quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Hunsrickischgeschitje

DAT KLUCHE MEDCHE

Friha wie die Missionere, wense Mission gehal hon, die Leit so aussenanna gemach hon, uff eemol blos die Menna, annamol de Frohleit, dan die Kurissade un ach dan die Medcha, do woa groat mo son Predicht fa die junge un gekiche Medde. Dea Podda Missionea hot sich mii gemach fa was enstes voa se brenge. Hot dan mo sei Biwel genom un dat Stick aus dem Evangelium vun dea kluche un von dea varickte Jungfraue voagelest. Hot es ach richtich ausgeleht. Wie ea fertich woa is horra gefrot: “Ei liwe Med, was fa en Lehre kent iha do raus hohle?”
Dat Lisbethche hot dan mo net lang dorum gemach, un hot auspossaunt: “Ei ma muss imme richtich un gut fa de Brautigam bereitich sen, wen es ach in de Nacht sin soll!”.
Naja, jeder kann sich jo denke was ea will; awe die Weiwa teere sich gleich de Rest schun denke. Un dea wea net das Beste fa oanstenniche Leit. Fa die Weiwa vieleicht doch!
Glaabmário

www.marioglaab.blogspot.com.br

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Para Finados

NOSSOS IRMÃOS FALECIDOS
Pe. Mário Fernando Glaab

Todos nós, com maior o menor intensidade, lembramos de nossos parentes, amigos e conhecidos que já não estão mais conosco: os falecidos. Isso é próprio de cada ser humano; aliás, se estamos na história é porque tantos outros influenciaram nessa própria história. Nin-guém cai do céu como um meteoro, mas vem por sua família, por seus antepassados. Mesmo sabendo que viemos de Deus e a Deus retornaremos, sabemos também que Deus nos deu e dá a vida, junto e por meio dos demais seres humanos.
A lembrança que temos de nossos defuntos não fica no abstrato, mas nos leva a expressões bem concretas. Os cemitérios são confirmação a disso. Contudo, não somente eles. Quem de nós não cultiva a memória de seus entes queridos mortos guardando lembranças deles, como fotografias, objetos que eram seus e, principalmente, rezando por eles? Entre nós católicos, o costume de oferecer missas pelos falecidos está muito enraizado. No dia dos finados, dois de novembro, ao visitar as sepulturas dos falecidos, levando flores e coroas, todos fazem orações; fazem memória do que era a vida com eles e, o que é a união em Cristo também hoje. As orações e as missas nas intenções dos falecidos se revestem de um sentido único. No ima-ginário comum, ou da grande maioria dos crentes, as orações têm por finalidade “lembrar” a Deus de que determinado finado merece o perdão de seus pecados e ser acolhido no céu. Aquele que reza, e mais ainda o que oferece a missa, sente-se como um “advogado”, defensor de alguém que quer receber a recompensa. Nas missas que manda rezar ele traz para o seu lado a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, para que assim, contando com esse valor infinito, o pedido ser reforçado e atendido. Não se duvida da boa intenção e do ato carita-tivo empreendido pelo orador e pedinte. Mas, não seria possível esclarecer e aprofundar um pouco mais em que poderia consistir uma verdadeira oração pelos mortos?
Partindo do princípio de que Deus ama a todas as pessoas indistintamente, e que quer que to-dos se salvem, será necessário lembrar a Ele de que não deve esquecer-se dos nossos queri-dos falecidos? Não deveríamos ir um pouco além e, entregá-los, de nossa parte, totalmente nas mãos desse Deus que é amor infinito? O que poderia ser concretamente essa entrega? Sem dúvida, Deus é o primeiro interessado na salvação de todos os seres humanos. Ele faz tudo para ter todos e cada um sempre consigo. O que impede, de nossa parte, a acolhida da salvação de Deus em toda a sua plenitude, é a nossa finitude, a nossa incapacidade de cor-responder com amor sem reservas ao amor total de Deus. Então, ao rezar por alguém ou fazer memória dele, muito mais do que lembrar a Deus o que lhe convém fazer pelo defunto, aquele que ora deve dispor-se a, na comunhão com todos os seres humanos, especialmente com os falecidos, vencer os obstáculos das limitações e lutar para construir uma realidade mais con-forme os desejos do próprio Deus. Isso é, concretamente, trabalhar para que a maldade dimi-nua e que o bem aumente. Rezar por um falecido pode consistir em assumir o compromisso de continuar as lutas que ele enfrentava; melhorar o que ele não conseguiu levar a termo: sanar as consequências de seus erros e aperfeiçoar suas virtudes. A oração propriamente dita con-siste apenas no momento em que esse compromisso é atualizado, mas não se restringe ao momento, somente. Como verdadeiro gesto de amor para com o ente já falecido, nada melhor que seguir seus bons exemplos, levando-os adiante; fazendo-os melhor ainda, e ser grato por tudo. Mas, e as missas em sufrágio dos defuntos? Nada contra; tudo a favor! Bem entendido, todavia.
Na celebração eucarística, em Jesus Cristo e com Jesus Cristo, fazemos memória de toda a nossa história – passada, presente e futura – e a apresentamos ao Pai. Nessa memória, justa-mente por ser em Jesus Cristo, oferecemos a Deus o que de melhor temos: a doação total de Jesus de Nazaré para que o mundo tenha vida. O importante é estar ciente de que nós esta-mos juntos com Ele ao oferecer o melhor (de nada adianta “mandar rezar uma missa” se não se participa dela verdadeiramente!). Somos envolvidos no mistério de amor de Cristo e, nele
também podemos amar, pois ele é o caminho que nos conduz ao verdadeiro amor. Quando então, durante a Eucaristia, trazemos para a memória os defuntos, estamos comungando em Cristo também com eles. Aproveitamos o momento de especial comunhão de amor para nos enriquecermos todos na acolhida do amor de Deus. Participando com os finados do mistério da entrega total de Cristo – amor até as últimas consequências – dispomo-nos de modo único, a
construir um único corpo, o Corpo de Cristo, também com os que já partiram.
Portanto, ao visitar os cemitérios pela passagem do dia dos finados, ao contemplar as cruzes plantadas nas sepulturas, lembremo-nos de rezar por todos os falecidos; mas lembremo-nos também que rezar é muito mais do que repetir palavras – é compromisso de vida. Lembremonos também que as cruzes, na sua simbologia, vão além da morte e que apontam para a vitória
do amor, a Ressurreição; ou ainda, a acolhida nos braços do Pai.
www.marioglaab.blogspot.com.br

