sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Hunsrickische Witztja

ASCHEMITTWOCHSERKLEERUN

            Fria, wie die Lehra um aach di Kinna noch unschulldicha wohre, do hon die Lehra imma sich voagenomm de Kinna Alles richtich se erkleere. Net blos dat was voagesrip woa vun de Schuhlgemeinde, awa aach dat wo ma so wie en gute Krist wisse musst.
Do woa doch dann groat mo Aschemittwoch, un de Lehra wollt mol de Kinna de richtiche Sinn vun dem Staub klar mache; dat woa man so soat: “Gedenke, dass du aus Staub bist, und…” un hot dann mo dodriwa parlamentiat. Uff emol hot er dann mo gefrot: “Lukasje, wann kann ma sich denke dass mea all aus dem Staub vun de Erde komme?” Dat Lukasje hot net lang do driwa noogedenkt, hot mol gleich geantwort: “Ei wenn ma so aus dea Geprentmillieross komme wo ma de ganze Toach geputz hann. Dann wenn ma sich an die Been guckt, dann kann ma das jo verstehen, do is de Stoob so dickt dat die Been ganz schwatz sin – un so bleiwe se noch Toche lang!”
So wor es in annere Zeite. Die Lei hon vielmea mittgemach, awa wohre doch noch viel unschuldicha un aach lusticha. Gute Zeite!
Gloabsmário


RELICHIONSUNNARICHT

            Dea Pastoa in de Relichionsunnaricht hat dem kleine Lisje die Froche gestellt: “Warom hat dea liewe Aufastendeneheiland zu de Maria Madalena geschreit: ‘Rühre mich nicht an’?”. Dat kleine Lisje, wo groat aus dem Bet gekomm is, un noch tormlich woa, hot geantwort: “Ach, weil er doch blos uffgestann woa, un noch getormelt hat”.
Jeder tut vun seine Stelle dei Religiesichesache sien.

Glabsmário

sábado, 5 de dezembro de 2015

O cristão e o mal no mundo.

O SILÊNCIO DE DEUS

            Notícias de violência, injustiça, fome, calúnia, mentira, atentados, corrupções, guerras e mil e uma barbaridades são diariamente veiculadas pelos meios de comunicação. Há quem não liga porque ficou anestesiado. Diz que é assim mesmo. Outro se preocupa, mas também não sabe o que dizer ou fazer. Tem, no entanto, também aquele que se escandaliza e, coloca a culpa até mesmo em Deus! Por que Deus se silencia, por que não intervém? É matéria para uma boa reflexão.
            O Papa Bento XVI ao visitar o campo de concentração também fez a inquietante pergunta: “Onde estava Deus?” Ele deixou a pergunta no ar. Não a respondeu, como que dizendo, “responda cada um, conforme a sua fé e sua convicção religiosa”. Será que o Papa estava com dúvida sobre onde Deus estava quando essas terríveis atrocidades aconteceram? Certamente não.
            Por estes dias, alguém, impressionado com os atentados em Paris, mais uma vez perguntou: “Por que Deus não diz nada? Teria Deus se esquecido da humanidade?” É! Quando a dor, a injustiça e a morte violenta tocam diretamente as pessoas, não é de estranhar que tais interrogações surjam. Mas, a fé cristã, quando é verdadeira e profunda, vai além de tudo isso, e encontra a resposta que não é teórica, porém prática e comprometedora.
            Será que não está mais do que na hora de reavivar a fé e a confiança no Deus presente em nossa história e, no mistério da Encarnação do Verbo? O cristão não se cansa de professar que Deus é Pai Criador, Filho Redentor e Espírito de Amor. No entanto, esta profissão de fé não pode ficar no ar, deve, no entanto, ajudar cada um, e também às comunidades cristãs, a se colocarem na atitude de escuta e de resposta comprometedora. Deus, em Jesus Cristo, não está surdo! Ele fala e age a tal ponto de se fazer carne – carne como a nossa, em nossa carne. Deus fala e age onde fala e age o cristão; ou mesmo onde fala e age qualquer ser humano de boa vontade. Deus coloca tudo ao dispor do ser humano: sua força criadora, sua Palavra, sua graça e sua bênção. Basta acolhê-la e assumi-la.
            Ele, Deus, está sempre onde estão as pessoas, preferencialmente os mais necessitados. Ele está, primeiramente nas vítimas, sofrendo com elas as conseqüências das maldades, apoiando, sustentando e perdoando; porém, fala e age igualmente em todos os que consolam, que ajudam e que lutam contra toda forma de violência, de opressão, de injustiça e de morte. Portanto, afirmar que Deus se cala, ou que Deus não está presente em certas situações limites da vida é, em última instância, negar o Deus anunciado e revelado por Jesus de Nazaré e por tantos homens que não se deixaram vencer pelo mal, mas que, apesar de serem crucificados como ele, confiaram e se tornaram testemunhas verdadeiras.
            Deus, onde estás? Lá onde está o pobre, o necessitado, o injustiçado. Também onde estão as pessoas de bem, aqueles que como Jesus de Nazaré sabem abraçar, abençoar, curar e sofrer juntos. Não sejamos covardes, não joguemos a culpa em Deus; mas tenhamos fé e, façamos a nossa parte. Se no mundo existe muita maldade, o compromisso do cristão, e das pessoas de bem, é maior ainda. Ajudemos a tornar a realidade um pouco melhor, mais parecida com o Reino imaginado e inaugurado por Jesus de Nazaré.

