sexta-feira, 19 de abril de 2013

Para refletir

PENSAMENTO
            Ser perseguido pelos maus é ruim, mas ser perseguido pelos bons é péssimo. A perseguição dos maus, quando bem interpretada, até enaltece a vítima, mesmo que de forma inversa; a perseguição dos bons, ao contrário, acaba com qualquer ponto de apoio: mostra que de fato o perseguido não presta! Quem passa por esta perseguição experimenta o pior: não lhe resta o que esperar. No entanto, é bom lembrar que Jesus de Nazaré nunca perseguiu, nem bons nem maus. Para ele, todos mereciam respeito e confiança.
M. Glaab

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Deus tem preferência!

            DEUS NÃO É IMPARCIAL (!)
            O famoso teólogo (cristólogo) José Antonio Pagola, ao comentar a parábola do “juiz que não temia a Deus” e da “pobre viúva” de Lc 18,1-8, mostra a preferência de Deus para com os fracos, os pobres e os desvalidos. Dessa constatação ele passa a criticar a preocupação central da Igreja que, segundo ele, é a vida moral e religiosa das pessoas e não, como ensina Jesus, estar do lado do mais necessitado. Deus, por ter coração sabe tomar posição em favor do indefeso, não é imparcial como um juiz que não leva em conta o ser humano que sofre, somente a lei pela lei. Vamos ao texto mais sugestivo:
            “A ‘parcialidade’ da justiça de Deus a favor dos fracos é um escândalo para nossos ouvidos burgueses, mas convém recordá-la, porque na sociedade moderna funciona outra ‘parcialidade’ de sinal contrário: a justiça favorece mais o poderoso do que o fraco. Como Deus não iria estar do lado dos que não podem defender-se?
            Acreditamo-nos progressistas defendendo teoricamente que ‘todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos’, mas todos nós sabemos que isso é falso. Para desfrutar direitos reais e efetivos é mais importante nascer num país poderoso e rico do que ser pessoa num país pobre.
            As democracias modernas preocupam-se com os pobres, mas o centro de sua atenção não é o indefeso, e sim o cidadão em geral. Na Igreja fazem-se esforços para aliviar a sorte dos indigentes, mas o centro de nossas preocupações não é o sofrimento dos últimos, e sim a vida moral e religiosa dos cristãos. É bom que Jesus nos lembre que quem ocupa o coração de Deus são os seres mais desvalidos.” (PAGOLA, J. A. O Caminho Aberto por Jesus, Petrópolis, Vozes, 2012, pp. 296-297).
            Aliás, sugerimos a leitura, não só de uma parte do livro de Pagola, mas de todo ele. Mais do que um livro de teologia bíblica é um instrumento importantíssimo para a meditação da misericórdia de Deus revelado por Jesus, conforme o evangelista São Lucas.
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Vaticano II hoje (2)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 1)

            Na apresentação do tema que queremos desenvolver destacamos a importância dos sinais dos tempos a serem interpretados, conforme ensina o Vaticano II; insistimos no hoje da história a ser assumido e na necessidade de também nós sermos humildes para reconhecer que temos muitas deficiências em nossa vida de pobres seguidores de Jesus de Nazaré. Tomaremos agora o primeiro ponto do Pacto das Catacumbas e tentaremos ouvir o que o Espírito tem a nos dizer para, a exemplo dos bispos que o assinaram há 50 anos, sermos mais coerentes com a Igreja e sua missão no mundo de hoje. O item diz: Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20. (Mt 5,3 diz: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus”; 6,33s: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal”; e, 8,20: “Jesus lhe respondeu: ‘As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça’”).