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vaticano II hoje (9)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 8)

            O oitavo item do pacto das catacumbas diz: “Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1 Cor 4,12 e 9,1-27.” Os textos bíblicos citados pelos bispos dizem: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte dos Senhor”; “Jesus, então, dizia-lhes: ‘Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa’. E não conseguia fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes”; “Como tinha a mesma profissão – eram fabricantes de tendas – passou a morar com eles e trabalhar ali. Todos os sábados, Paulo discutia na sinagoga, procurando convencer judeus e gregos”; “Não cobicei prata, ouro ou veste de ninguém. Vós bem sabeis que estas minhas mãos providenciaram o que era necessário para mim e para os que estavam comigo. Em tudo vos mostrei que, trabalhando desse modo, se deve ajudar aos fracos, recordando as palavras do Senhor Jesus, que disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’”; “... esgotamo-nos no trabalho manual; somos injuriados, e abençoamos; somos perseguidos, e suportamos; somos caluniados, e exortamos”; (o último texto, por ser extenso, não transcrevemos, mas sugerimos que seja consultado).
            Esta proposta frutificou e se alastrou pelo vasto continente latino-americano. Nos anos imediatamente pós-Vaticano II floresceram os movimentos populares, os grupos de famílias pobres, as CEBs, a teologia da libertação, e a Igreja se fez presente, por meio de seus líderes, tanto hierarcas quanto leigos, em muitas esferas da vida e da luta dos humanos. Nas primeiras décadas parecia que o espírito do Vaticano II renovava tudo, apesar de resistências de alguns. Aos poucos, porém, o fervor esmoreceu, e muitos dos novos hierarcas esqueceram esse item do pacto que os bispos corajosos e iluminados haviam assumido e concretizado. Trabalhar junto aos mais pobres sem poder esperar pagamentos imediatos, tornou-se menos atraente!