Pe. Mário F. Glaab

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Palavras de um sábio ancião.

Um eticamente desqualificado manda a julgamento uma mulher íntegra e ética

03/12/2015

O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é acusado de graves atos delituosos: de beneficiário do Lava-Jato, de contas não declaradas na Suiça, de mentiras deslavadas como a última numa entrevista coletiva ao declarar que o Deputado André Moura fora levado pelo Chefe da Casa Civil Jacques Wagner a falar com a Presidenta Dilma Rousseff para barganhar a aprovação da CPMF em troca da rejeição da admissibilidade de um processo contra ele no Conselho de Ética. Repetidamente afirmou que a Presidenta em seu pronunciamento mentiu à nação ao afirmar que jamais se submeteria à alguma barganha política.

Quem mentiu não foi a Presidenta, mas o deputado Eduardo Cunha. Seu incondicional aliado, o deputado André Moura, não esteve barganhando com a Presidenta Dilma, como o testemunhou o ministro Jacques Wagner. Vale enfatizar: quem mentiu ao público brasileiro foi Euclides Cunha. Imitando Fernando Pessoa diria: Ele, mentiroso, mente tão perfeitamente que não parece mentira as mentiras que repete sempre.

É mentira que seu julgamento foi estritamente técnico. Pode ser técnico em seu texto, mas é mentiroso em seu contexto. O técnico nunca existe isolado, sem estar ligado a um tempo e a um interesse. É o que nos ensinam os filósofos críticos. Ele deslanchou o processo de impeachment contra a Presidenta exatamente no momento em que, apesar de todas as pressões e chantagens sobre o Conselho de Ética,soube que na votação perderia pois os três representantes do PT acolheriam a aceitação de um processo contra ele, o que poderia, depois, significar a sua condenação.

O que fez, foi um ato de vindita reles de quem perdeu a noção da gravidade e das consequências de seu ato rancoroso.

É vergonhoso que a Câmara seja presidida por uma pessoa sem qualquer vinculação com a verdade e com o que é reto e decente. Manipula, pressiona deputados, cria obstáculos para o Conselho de Ética. Mais vergonhoso ainda é ele, cinicamente, presidir uma sessão na qual se decide a aceitação do impedimento de uma pessoa corretíssima e irreprochável como é a Presidenta Dilma Rousseff.

Se Kant ensinava que a boa vontade é o único valor sem nenhum defeito, porque se tivesse um defeito, a boa vontade não seria boa, então Eduardo Cunha encarna o contrário, a má vontade, como o pior dos vícios porque contamina todos os demais atos, arquitetados para tirar vantagens pessoais ou prejudicar os outros.

Seu ato irresponsável pode lançar a nação em um grave retrocesso, abalando a jovem democracia, que, com vítimas e sangue, foi duramente conquistada. Não podemos aceitar que um delinquente político, destituído de sentido democrático e de apreço ao povo brasileiro, nos imponha mais este sacrifício.

