sexta-feira, 22 de junho de 2012

Deixei de lecionar teologia

LECIONAR TEOLOGIA
Pe. Mário Fernando Glaab
            Entre uma e outra disciplina que se leciona há enormes diferenças. Não é possível lecionar matemática como se leciona geografia, nem português como música, isso é lógico. Há, no entanto, algumas ciências que merecem considerações únicas. É o caso da teologia. Por teologia se entende o estudo das questões referentes a Deus e de suas relações com os seres humanos. Até aí pode parecer que não tenha nada que a distancia dos demais estudos. Mas, vejamos:
            Teologia, em nosso contexto cristão, isto é, para pessoas que têm fé do jeito cristão de crer, é bem mais do que um estudo que acumula saberes ou treina para atividades práticas. É estudo, e tem a intenção de treinar os alunos para a vida cristã, sim; mas é também contemplação. Mais do que transmitir conhecimentos, quer levar os teólogos para a esfera do divino; ou então, quer-lhes falar ao coração. Se as outras disciplinas se dirigem à cabeça e aos braços das pessoas, esta, além dessas duas direções, pretende alcançar o coração do homem e da mulher, pretende atingir o mais íntimo do humano.
                        Lecionar teologia não consiste, então, somente em transmitir dados usando os métodos modernos que estão ao nosso dispor. O professor de teologia faz isso sim, mas se ficar somente nisso, não fez o que devia fazer. O grande teólogo e professor de teologia, J. Ratzinger (hoje Bento XVI), dizia sempre: “quando você dá aulas, o máximo é quando os alunos deixam de lado a caneta e ficam ouvindo o que você diz. Enquanto eles continuarem a tomar notas sobre o que você diz, isso significa que você não os tocou. Mas, quando deixarem de lado a caneta e olharem para você enquanto você fala, é possível que você tenha tocado o coração deles” (Afirmação citada por Alfred Läpple, aluno de Ratzinger e teólogo de renome na Alemanha). E, ainda segundo testemunha Läpple: “Ele queria falar ao coração dos alunos. Não estava interessado em simplesmente aumentar os conhecimentos deles. Dizia que as coisas importantes do cristianismo só são aprendidas quando aquecem o coração”.
            Pergunta-se, a partir dessa reflexão, como se faz teologia em nossos seminários? Nas exposições de nossos professores, em nossos institutos teológicos, os alunos chegam a deixar de lado a caneta? Se o fazem, é por terem sido atingidos no coração ou por terem sido vencidos pelo sono e pela preguiça? Quais de nossos estudantes saboreiam de fato o gosto variado das diversas disciplinas teológicas? Padre Libânio escrevia, alguns anos passados, que muitos estudantes “sofrem a teologia”, querendo com isso afirmar que não aproveitam as riquezas que ela lhes proporciona. A culpa, nesses casos, é somente do aluno, ou será que os senhores professores, assim como a organização dos institutos, também têm um pouco de participação no “sofrimento” deles?
            Talvez esse seja um dos motivos que me levaram ao afastameto dessa nobre missão: ensinar teologia. Confesso que tentei, apesar de minhas poucas capacidades, transmitir bem mais que simples conhecimentos na sala de aula, procurei atingir o coração dos estudantes. Sem dúvida, não faltaram experiências boas nas quais percebia a sinceridade dos alunos que entravam em contato com o Profundo. Outras vezes, a pouca colaboração e a desmotivação se tornavam obstáculos dificílimos de se transpor. Como não havia apoio da direção do Instituto, muito menos orientação precisa, achei melhor me retirar. Quem sabe, livres de meu jeito “sem método” ou com “metodologia insuficiente”, os alunos terão novas perspectivas e ânimo renovado. Outros professores lecionarão melhor!
            Muito obrigado.

Um comentário:

  1. Padre Mário.. acabei de ler na Estrela Matutina o seu Texto aqui postado. Amei! E, não sabia da existência de seu BLOG.Eu tb. tenho um, mas já mudei de nome várias vezes e estou tentando acertá-lo! Boa noite e boa semana!

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