Modo ordinário população
            Na introdução do Pacto das Catacumbas os bispos dizem que “esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho” se propõem a superá-las com atitudes concretas. É chegada a hora de verificar se o ordinário da vida dos bispos e dos líderes da Igreja e das Igrejas confere com o “ordinário da população”. Não é preciso ser especialista na arte de observar para constatar que, naquele tempo, e também hoje, na maioria dos casos, os dois pesos não se igualam. O ordinário da vida dos bispos (padres, pastores e líderes) não confere com o ordinário da vida da população. Sem entrar em detalhes, basta ver o modo de se apresentar em público dos pastores de almas: suas vestes e seus modos requintados estão muito distantes das vestes e modos humildes de se apresentar da imensa massa populacional de nossa sociedade.
            É dificultoso entender como os líderes querem, dessa forma, em nome da Igreja, estar verdadeiramente presente no mundo para levar a ele a palavra de salvação nas alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem (cf. GS 1). O modo de se apresentar dos bispos e demais, quase sempre demonstra que o povo em geral é considerado ignorante, pobre, pecador e que, para haver igualdade, ele é que deve deixar para trás todas estas deficiências, pois os pastores já alcançaram os seu status. Esconde-se aí a ideia errada de que o cristão, quando alcança maturidade, não pode ser como os demais, mas forma uma “classe à parte”; uma elite abençoada. É aí que se aninha a heresia da prosperidade. Aliás, a teologia da prosperidade está em alta, principalmente em igrejas neopentecostais, mas não só; está em quase todas as cabeças. No entanto, se Jesus chama de felizes os pobres, se as comunidades primitivas não se consideravam diferentes aos demais, e se o mesmo Jesus diz estar no mais desvalido, como se pode não procurar viver segundo o modo ordinário da população? Mesmo que em muitos textos bíblicos do Antigo Testamento apareça a visão de que a riqueza é sinal de bênção, esta visão não é evangélica. Há ricos, e entre eles também os líderes das igrejas, que de maneira quase espontânea pensam que seu êxito econômico e sua prosperidade são o melhor sinal de que Deus aprova sua vida. Puro engodo!
            Felizmente o Papa Francisco, alguns bispos, padres, pastores e líderes das comunidades, também hoje, têm coragem de ir para mais perto do povo. Muitos têm coragem de ir onde o povo está, alegrando-se, sofrendo e lutando com ele, sem se julgar melhor e mais abençoado do que ninguém. A vida do povo é a vida do cristão.

Habitação, alimentação e meios de locomoção
            Provavelmente todos já escutaram a expressão “hoje comi como um padre!”. Não há dúvida de que é maldosa, mas não deixa de ser inquiridora. Por que será que se tornou tão popular? Outra: até pouco tempo, quando alguém chegava a uma cidade do interior e queria encontrar a casa do padre não lhe era nada difícil: a casa mais bonita do lado da igreja (quando era a do bispo, nem se fala!). À exceção do Cardeal de Buenos Aires, ver um bispo se locomover aos subúrbios das grandes cidades usando os meios de transportes do povo, é um milagre.
Entre o clero novo, não tem como negar, cresce assustadoramente o desejo de vida boa. Já no período de formação os jovens querem exigir do bom e do melhor. Há infelizmente casos nos quais a cozinheira das casas paroquiais, das residências episcopais e das casas de religiosos tem a obrigação de ser muito criativa, pois a alimentação, além de ser variada, não pode ser como a do povo pobre. Sobras são jogadas fora! Os mendigos não conseguem chegar perto dos refeitórios, pois as casas, muito bem construídas, têm proteção e a campainha está desligada. Sabe-se que alguns bispos nos tempos imediatos do pós-concílio – os que assinaram o pacto das catacumbas – vários padres e outros pastores de almas não se furtaram a estar com o povo, saíram de seus palácios (Dom Helder, Dom Paulo etc.), também enfrentando as peripécias dos meios de transporte, tão desafiantes. Hoje, no entanto, esse exemplo diminuiu enormemente. Justifica-se afirmando não ter tempo para perder e que a saúde deve ser preservada. E a saúde do povo pobre? Bem, essa... Cuidar da saúde do povo pobre deve ser tarefa do governo!