Faço um apelo explícito ao Procurador Geral da República, ao Dr. Rodrigo Janot e a todo o Supremo Tribunal Federal: pesem, sotopesem e considerem as muitas acusações pendentes contra Eduardo Cunha nas áreas da Justiça. Estimo que há suficientes razões para afastá-lo da Presidência da Câmara e que venha a responder judicialmente por seus atos.

A missão desta mais alta instância da República, assim estimo, não se restringe à salvaguarda da constituição e à correta interpretação de seus artigos, mas junto a isso, zelar pela moralidade pública, quando esta, gravemente ferida, pode constituir uma ameaça à ordem democrática e, eventualmente, levar o país a um golpe contra a democracia.

Mais que outros cidadãos, são suas excelências, os principais cuidadores da sanidade da política e da salvaguarda da ordem democrática num Estado de direito, sem a qual mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil clama pela atuação corajosa e decidida de vossas excelências, como ultimamente, tem demostrando exemplarmente.
Leonardo Boff, ex-professor de ética da UERJ

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Importância da formação teológica nas paróquias.

FORMAÇÃO TEOLÓGICO-PASTORAL PARA GESTORES PAROQUIAIS

            Os gestores paroquiais sabem muito bem que na sociedade onde pululam ofertas religiosas por toda parte, num ambiente plural como o nosso, a visibilidade e beleza das igrejas, seus cultos e atendimentos paroquiais simpáticos não podem faltar, pois para competir com tudo isso, eles são essenciais. Isso está claro. Templos, celebrações, equipes litúrgicas, padres e funcionários paroquiais que não atraem pela beleza, pela simpatia pela leveza, não conseguem seu lugar em meio à esfomeada concorrência da oferta do mercado religioso no mundo plural em que vivemos.

Pastoral de conversão
            Porém, só isso é pouco. A preocupação do gestor não pode ficar somente neste aspecto. Ela necessita estar atenta, pois o gestor deve estar em comunhão com todo o andamento pastoral e teológico da Igreja, no mundo, e, principalmente no Brasil. Assim, sua ação estará carregada de conteúdo sólido e, de fato, poderá responder às questões das pessoas de hoje, em seus anseios e incertezas, próprias da turbulência que agita a sociedade hodierna, e também à Igreja nas suas mais diferentes comunidades.
            Para tal, o gestor precisa conhecer os modelos teológico-pastorais que norteiam a ação evangelizadora da Igreja. É de extrema importância, a partir do Documento de Aparecida e, ultimamente, da Encíclica Evangelii Gaudium, para citar apenas dois, que se conceba a Igreja como “Igreja de Igrejas”, ou ainda, a paróquia como “comunidade de comunidades”; pois, o Papa Francisco não se cansa de convocar todos para uma “pastoral de conversão missionária”. Francisco desafia a Igreja, no nosso caso as paróquias com seus primeiros responsáveis, para sair da sacristia e ir para as periferias onde estão as pessoas.
            A pastoral de conversão missionária é um processo – não está terminado. O gestor precisa saber que não possui um “pacote” de verdades a oferecer a quem o procurar. Ele, necessariamente, deve entrar na dinâmica do encontro direto, tanto com Jesus Cristo quanto com o povo, também com aquele que não vem à sacristia ou à missa dominical. Nesse duplo encontro é que se efetua a conversão do agente, e consequentemente, das pessoas que são tocadas “corpo a corpo”, não como massa. Para isso, no entanto, o gestor, além de se utilizar dos meios modernos de comunicação, e além de conhecer suas técnicas; não pode deixar de se aprofundar nos conhecimentos teológicos; assim ter mais teologia que doutrina, mais princípios que dogmas, e ser mais pastor que administrador ou organizador.

