sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Concílio Vaticano II hoje (11)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 10)

            O décimo item do Pacto das Catacumbas diz: “Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus. Cf. At 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5,16”. Os textos citados: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um”; “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça de Deus. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um”; “Ficando como estava, não permaneceria tua? E vendendo-a, o dinheiro não ficaria teu? Como pôde tal coisa passar por tua cabeça? Não é a homens que mentiste, mas a Deus”; ( 8 e 9 da 2 Cor falam da ‘coleta para Jerusalém’ que é chamada de “ajuda aos santos”); “Se alguma fiel tem viúvas sob seus cuidados, que lhes dê assistência, de modo que a comunidade não fique sobrecarregada e, assim, possa assistir as verdadeiras viúvas”.
            O décimo item, acentua, sem dúvida, o compromisso que o líder religioso tem no sentido de ser fermento na massa. Não é ele quem faz o que precisa ser feito na sociedade, mas seu jeito de viver e de se posicionar exige coerência de todos, especialmente dos que governam e que decidem sobre os serviços públicos.

Poremos tudo em obra
            Os bispos estão muito bem cientes de que não são eles que devem resolver as questões pendentes e não resolvidas pelos poderes públicos. Esta é tarefa dos governos das nações. Mas, não querem, de forma alguma, se acovardar. Como cidadãos, e mais ainda, como líderes cristãos, farão tudo o que estiver ao seu alcance para que as leis sejam observadas e, consequentemente, haja desenvolvimento harmônico para todos. É a dignidade do ser humano que está em jogo. A nova ordem social haverá de ser digna para todos. Em outras palavras, é a fé cristã perpassando a todas as atividades governamentais e organizacionais.
            Houve, nas décadas pós-conciliares, em nosso continente, um verdadeiro despertar de consciências. Muitos, entre o povo simples, não se sujeitavam mais tranquilamente às maracutaias dos poderosos. E até entre políticos, governantes e homens que ocupavam altos cargos na sociedade civil houve mais comprometimento. Esse novo modo de ser Igreja – evangelizando as consciências – provocou um divisor de águas entre os conservadores e os inovadores. O que não visava o bem de todos, e que favorecia apenas alguns, não passava pelo crivo do povo que atendeu ao convite dos bispos do pacto.

Outra ordem social, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus
            Essa era a grande meta. E, não precisamos temer em dizê-lo, sempre há de ser a meta e o horizonte da Igreja, e os bispos, dentro dela, não podem se furtar nessa tarefa de impulsionar toda a comunidade na direção da dignidade.
            Hoje se fala da necessidade de se renovar a paróquia para que seja “comunidade de comunidades”. Para tal se insiste na “conversão pastoral” que deve deixar para trás estruturas obsoletas ou caducas. A paróquia, como toda a Igreja, deve recuperar a consciência de que está no mundo, para ali ser sinal da salvação trazida por Deus em Jesus Cristo, isto é, estar a serviço do mundo, e não procurar ser servida pelo mundo.
            O que é então possível sonhar? Os bispos, quando assinaram o pacto, certamente sonharam com outra ordem social, mais parecida com o ideal cristão; mas o que se pode sonhar hoje? Vito Mancuso, teólogo italiano, em uma reflexão a partir das reações que o Papa Francisco está provocando na Igreja, afirma que para alguns a ação do Papa suscita o sonho de um mito antigo e sempre recorrente de um retorno à Igreja primitiva, toda pobre, fraterna, simples, sem estruturas hierárquicas e sem leis canônicas. Mas ele esclarece que esse é apenas um mito. A realidade é bem outra. Como sugestão positiva, a partir da ação do Papa Francisco, Mancuso apresenta algo bem mais humilde, mas possível: “no direito de todos os batizados de ter uma Igreja simplesmente normal, na qual se possa confiar, uma Igreja onde os bispos não tenham residências luxuosíssimas e caros carros azuis, onde o banco vaticano esteja ao menos no nível ético de um banco italiano comum, onde o carreirismo e a sujeira (termos usados pelo Papa Bento XVI) não sejam tão flagrantes a ponto de condicionar o governo papal, onde as nomeações dos bispos ocorram por efetivas qualidades humanas e pastorais e não por servilismo que promovem incolores “Yes-men”, onde os escândalos de pedofilia não sejam encobertos e os culpados protegidos, onde na Cúria os corvos não voem até a escrivaninha papal em testemunho de venenosas lutas internas em comparação com as quais um condomínio qualquer, com todas as suas disputas, se torna uma imagem da concórdia paradisíaca, uma Igreja onde as ordens religiosas não sejam guiadas por personagens culpados de pedofilia como nos Legionários de Cristo ou de sequestro de pessoas e fraude como nos camilianos etc., etc.” (Artigo publicado pela Ihu-Unisinos, dia 12/11/13).
            Dormir é bom, mas sonhar é melhor. Sonhemos!
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br

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