Daremos o tempo, a reflexão, o coração, os meios...
            Daremos tudo o que for necessário, de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., aos mais fracos e subdesenvolvidos. Proposta ousada. O fraco ou o subdesenvolvido é sempre necessitado enquanto não deixa de ser fraco ou subdesenvolvido. E, os bispos dizem “tudo”. Na verdade isso os compromete totalmente. Como nos itens anteriores, é mais uma maneira de dizer que ser discípulo de Jesus é ser evangelizador durante vinte e quatro horas por dia, todos os dias. Enquanto houver um único fraco ou pobre na diocese, o bispo não pode cruzar os braços.
            O tempo exige atenção contínua. A reflexão pede estudo e meditação sobre os princípios evangélicos, mas concretamente atualizados aos sinais dos tempos onde estão os pobres. O coração destaca o motivo interior: amar como Jesus amou. Os meio são os instrumentos adequados ao trabalho, que devem ser eficientes e ao alcance das pessoas.
            Esta disposição e este comprometimento não devem prejudicar as outras pessoas e grupos da diocese, isto é claro. O bispo não pode deixar uns de lado para se ocupar com os outros, somente. Deve, no entanto, fazer tudo para igualar os pobres (trazê-los para junto de) aos demais. Estes últimos, porém, podem ser chamados a colaborar no serviço apostólico e pastoral dos bispos. Colaboração esta, que transformou inúmeras comunidades, bairros e cidades em comunidades, bairros e cidades renovados. Ainda hoje se escuta o povo cantando “Também sou teu povo, Senhor”, sem discriminação ou privilégios.

Ampararemos os que evangelizam os pobres
            A proposta fala de leigos, religiosos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários. Transparece nestas palavras a confiança no Senhor. A iniciativa de chamar evangelizadores para os pobres é do Senhor, não dos bispos; e por isso eles os querem amparar. Há aí mudança significativa. Consciência de que o pastor deve amparar e apoiar àqueles que o Senhor providencia para que não faltem os anunciadores da Boa-Notícia aos últimos, a começar pelos leigos.
            Este aspecto mostra também que já se descobriu embrionariamente o que mais tarde se expressa como opção preferencial pelos pobres. De fato, percebe-se que não há dúvida de que os pobres são amados por Deus, sem condições, e que os bispos o sabem. Puebla, mais tarde, o explica, ao dizer: “Criados (os pobres) à imagem e semelhança de Deus, para serem seus filhos, esta imagem jaz obscurecida e também escarnecida. Por isso Deus toma sua defesa e os ama. Assim os pobres são os primeiros destinatários da missão” (1142). Dá, igualmente, importância para o potencial evangelizador desses mesmos pobres, ao afirmar que “muitos deles realizam em sua vida os valores evangélicos de solidariedade, serviço, simplicidade e disponibilidade para acolher o dom de Deus” (1147).
            Amparar pode ser entendido como algo mais do que simplesmente estar ao lado de alguém. Quem ampara toma defesa. Tomar a defesa dos pobres é uma forma de amor muito específica. Implica entrar em conflitos históricos e em arriscar bens, fama e vida. J. Sobrino, o teólogo da misericórdia da América Central, diz que “tomar sua defesa (dos pobres) implica disponibilidade consciente e ativa para sofrer o martírio. Na América Latina a história o mostra claramente. E também mostra que não se mata os que apenas amam os pobres. Matam-se, sim, os que saem em sua defesa”.