Paróquia missionária
            A metodologia que orienta a conversão missionária é a de Jesus e das comunidades cristãs primitivas. Convidam-se as pessoas concretas – os indivíduos – para o discipulado. À medida que o processo mestre-discípulo se concretiza, acontece a organização, a estruturação e a instituição da entidade. Contudo, também o mestre aprende com os discípulos. Conforme as necessidades e questionamentos deles, ele se adapta e se forma. Nas igrejas embrionárias foi assim, e, pelos séculos afora não foi diferente. O perigo está em se fechar no passado, pensando que já se sabe tudo e, que não é preciso crescer e se renovar continuamente.
            Para não se deixar levar pela onda do momento, é igualmente importante salientar que conhecimentos teológicos básicos, fundamentados nos modelos eclesiológicos e pastorais elaborados por mestres experimentados, protegem os valores evangélicos de interpretações ou de doutrinas falsas. O gestor é antes de tudo profeta. Isso por ter formação teológico-pastoral sólida; e por estar inserido na vida, na atividade e na dinâmica transformadora dos paroquianos.
            Administrar com competência uma paróquia e torná-la visível e bela é, sem dúvida, necessário; contudo, colocá-la ao dispor das pessoas para ser instrumento de salvação, de libertação, de misericórdia, de vida plena é mais necessário ainda. Qualquer que seja o gestor paroquial, não deve nunca se furtar de aprofundamentos teológico-pastorais. Além de participar dos encontros de formação em sua comunidade, deve estudar e refletir por conta própria, e fazer a experiência com o povo com o qual convive.

Sugestões:
1-      Deve-se investir para que o conjunto que forma uma paróquia - templo, liturgia, equipes de celebração, cantos, desenvolvimento dos ritos, funcionários, secretários... – seja belo e visível para que os fiéis possam ver e se sintam bem;

2-      Deve-se, no entanto, não ficar somente nesse primeiro aspecto. Os gestores precisam conhecer os fundamentos teológicos e eclesiológicos da Igreja, especialmente da Igreja no Brasil nos tempos atuais;


3-      Os últimos documentos da Igreja convidam à “pastoral de conversão missionária”, isto é, desafiam a todos, mas diretamente os gestores, a fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo e com as pessoas concretas. A partir de Jesus colocar-se no caminho do discipulado com os irmãos, e com eles procurar na Igreja respostas para as perguntas e saída para as angústias que os atormentam;

4-      Os gestores devem ter mais teologia que doutrinas; mais espírito de pastoreio que de administração;


5-      Os gestores, baseados em fundamentos sólidos, nunca “negociam” os valores evangélicos, mas como profetas os apresentam, com novas roupagens ou novas interpretações para a defesa do homem todo e de todos os homens. Esta é a presença da Igreja – da paróquia – no mundo, junto às pessoas – também nas periferias da humanidade.

Pe. Mário Fernando Glaab

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Viver na história, não da história

CABEÇA ERGUIDA, PÉS NO CHÃO

            Ouve-se frequentemente esta recomendação: cabeça erguida, pés no chão. É para lembrar que, na realidade humana, as duas dimensões não podem faltar e nem ser substituídas, nem uma privilegiada em detrimento da outra. O ser humano é animal racional, não somente animal, não somente racional, é corpo e alma, matéria e espírito. Igualmente se pode afirmar que o ser humano vive da história, mas não pode deixar de fazer história.

E Deus viu que era bom!
            O primeiro livro da Bíblia nos diz que Deus contemplou a criação, obra de sua Palavra poderosa, e viu que era tudo muito bom! (cf. Gn 1). O Papa Francisco, em sua Encíclica Laudato Si, lembra algo muito interessante dos ensinamentos de São Francisco de Assis, ao citar que o Santo pedia aos seus seguidores, “que no convento, se deixasse sempre uma parte do horto por cultivar, para aí crescerem as ervas silvestres, a fim de que, quem as admirasse, pudesse elevar o seu pensamento a Deus, autor de tanta beleza” (LS 12). E o papa explica o ensinamento do grande Contemplador das Maravilhas de Deus na Natureza, lembrando que Deus se revela pela natureza, além do livro da bíblia, como em um outro livro muito maravilhoso, dando a conhecer Sua beleza e bondade. O mundo com tudo o que contém é um mistério que convida à contemplação gozosa; faz experimentar alegria e leva ao louvor. Mesmo que no mundo se encontram espinhos, ele é bem mais do que uma problema a resolver, pois nele o Deus invisível ser faz visível para quem o respeita e tem fé.
            Quando eu ainda era uma criança, lembro que conheci uma mulher, uma senhora do povo pobre, muito humilde e analfabeta, mãe de muitos filhos; sua fé era visível nos afazeres do dia-a-dia. Além de cuidar da família, enfrentando momentos dificílimos quando faltava tudo, até mesmo o alimento, a saúde, o trabalho; ela ainda arrumava tempo para ajudar aos outros. Ela era parteira; daquelas que nunca fizeram curso algum, mas que pela prática nas maiores necessidades dos pobres de Javé, aprendera a ajudar a dar à luz. Apoiar aquelas que colaboravam com o Deus da Vida era para ela sagrado! Andava por toda a região ajudando, rezando, incentivando e sofrendo junto – uma santa! -, não como a “sociedade civilizada” concebe os santos, mas conforme o Deus de Jesus de Nazaré declara seus santos, os bem-aventurados.
            Esta mulher, sem saber ler, sem saber de nada das preocupações sobre o meio-ambiente, quando fazia suas rocinhas onde cultivava o sagrado alimento para a família, tinha uma intuição divina que a levava a deixar um cantinho sem colher, para que os passarinhos também tivessem alimento. É possível acreditar?! Sim; é pura verdade!
            Ao compartilhar a sua preocupação com a natureza foi considerada, pelas demais senhoras, de ignorante, e até fizeram dela motivo de chacota. Ela, no entanto, não ligava. Não era a sua pessoa que importava, mas cuidar da família, dos necessitados e da criação de Deus. Por ela, também hoje, Deus via que tudo era muito bom.
Viver na história, não da história

