quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Finados - 02 de novembro


NOSSOS IRMÃOS FALECIDOS


Todos nós, com maior o menor intensidade, lembramos de nossos parentes, amigos e conhecidos que já não estão mais conosco: os falecidos. Isso é próprio de cada ser humano; aliás, se estamos na história é porque tantos outros influenciaram nessa própria história. Nin-guém cai do céu como um meteoro, mas vem por sua família, por seus antepassados. Mesmo sabendo que viemos de Deus e a Deus retornaremos, sabemos também que Deus nos deu e dá a vida, junto e por meio dos demais seres humanos.
A lembrança que temos de nossos defuntos não fica no abstrato, mas nos leva a expressões bem concretas. Os cemitérios são confirmação a disso. Contudo, não somente eles. Quem de nós não cultiva a memória de seus entes queridos mortos guardando lembranças deles, como fotografias, objetos que eram seus e, principalmente, rezando por eles? Entre nós católicos, o costume de oferecer missas pelos falecidos está muito enraizado. No dia dos finados, dois de novembro, ao visitar as sepulturas dos falecidos, levando flores e coroas, todos fazem orações; fazem memória do que era a vida com eles e, o que é a união em Cristo também hoje. As orações e as missas nas intenções dos falecidos se revestem de um sentido único. No ima-ginário comum, ou da grande maioria dos crentes, as orações têm por finalidade “lembrar” a Deus de que determinado finado merece o perdão de seus pecados e ser acolhido no céu. Aquele que reza, e mais ainda o que oferece a missa, sente-se como um “advogado”, defensor de alguém que quer receber a recompensa. Nas missas que manda rezar ele traz para o seu lado a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, para que assim, contando com esse valor infinito, o pedido ser reforçado e atendido. Não se duvida da boa intenção e do ato carita-tivo empreendido pelo orador e pedinte. Mas, não seria possível esclarecer e aprofundar um pouco mais em que poderia consistir uma verdadeira oração pelos mortos?
Partindo do princípio de que Deus ama a todas as pessoas indistintamente, e que quer que to-dos se salvem, será necessário lembrar a Ele de que não deve esquecer-se dos nossos queri-dos falecidos? Não deveríamos ir um pouco além e, entregá-los, de nossa parte, totalmente nas mãos desse Deus que é amor infinito? O que poderia ser concretamente essa entrega? Sem dúvida, Deus é o primeiro interessado na salvação de todos os seres humanos. Ele faz tudo para ter todos e cada um sempre consigo. O que impede, de nossa parte, a acolhida da salvação de Deus em toda a sua plenitude, é a nossa finitude, a nossa incapacidade de cor-responder com amor sem reservas ao amor total de Deus. Então, ao rezar por alguém ou fazer memória dele, muito mais do que lembrar a Deus o que lhe convém fazer pelo defunto, aquele que ora deve dispor-se a, na comunhão com todos os seres humanos, especialmente com os falecidos, vencer os obstáculos das limitações e lutar para construir uma realidade mais con-forme os desejos do próprio Deus. Isso é, concretamente, trabalhar para que a maldade dimi-nua e que o bem aumente. Rezar por um falecido pode consistir em assumir o compromisso de continuar as lutas que ele enfrentava; melhorar o que ele não conseguiu levar a termo: sanar as consequências de seus erros e aperfeiçoar suas virtudes. A oração propriamente dita con-siste apenas no momento em que esse compromisso é atualizado, mas não se restringe ao momento, somente. Como verdadeiro gesto de amor para com o ente já falecido, nada melhor que seguir seus bons exemplos, levando-os adiante; fazendo-os melhor ainda, e ser grato por tudo. Mas, e as missas em sufrágio dos defuntos? Nada contra; tudo a favor! Bem entendido, todavia.
Na celebração eucarística, em Jesus Cristo e com Jesus Cristo, fazemos memória de toda a nossa história – passada, presente e futura – e a apresentamos ao Pai. Nessa memória, justa-mente por ser em Jesus Cristo, oferecemos a Deus o que de melhor temos: a doação total de Jesus de Nazaré para que o mundo tenha vida. O importante é estar ciente de que nós esta-mos juntos com Ele ao oferecer o melhor (de nada adianta “mandar rezar uma missa” se não se participa dela verdadeiramente!). Somos envolvidos no mistério de amor de Cristo e, nele
também podemos amar, pois ele é o caminho que nos conduz ao verdadeiro amor. Quando então, durante a Eucaristia, trazemos para a memória os defuntos, estamos comungando em Cristo também com eles. Aproveitamos o momento de especial comunhão de amor para nos enriquecermos todos na acolhida do amor de Deus. Participando com os finados do mistério da entrega total de Cristo – amor até as últimas consequências – dispomo-nos de modo único, a
construir um único corpo, o Corpo de Cristo, também com os que já partiram.
Portanto, ao visitar os cemitérios pela passagem do dia dos finados, ao contemplar as cruzes plantadas nas sepulturas, lembremo-nos de rezar por todos os falecidos; mas lembremo-nos também que rezar é muito mais do que repetir palavras – é compromisso de vida. Lembremonos também que as cruzes, na sua simbologia, vão além da morte e que apontam para a vitória
do amor, a Ressurreição; ou ainda, a acolhida nos braços do Pai.
Pe. Mário F. Glaab
www.marioglaab.blogspot.com

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