se entende a totalidade do ser humano. Ou então, “verdadeiro homem”. Poderíamos dizer ainda que Ele – Jesus - é o Homem Verdadeiro. O homem assim como Deus o concebeu ao criá-lo, e assim como Deus quer que seja cada um e todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares.
            Mas não podemos esquecer que Deus não deixou de ser Deus, uma vez que se encarnou. A fé cristã professa que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, consubstancial ao Pai pela divindade, e consubstancial a nós pela humanidade (Concílio de Calcedônia, 451). Deste modo cremos que em Jesus Cristo o Eterno se encontra com o tempo, com a história. O tempo e a história são próprios de nosso mundo criado, que por sua vez é limitado. É neste mundo que existe a bondade, o amor e a misericórdia; mas igualmente a maldade, o ódio e a injustiça. Contudo, a partir da Encarnação Ele está no meio de nós; nós, no aqui e no agora, nos comunicamos com o Mistério de Deus. Mais que comunicar, comungamos com Ele e nEle: “pois nEle vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28).

Natal cristão
            Natal cristão é fazer memória de tudo isso. É tornar presente esta riqueza da fé lá onde estão os cristãos. Natal não é recordar o que aconteceu a mais de 2.000 anos em Belém, mas muito mais do que isso, é deixar que o mistério do Deus Encarnado toque a todos os humanos e que nos renove para sermos verdadeiramente homens e mulheres plenos de Deus, construtores de um mundo novo, livre da injustiça, da maldade, da corrupção e da morte, uma vez que Ele veio, vem e virá sempre de novo para morar conosco.
            Feliz Natal. Natal de Jesus, que é Natal dos cristãos, e que quer ser Natal para toda a humanidade.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com