Conclusão
            O primeiro item assumido no Pacto das Catacumbas termina dizendo “e a tudo que daí se segue”. É a coerência cristã no cotidiano da vida. É o bispo, o padre, o religioso, o pastor e o líder do povo que está para o povo. Ele não é melhor que o povo, pois faz parte dele, mas com o povo pobre, confiando na presença de Jesus Cristo como Ressuscitado e vencedor do mal, na colaboração mútua, em estreita comunhão, trabalhando na construção do Reino de Deus que é paz, justiça e fraternidade. Ele não pode ser rico e egoísta, enganando-se a si mesmo e ao povo; ele não pode enganar-se, acreditando-se “pobre de espírito” no íntimo de seu coração, porque quem tem alma de pobre não continua desfrutando tranquilamente seus bens enquanto ao lado dele há gente necessitada até das coisas elementares. Que bom, se todo líder, antes de falar ou dar sua bênção tivesse a humildade de se inclinar para pedir as preces e a bênção de seu povo para se iluminar das luzes do Espírito e para se impregnar do amor do mesmo Espírito! (Não podemos esquecer nunca o gesto profético do Papa Francisco antes de abençoar o povo pela primeira vez).
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br

sábado, 30 de março de 2013

Afirmação importante

Gostei dessa afirmação de Leonardo Boff:
"O problema dos pobres não se resolve sem a participação deles, com a filantropia, mas pela justiça social" (Boff, falando entusiasticamente sobre a eleição do Papa Francisco).

segunda-feira, 25 de março de 2013

Vaticano II hoje (1)

ESPERANÇA E RENOVAÇÃO
O Pacto das Catacumbas – 50 anos depois
            Já se foram 50 anos da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965). O Concílio foi, sem dúvida, um marco histórico de esperança e de renovação para a Igreja e para o mundo. 50 anos depois, entre sucessos e fracassos, surge inesperadamente um grande sinal no horizonte da Igreja e da história do mundo. Um papa, já idoso e debilitado, tem a coragem e a humildade suficientes para renunciar ao cargo; é eleito outro que se apresenta como “Pobrezinho de Assis”, o irmão de todos e de tudo. O Concílio ensina que precisamos estar atentos aos sinais dos tempos que necessitam ser interpretados à luz da fé e no contexto maior da história da humanidade. Para refletir sobre isso, quero relembrar que paralelamente à última sessão conciliar em 1965 os bispos brasileiros que estavam em Roma participando do Concílio, com mais alguns outros, se comprometiam em assumir a renovação conciliar, assinando o “Pacto das Catacumbas”. A partir do que os bispos (cerca de 40) assumiram há quase 50 anos, queremos refletir sobre o hoje de nossa história e dos sinais que estão aí. Os pontos do “Pacto das Catacumbas” são 12. Contém uma introdução e a sequência dos itens. Seguiremos itens um por um, usando o texto de BEOSO, José Oscar, Concílio Vaticano II, publicado na Revista de Liturgia 234 Novembro/dezembro 2012, p. 9.