            Facilmente nos apegamos às conquistas que durante a história a humanidade adquiriu. Gostamos de viver no passado. Somos conservadores doentios. Sonhamos em acumular para poder usufruir sempre mais. Queremos ter muitas posses, garantias onde nos podemos colocar nossa confiança. Na verdade, não deveria ser assim: Deus em seus dois livros: na bíblia e a natureza, nos ensina outra maneira para viver. São tantos os homens de fé, de esperança e, especialmente de caridade que testemunham este outro jeito de viver. São Francisco, o Papa Francisco, e de modo todo particular, esta mulher, típica do povo simples, pobre e lutador, convocam-nos a ter os pés no chão, viver da história, mas muito mais, na história.
            O Espírito de Deus, que pairava sobre as águas quando a terra ainda estava deserta e vazia (cf. Gn 1), continua a soprar em todos os cantos de nosso imenso planeta, principalmente onde encontra homens e mulheres que o sabem acolher, sabem intuir seu sopro de amor, de respeito e de proteção. A nossa cabeça deve estar erguida para que possamos ver, ouvir e sentir para onde o vento sopra, mas os pés devem estar bem fixos no chão da existência concreta. Toda a criação está repleta do Espírito de Deus.

Pe. Mário Fernando Glaab

sábado, 26 de setembro de 2015

Pobres e Ricos.