Igreja pobre
            Cada vez mais estamos vendo o paradoxo que existe quando, por um lado, a Igreja se apresenta com poder e esplendor, nos seus ritos, nos templos e nos seus ministros e hierarcas; por outro, na fragilidade, nos pecados, nos pobres de tantos rostos. Parece que a distância entre um e outro lado aumenta sempre mais. Contudo, existe nova esperança que vem de tantos “mártires ainda não canonizados” – que talvez nunca o serão – e de outros tantos que continuam seus martírios todos os dias por teimarem em ser da Igreja dos pobres. Que o desejo do Papa Francisco de que a Igreja seja uma Igreja pobre, influencie a todos nós, pobres e menos pobres. Que ninguém se iluda: sem perder tempo com os desvalidos nunca se chega ao verdadeiro Jesus de Nazaré. Pois, ele está onde estão os que não têm onde reclinar a cabeça.
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Finados - 02 de novembro


NOSSOS IRMÃOS FALECIDOS


Todos nós, com maior o menor intensidade, lembramos de nossos parentes, amigos e conhecidos que já não estão mais conosco: os falecidos. Isso é próprio de cada ser humano; aliás, se estamos na história é porque tantos outros influenciaram nessa própria história. Nin-guém cai do céu como um meteoro, mas vem por sua família, por seus antepassados. Mesmo sabendo que viemos de Deus e a Deus retornaremos, sabemos também que Deus nos deu e dá a vida, junto e por meio dos demais seres humanos.
A lembrança que temos de nossos defuntos não fica no abstrato, mas nos leva a expressões bem concretas. Os cemitérios são confirmação a disso. Contudo, não somente eles. Quem de nós não cultiva a memória de seus entes queridos mortos guardando lembranças deles, como fotografias, objetos que eram seus e, principalmente, rezando por eles? Entre nós católicos, o costume de oferecer missas pelos falecidos está muito enraizado. No dia dos finados, dois de novembro, ao visitar as sepulturas dos falecidos, levando flores e coroas, todos fazem orações; fazem memória do que era a vida com eles e, o que é a união em Cristo também hoje. As orações e as missas nas intenções dos falecidos se revestem de um sentido único. No ima-ginário comum, ou da grande maioria dos crentes, as orações têm por finalidade “lembrar” a Deus de que determinado finado merece o perdão de seus pecados e ser acolhido no céu. Aquele que reza, e mais ainda o que oferece a missa, sente-se como um “advogado”, defensor de alguém que quer receber a recompensa. Nas missas que manda rezar ele traz para o seu lado a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, para que assim, contando com esse valor infinito, o pedido ser reforçado e atendido. Não se duvida da boa intenção e do ato carita-tivo empreendido pelo orador e pedinte. Mas, não seria possível esclarecer e aprofundar um pouco mais em que poderia consistir uma verdadeira oração pelos mortos?
Partindo do princípio de que Deus ama a todas as pessoas indistintamente, e que quer que to-dos se salvem, será necessário lembrar a Ele de que não deve esquecer-se dos nossos queri-dos falecidos? Não deveríamos ir um pouco além e, entregá-los, de nossa parte, totalmente nas mãos desse Deus que é amor infinito? O que poderia ser concretamente essa entrega? Sem dúvida, Deus é o primeiro interessado na salvação de todos os seres humanos. Ele faz tudo para ter todos e cada um sempre consigo. O que impede, de nossa parte, a acolhida da salvação de Deus em toda a sua plenitude, é a nossa finitude, a nossa incapacidade de cor-responder com amor sem reservas ao amor total de Deus. Então, ao rezar por alguém ou fazer memória dele, muito mais do que lembrar a Deus o que lhe convém fazer pelo defunto, aquele que ora deve dispor-se a, na comunhão com todos os seres humanos, especialmente com os falecidos, vencer os obstáculos das limitações e lutar para construir uma realidade mais con-forme os desejos do próprio Deus. Isso é, concretamente, trabalhar para que a maldade dimi-nua e que o bem aumente. Rezar por um falecido pode consistir em assumir o compromisso de continuar as lutas que ele enfrentava; melhorar o que ele não conseguiu levar a termo: sanar as consequências de seus erros e aperfeiçoar suas virtudes. A oração propriamente dita con-siste apenas no momento em que esse compromisso é atualizado, mas não se restringe ao momento, somente. Como verdadeiro gesto de amor para com o ente já falecido, nada melhor que seguir seus bons exemplos, levando-os adiante; fazendo-os melhor ainda, e ser grato por tudo. Mas, e as missas em sufrágio dos defuntos? Nada contra; tudo a favor! Bem entendido, todavia.
Na celebração eucarística, em Jesus Cristo e com Jesus Cristo, fazemos memória de toda a nossa história – passada, presente e futura – e a apresentamos ao Pai. Nessa memória, justa-mente por ser em Jesus Cristo, oferecemos a Deus o que de melhor temos: a doação total de Jesus de Nazaré para que o mundo tenha vida. O importante é estar ciente de que nós esta-mos juntos com Ele ao oferecer o melhor (de nada adianta “mandar rezar uma missa” se não se participa dela verdadeiramente!). Somos envolvidos no mistério de amor de Cristo e, nele
também podemos amar, pois ele é o caminho que nos conduz ao verdadeiro amor. Quando então, durante a Eucaristia, trazemos para a memória os defuntos, estamos comungando em Cristo também com eles. Aproveitamos o momento de especial comunhão de amor para nos enriquecermos todos na acolhida do amor de Deus. Participando com os finados do mistério da entrega total de Cristo – amor até as últimas consequências – dispomo-nos de modo único, a
construir um único corpo, o Corpo de Cristo, também com os que já partiram.
Portanto, ao visitar os cemitérios pela passagem do dia dos finados, ao contemplar as cruzes plantadas nas sepulturas, lembremo-nos de rezar por todos os falecidos; mas lembremo-nos também que rezar é muito mais do que repetir palavras – é compromisso de vida. Lembremonos também que as cruzes, na sua simbologia, vão além da morte e que apontam para a vitória
do amor, a Ressurreição; ou ainda, a acolhida nos braços do Pai.
Pe. Mário F. Glaab
www.marioglaab.blogspot.com