Pacto das Catacumbas e o Papa Francisco
            Os bispos brasileiros presentes ao Concílio Vaticano II na sua grande maioria entendendo o clamor do Espírito que desafiava a Igreja, a partir das sábias e inspiradas palavras de João XXIII, se empenharam para fazer da Igreja a “Igreja dos pobres”. Havia um grupo de bispos que defendiam a “Igreja dos pobres”. Os bispos brasileiros se uniram ao grupo que defendia essa visão. Mas, não ficaram somente no grupo que defendia a Igreja dos pobres; como que fazendo um “concílio paralelo” estes bispos se reuniam no local onde estavam alojados, na Domus Mariae, e planejavam a recepção concreta do Concílio no Brasil. Por isso formularam compromissos práticos e os assinaram antes do encerramento do Concílio. Esses compromissos passaram a se chamar “Pacto das Catacumbas”. Na introdução eles dizem: “Nós, bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos irmãos no episcopado; contando, sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento, e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometermo-nos ao que segue”. A seguir colocam 12 pontos, que iremos tomar um por um. Agora, no entanto, queremos nos ater à intenção que se percebe nas palavras introdutórias e no que ela pode ter produzido para os sinais que estão diante de nós.
            É de capital importância o fato de que os bispos reunidos no Concílio estarem conscientes das deficiências de suas vidas de pobreza segundo o Evangelho. Sem esta consciência, que humildemente confessam dizendo-se esclarecidos, não poderiam propor nada. Os bispos perceberam que os nossos tempos não aceitam mais discursos feitos das alturas para os outros que estão nas baixezas. Era preciso se igualar: falar olhando nos olhos das pessoas. Quando os bispos estavam de volta em suas dioceses tomaram atitudes importantes. Saíram de seus palácios para estarem no meio do povo e com o povo; e, principalmente junto aos mais necessitados. Colocaram-se com o povo na luta pela vida e pela justiça. Não mediam esforços e sofreram terrivelmente por isso. A Igreja, incentivada por esses bispos comprometidos com o Evangelho, deu saltos enormes no testemunho e na transformação da sociedade. Pena que, com o passar dos anos esse fervor diminuiu. Os bispos do Pacto das Catacumbas foram envelhecendo e dando lugares para outros, já não tão corajosos e tão decididos. Mas, a Igreja e a sociedade, como que iluminada pelo Espírito, exige também hoje de seus líderes religiosos o testemunho da vida pobre, simples e comprometida. O bispo, o padre ou mesmo o pastor, que não estiver disposto a testemunhar concretamente suas palavras está fadado ao fracasso. Esta exigência do povo deve ser vista como muito positiva.
            Os bispos contaram com a graça de Cristo, com o apoio e as orações de seus fiéis. Era a confiança humilde, tanto na força do alto como na compreensão e ajuda das pessoas de boa vontade que os alimentava.
            Talvez os sinais dos tempos para toda a Igreja e para o mundo que mais nos fazem pensar, 50 anos depois do Concílio vaticano II, são os esmorecimentos de muitos bispos, padres e líderes religiosos diante dos imensos desafios que o mundo globalizado nos coloca; mas não se pode deixar passar em branco os acontecimentos marcantes dos últimos tempos quando um Papa, por reconhecer sua incapacidade para levar adiante o ministério petrino, renuncia humildemente. Ele, para o bem da Igreja, coloca a missão ao dispor de outro mais capaz, e pede as orações e a compreensão de todos. O seu sucessor, desde o primeiro instante, dá inúmeros sinais de humildade e compromisso. Mas o gesto mais marcante foi o fato de se inclinar diante da multidão na Praça de São Pedro (e de todos os fiéis do mundo inteiro) solicitando suas preces. O nome que escolheu para si não é menos significativo: Francisco! Como interpretar e acolher esses sinais?

Esperar e renovar
            Os bispos do Pacto das Catacumbas fizeram a sua parte, uns mais, outros menos. As igrejas e a sociedade deram suas respostas nesse meio século, também com mais ou menos entusiasmo. 50 anos depois do Pacto das Catacumbas os papas deram novamente seus sinais; fizeram e estão fazendo a sua parte. Cabe também hoje às igrejas e à sociedade interpretar, acolher e dar suas respostas favoráveis. Que o primeiro compromisso de cada um seja o humilde reconhecimento das deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho. Estamos muito atarefados em buscar bens e o bem estar egoísta, esquecendo os milhões de necessitados que estão ao nosso lado clamando por nossa compaixão. Os papas não escondem suas “pobrezas” diante do mundo, agora é nossa vez! A esperança deve nos converter. A conversão deve ser renovação. Esperar renovando e renovar esperando. (Continua).
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br

RESSURREIÇÃO - PASSAGEM DEFINITIVA

PÁSCOA
            A Ressurreição não é retorno à vida (físico-corporal), mas a passagem para a Vida em plenitude. Jesus, o Cristo, ressuscitou para a plenitude em Deus e por isso Ele é a Vida e a Verdade. Ele é o Definitivo de Deus para o ser humano. Na esperança nós participamos antecipadamente da mesma plenitude de Cristo. Um dia, isto é, no “terceiro dia” de nossa existência, também nós, com Ele, participaremos da Vida e da Verdade definitivas em Deus, quando ressuscitarmos com Ele.
Pe. Mário F. Glaab

sexta-feira, 15 de março de 2013

Constatação

Parece que o testemunho do bispo que passou a ser "franciscano" é bem mais convincente do que o franciscano que passou a ser bispo! Acho que ser franciscano de verdade não é algo adquirido definitivamente, mas uma opção consciente e continuada de simplicidade no amor a Deus e ao próximo, e para tal, ser pobre é condição indispensável.
Glaab