BASTANTE POBRES MUITO POBRES E POUCOS RICOS MUITO RICOS

            Existe uma questão que não nos deixa tranquilos: quantos pobres são necessários para formar um rico? Muito estranho, talvez nunca tenhamos levado muito a sério esta pergunta. À primeira vista parece que é questão de soma: um mais um, mais um... Quantos pobres somados resultam em um rico? Mas talvez não seja assim. Então, olhando de outro ângulo dá para esclarecer melhor. Reformulemos assim: quantos pobres são necessários para manter um rico? Aí a coisa fica diferente. Somente assim fica claro que não é a soma dos pobres que resulta em ricos, mas que estes são indispensáveis para aqueles. Pois, quanto mais pobres juntos – somados -, tanto mais miseráveis aparecem! Os ricos ficam longe de numerosos pobres.
            Já se pode afirmar com toda certeza que há proporcionalidade inversa entre ricos e pobres, isto é, numerosos muito pobres para poucos muito ricos X mais ricos moderados para mais pobres remediados. Talvez o raciocínio não seja tão claro, mas veremos:
            A tradição cristã, baseada na Escritura, sempre teve em alta consideração o trabalho aos pobres, porém o trabalho com os pobres não gozava de tanta preocupação. Quando isso acontece, cai-se facilmente no vício de manter a situação: os poucos muito ricos cevando a multidão bem pobre, para que esta os sustente. É a concretização do que Jesus viu quando estava observando a multidão que colocava dinheiro no cofre das ofertas, e comentou o fato da pobre viúva que deu mais do que os ricos, apesar da quantia ser ínfima (cf. Mc 12,41-44). Os ricos deram do que lhes sobrava, a viúva deu tudo o que tinha. Isto era para o cofre do Templo, mas no dia-a-dia da sociedade, os ricos deixam algumas migalhas aos miseráveis para que permaneçam miseráveis, e que assim possam deles absorver (roubar) tudo. O pobre miserável dá tudo o que possui ao rico, principalmente a sua dignidade, sem nem mesmo sabê-lo. Sustenta e apóia seu próprio explorador. Agradece por qualquer migalha que cai da mesa do rico, e, como não tem com que pagar, faz-lhe elogios; e o voto de confiança lhe está garantido. Triste realidade!
            Jesus, no Evangelho de Lucas tem palavras duras para com os ricos: “Ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós que agora estais fartos, porque passareis fome! Ai de vós que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis! Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois era assim que seus antepassados tratavam os falsos profetas!” (Lc 6,24-26). São Tiago não fica atrás. Ele faz uma pergunta inquietante que deveria deixar todos com as orelhas em pé: “Acaso não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?” (Tg 2,6). E continua: “Olhai (ricos): o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que vós deixastes de pagar, está gritando; o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (Tg 5,4).
            Se mesmo assim ainda existem ricos que se enquadram nos textos citados (poder-se-ia citar inúmeros outros), precisa-se admitir que o “deus deles é diferente” que o Deus de Jesus de Nazaré. Deve ser o “deus dinheiro”, que não está entre os pobres, mas está onde dois ou mais ricos estão reunidos em seu nome. Este deus justifica toda a ação gananciosa para aumentar cada vez mais os bens, mesmo que isso sacrifique o pobre, sua vítima. Os mandamentos deste deus são outros. Somente os ricos os conhecem.

Ricos abençoados!
            Há quem pensa assim: os ricos são ricos porque seu esforço foi abençoado por Deus. É a teologia da prosperidade. Quanto mais bens alguém tem, tanto mais abençoado é! Existe, no entanto, jeito de conformar este raciocínio com a fé cristã?
            Na verdade, isto é impossível. O Deus da Bíblia é o “Deus dos pobres”, e negar isto seria desfigurar totalmente sua identidade. Qualquer religião que conceba Deus como defensor dos ricos, de seus privilégios e de suas riquezas não merece ser respeitada como religião, mas, por força de sua concepção, é superstição ou idolatria.
            Jesus de Nazaré fala da dificuldade, ou melhor, da impossibilidade, de o rico se salvar (cf. Mt 19,23-24), e chama felizes os pobres porque deles é o Reino de Deus (cf. Lc 6,20). Sem dúvida, a impossibilidade da salvação do rico não está por ter cometido algum pecado grave, mas por prestar culto a um deus falso – deus dinheiro -, é um idólatra. E enquanto idólatra quem o pode salvar? O dinheiro?
Como fica então a questão da bênção? É a felicidade dos pobres em ter o Reino de Deus. Deus está onde está o pobre, o sofredor, o injustiçado, o explorado, o excluído e o pecador. Esta é a verdadeira bênção. Não é a pobreza em si, mas Deus que vem ao encontro do pobre. Ou melhor, Deus que pode ser acolhido pelo pobre, uma vez que o pobre não adora o falso deus dos ricos. O pobre, como a viúva do Evangelho, não está preso a nada. A sua verdadeira riqueza é a vida dele mesmo e a vida dos demais pobres. São Lourenço, ao ser perguntado sobre as riquezas da Igreja, respondeu que a riqueza que a Igreja tem são os pobres. Estes somados, ou acumulados, nunca formam um único rico, pelo contrário, muitos pobres fortificam-se mutuamente na confiança em Deus, protetor dos pobres.
            Quando um pobre se une a outro pobre espera-se colaboração mútua; todavia, quando um rico procura outro rico, geralmente existem intenções espúrias que destroem e matam os mais fracos. Nos relacionamentos entre os pobres existe ajuda desinteressada, mas nos relacionamentos entre os ricos, mesmo que um apóie o outro, as intenções não são boas.