sábado, 5 de outubro de 2013

Vaticano II hoje (8)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 7)

            O sétimo item do pacto das catacumbas diz: “Evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt 6,2-4; Lc 6,35; 2Cor 9,7.” Os textos bíblicos citados pelos bispos para este item, dizem o seguinte: “Por isso, quando deres esmola, não mandes tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos outros. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa”; “amai os vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca”; e, “que cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois ‘Deus ama quem dá com alegria’”.
            Este item do pacto das catacumbas é muito prático e pastoralmente desafiador, assim como, igualmente atual. Ainda mais, como todos sabem, a Igreja na América Latina enfrenta sérios problemas financeiros na organização de seus trabalhos pastorais e missionários. Organizar financeiramente uma paróquia ou diocese, em regiões mais humildes, nunca foi fácil. Qualquer ajuda financeira é sempre bem-vinda. E, por outro lado, os poderosos – os que possuem mais bens – olham para os fiéis que frequentam as igrejas alimentando seus interesses particulares, perguntando-se como conquistá-los pela simpatia e tê-los como suporte político. Dar uma dádiva para a comunidade, ser lisonjeado pelo padre ou pelo bispo, não é de se desprezar. Politicamente o voto de um membro pobre da comunidade que precisa construir a sua igrejinha vale tanto quanto o voto do vizinho rico e esclarecido que mora do lado e que pensa diferente.

Evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade
            Evitaremos incentivar ou lisonjear atitudes que favoreçam a vaidade. É compromisso corajoso, porém coerente com o Divino Mestre. Jesus de Nazaré lançou-se na sua missão sem se preocupar em fazer o “seu ninho”. Aceitou ajuda de todos, contanto que o fizessem com liberdade e sinceridade. Ele não se prendeu a ninguém, mas chamou para junto de si os mais pobres, os mais desprovidos de tudo; e não teve medo de desafiar os que eram ricos. Dizia-lhes a verdade, desmascarando a falsidade de seus corações.
            Quantas vezes, porém, bispos, padres ou líderes de comunidades, com a melhor das intenções, publicam listas de contribuições, convidam para ocuparem os primeiros lugares nas celebrações aos que doaram valiosos brindes para as festas, aqueles que são influentes... Ainda existem inúmeros templos que ostentam nos bancos ou nos vitrais os nomes dos doadores. Quem “sempre ajuda” tem “privilégios”: pode batizar seus filhos sem se sujeitar aos cursos de preparação, em outras paróquias mais centrais, não precisa participar regularmente da comunidade, etc. Privilégios que, na verdade, não o são. Poder participar de cursos na comunidade, das celebrações com os irmãos da mesma comunidade, estes são privilégios que geralmente os ricos desvalorizam. O contrário é vaidade. Vaidade para o que “paga” com sua dádiva; vaidade também para quem recebe o “pagamento”. Esse tipo de barganha nunca forma comunidade, muito menos, seguidores de Jesus de Nazaré.

