FORMAÇÃO RENOVADA
Pe. Mário Fernando Glaab
Os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em Aparecida, convocaram as paróquias para uma renovação, propondo uma verdadeira conversão pastoral (cf. DAp 370). Para que isso aconteça, ensinam os bispos, a paróquia necessita ser discípula e missionária. Sem dúvida, a preocupação de cada paróquia sempre foi e sempre será o atendimento dos fiéis que aprendem e vivem a sua fé em Jesus Cristo como o Filho de Deus em nosso meio. Em outras palavras, trata-se do trabalho pastoral. Aprender no seguimento de Jesus a levar a sua boa nova a todos, e assim conduzi-los a formar comunidades de vida cristã. Para que isso aconteça concretamente nas paróquias em nos dias atuais, algumas considerações podem ser úteis.
Formação de agentes leigos e formação dos ministros ordenados
A renovação das paróquias é uma urgência diante das mudanças profundas que afetam o mundo no seu todo. Estamos em mudança de época. Tudo está mudando e a insegurança diante do desconhecido traz angústias e leva a fugas. Paróquias que querem continuar como eram por muito tempo já não respondem mais às perguntas dos novos tempos. O homem moderno passa adiante e já não se deixa interpelar pelo discurso e pelas práticas que eram clássicas até alguns anos passados. Novas estratégias pastorais precisam ser descobertas e organizadas para que respondam aos questionamentos que a sociedade traz consigo, partindo de realidades próximas, como a pobreza, a injustiça, a exclusão, o abandono, a doença e a morte - muitas vezes violenta. As ações práticas que a Igreja, através das paróquias, desenvolvia no passado diante de situações como essas – podemos dizer ações que partiam de sua visão teológica e moral – carecem de renovação. As ações teológicas e pastorais precisam ser repensadas e renovadas.
As paróquias, em seu processo de renovação, devem investir pesado na formação de seus agentes de pastoral e na formação de seus ministros ordenados. A formação deve ser contínua e com métodos novos. Além dos conhecimentos tradicionais, necessitam de vasta experiência em conhecimentos gerais, especialmente nas áreas da comunicação e das relações humanas. Qualquer líder paroquial deve estar com todas as “antenas ligadas” para o que acontece ao seu redor. Estar “conectado” ao que prende a atenção das pessoas do momento, com especial atenção aos jovens.
Mesmo sabendo que a finalidade última da formação, tanto dos ministros ordenados quanto dos agentes de pastoral, é a capacitação para o trabalho pastoral e dar sustentação para a ação evangelizadora da Igreja na paróquia, tem-se consciência das diferenças nos objetivos imediatos entre agentes leigos e ministros ordenados. Agentes leigos buscam formação sempre mais apurada, que poderia se denominada “estudo de religião”, visando melhorar a vivência religiosa, atualizar sua fé ao mundo moderno com uma vivência religiosa que se relaciona com mais segurança no vasto mundo científico e ético. Esta busca também os torna mais capazes e ágeis nas atividades pastorais com os diversos segmentos da sociedade. Os ministros ordenados, por sua vez, nunca devem esquecer a dimensão do aprofundamento da fé, mas geralmente sua formação intenta adquirir táticas para melhor “convencer” os paroquianos. É uma maneira de “ganhar a vida”, própria de seu estado ministerial. Abandonar a formação permanente pode significar o fim da “carreira”. Essa, no entanto, não deveria ser a primeira preocupação, contudo, às vezes ela se impõe, principalmente diante da grande concorrência dentro e fora da Igreja. Não faltam concorrentes em paróquias vizinhas e por parte de pastores das mais diversas denominações que ameaçam arrebanhar os fiéis que já não são tão fiéis assim.
Somar e não diminuir
Ao repensar as atividades pastorais das paróquias sente-se fortemente a necessidade de conversão. Conversão implica mudança, tomar outro rumo. O novo rumo que se apresenta como válido para os agentes leigos e ao mesmo tempo para os ministros ordenados é o do voltar aos valores do Reino de Deus. Agentes leigos e ministros ordenados, cada qual à sua maneira, devem descobrir a possibilidade de se envolver no projeto iniciado por Jesus de Nazaré. Com Jesus o Reino se fez presente e ainda está presente no mundo. Mas, em cada época Jesus necessita de homens e mulheres que mostrem o Reino de Deus concretamente com sua vivência e tornem o mesmo atraente para o aqui e o agora. O Reino testemunhado por eles precisa tocar o homem pós-moderno. Então, formação de ambos deve levar a isso: vivência religiosa culta e bem informada e aprofundamento da fé para que, somado tudo, a ação pastoral da paróquia possa responder aos anseios concretos dos fiéis e, produzir muitos frutos de vida nova.
Sugestões:
- As paróquias, de tempos em tempos, façam uma avaliação geral de todas as suas atividades pastorais. Perguntem-se com sinceridade sobre as motivações que orientam as mesmas atividades; sobre as estratégias que usam; sobre os agentes, sua atualidade e competência; sobre as conquistas e sobre os obstáculos, sucessos e insucessos.
- Que a partir dos insucessos e fracassos se proponha a conversão pastoral, isto é, busque-se novos métodos e novas estratégias a partir do investimento formativo, tanto nos agentes de pastoral quanto nos ministros ordenados.
- Que os sucessos e as ações bem sucedidas animem a todos para progredirem sempre mais. Que nunca se pense: “já atingimos a meta, podemos descansar”, mas que uns valorizem os outros e assim tenham ânimo para se formar permanentemente.
- Que a formação dos agentes leigos vise sempre, em primeiro lugar, a sua própria vivência religiosa, para que dessa maneira, possam com seu testemunho responder aos novos questionamentos que a sociedade propõe. Que a formação não seja para se ensoberbecer diante dos menos afortunados, mas para o enriquecimento da comunidade paroquial.
- Que a formação dos ministros ordenados seja permanente e bem direcionada para as reais situações dos fiéis. De nada adianta ser doutor em “teologia medieval” se essa não diz nada para o contexto real em que a paróquia se encontra, muitas vezes maculada pela violência, pela exclusão, corrupção e todos os males de nosso tempo. Que leve os ministros ordenados ao aprofundamento da fé; mas fé enraizada em Jesus Cristo, o Homem de Nazaré, isto é, Aquele que anunciou a presença do Reino de Deus entre as pessoas de seu tempo e de sua época.
- Que ambos, agentes e ministros ordenados, cada qual na sua condição, coloquem as qualidades e as conquistas em comum para o bem da paróquia como um todo. Que não haja disputas entre eles, mas mútua colaboração. Que os paroquianos possam reconhecer em seus líderes e pastores, não somente pessoas bem formadas, mas verdadeiras testemunhas de que Deus Salvador veio morar entre nós e nos convida a fazer parte do Reino.
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