Nem riqueza nem pobreza
            Muito sábias as palavras do Livro dos Provérbios: “Não me dês pobreza nem riqueza, mas o pão de cada dia. Porque, se estou saciado, eu poderia esquecer-me de ti dizendo: e quem é este Deus? E, se estou passando necessidade, poderia roubar ou maldizer o Nome de meu Deus” (Pr 30,8-9). O ideal pensado por Deus é que todos os seus filhos e filhas tenham o suficiente para viverem dignamente. Deus não colocou os bens nesta terra para que uns se apossassem deles em detrimento dos outros, mas para que fossem bem administrados e compartilhados entre todos. Porém, enquanto alguns poucos têm demais, outros muitos têm de menos.
            Na visão da fé cristã, levam vantagem os pobres – os muitos que têm de menos – não porque não possuem, mas porque Deus ouve seus lamentos e vem ao seu encontro para socorrê-los. Os ricos – poucos que têm demais – são entregues à sua própria sorte porque o deus falso não os pode salvar, pois ele não é o Deus da Vida. Já os antigos Padres da Igreja costumavam dividir a humanidade em infra-humanos e inumanos: os infra-humanos são os pobres, vítimas dos inumanos; estes, por sua vez – os ricos -, são vítimas de sua própria riqueza. Deus vem em socorro dos infra-humanos, mas não pode socorrer os inumanos “porque onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21).
            Tenhamos coragem para renunciar ao supérfluo e não deixar que o nosso coração se prenda aos bens desta terra para não adorarmos o deus falso do dinheiro; e como pobres entre pobres, ajudemo-nos uns aos outros a ter vida mais justa, digna e fraterna. Deus com certeza estará conosco, abençoando-nos e dando-nos vida em abundância.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Hunsrikisch Spessje

DER KLUGE PODDA UM DAT FROMME LISJE

            In unsa alte Kolonie hot doch fria dat Lisje gewoht. Dat Fraache wo doch iwerol bekandt weil sie so ohrich fromm gebet hot. In die Kolonie is awa doch imme de Podda Franziskus kum; dea wo en gute Podda; hot awa gen Spessja gemach. Wie ea das se wisse griet hot das dat Lisje so fromm bete kint is er sie mol besuche gan. “Gumoin, Lisje”, sorra. “Wie geht es mit dem Bete? Tut dea fa uns all bete, odde nore fa sich selbst?” Dat Lisje woa gans iwarumpelt mit dem Besuch, un aach mit de Froge, hot en bisje gedenkt, un geantwot: “Gumoin, Herr Podda. Mich geht es gut, un ich tun aach fa die ganse Leit bete, aach fa de Podda. Ich wees jo net epp das gilt weil ich kan jo net die scheene Gebeta mache wo die annere Leit mache, weil ich kann jo net leese. Aach so bete wie de Podda, das kann ich iwahaupt net. De Podda kann bete das ma jo konicks versteht, blos de Liewe Gott versteht jo das” (dat Lisje hot am Latein gedenkt). Do wolt de Podda en Spesje mache. Soot zum Lisje: “Ja, awa zum bete brauch ma jo gonet viel ze soon, noore gute Wille han. Dat wo in Gebetbuch steht, dat muss ma enfach sich se denke, de Liewe Gott weiss jo was ma will. Noore mo andlich gebet, Lisje”.
Naja, im nechste Monat woa de Podda nochmal in de Kolonie, is in die Kerich kum un hot das Lisje in de Bank knie gesien. Es hot so fromm gebet das ma gemeent hat des de Himmel uf de Erde wer. Hot mo uffgepast un gesiehn dat das Lisje so gepischpat hat un mit dem Gebetbuch in de Henn geschwitz hat. No en halb Stun horra dan mo zum Lisje gesaat: “Lisje, du hascht doch so scheen un fromm gebet; sog doch mol, wie hast du das gemach, du kannst jo doch net leese?” Do hat das Lisje awa mo fix geantwot: “Awa Podda, du host doch in dem voriche Monat gesaat ma mist blos gute Wille han, de Liewe Gott tet alles verstehn. Ich hon mei Gebetbuch gepletat un fa jede Ploot gesocht: ‘Liewe Herrgott, du weest jo was do steht, ich weiss es net, awa ich meene das selwige’. Meins du dass das net gegilt hat?” Dem Podda is es gans kalt um de Nawel woa, hot werklich konstatiert dass das Lisje fromm woa un das er noch lache must.
Gute Zeite wo die Leit noch unschuldiche woore un aach noch froha!
Gloabsmário
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