As dádivas como participação normal
            Convidar os fiéis a considerar suas dádivas como participação normal no culto e demais atividades da paróquia, sem privilégios e reconhecimentos especiais, exige atitude concreta e desprendida. Jesus lembra que todos, após ter feito o que é preciso fazer, devem se considerar “simples servos” (Lc 17,10). Esse desprendimento, próprio do servo, deve ser dos que doam, mas igualmente dos que recebem em nome da comunidade, paróquia ou diocese. Não resta dúvida, os servos não podem lisonjear a quem quer que seja. Eles estão a serviço de seu senhor. O Senhor, tanto dos fiéis quanto dos ministros, é sempre Jesus Cristo e seu Reino. Tudo mais não passa de vaidade.
            Pergunta-se por que há tanta insatisfação, tanta vida sem sentido, tanta ambição? Talvez a vida de muitos mudasse se aprendessem a doar e a doar-se gratuitamente. Quer queira quer não, o ser humano é chamado a amar desinteressadamente. Existem muitos homens de mulheres entre nós que só podem receber um amor gratuito, porque não têm quase nada para poder devolver a quem delas se aproxima. Esse é justamente o caminho que a Igreja deve percorrer. Se não tiver coragem de ir ao encontro desses homens e dessas mulheres, ela não pode se gloriar de ser a Igreja de Jesus Cristo. Também não terá o direito de se apresentar como servidora do Reino de Deus. Dom Hélder Câmara lembrava, com muito acerto, que para libertar-se de si mesmo é preciso construir uma ponte para o outro lado do abismo que o egoísmo cria. É preciso ver além de si mesmo. Procurar escutar o outro e, sobretudo, procurar esforçar-se para amar os outros em vez de amar somente a si.

Ouro e prata
            Poderia, num primeiro momento, parecer que logo depois do pacto das catacumbas, quando os bispos retornaram aos seus países, no nosso caso, ao Brasil, o propósito desse item foi parar no esquecimento. Certamente aconteceu isso em muitos lugares, mas nem em todos. Ou melhor, talvez seja muito mais coerente afirmar que a Igreja pobre se tornou a Igreja dos Pobres. Pois é impossível enumerar as comunidades pobres que foram surgindo por todos os cantos de nosso vasto país. As pequenas comunidades se multiplicaram aos milhares, e, praticamente nenhum bairro, por mais periférico que seja, carece de sua igrejinha. Se nos centros das cidades surgiram templos esplendorosos, também é verdade que entre os mais pobres surgiram capelas sem nenhum esplendor, onde com toda certeza não entraram as doações daqueles que esperam louvores. Muitos bispos, presbíteros e líderes incentivaram o povo para que, somando esforços e sendo generosos, construíssem sua própria capela, sem dever nada a ninguém.
            Quando o Papa Francisco veio ao Brasil disse que não tinha nem ouro nem prata, mas que veio para trazer Jesus Cristo. Ele demonstrou isso com palavras e atos, especialmente pela simplicidade e alegria. Sentiu-se à vontade entre os mais pobres. Os pobres o receberam e o compreenderam. Da mesma forma, a falta de ouro e de prata reavivou a Igreja nas periferias das cidades e das existências. Que cada vez mais, a Igreja, seus ministros e seus fiéis possam ser testemunhas de Jesus, e que não se preocupem com o ouro e a prata dos que querem tirar proveitos para si, esperando reconhecimentos e elogios.
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br