quinta-feira, 7 de junho de 2012

Historinha em Hunsrick

Schoat dass du es net groat so mache kannscht!
Mário F. Glaab
Frie woa dat doch alles imme so schen uf dea deitsch Kolonie. Die Leit hann sich doch all gut verstan, un hon sich imme geholf, wo was se helfe woa. Hon sich oach imme Suntachs in de Kerich un wo en Vergnicheplatz woa getroff. Dan honses andrich gebet un aach gebrost. Die Juchend hot Bolageschpield oder Karere gesprung; die eltere Leit hon Korte oder sunscht was fa Zeitvotreib geschpield. Un die Weiwa, oje, die hann jo doch die meascht Zeit blos Schimaron ingeschenkt un iwa die Annere gesproch. Dat woa awa net so schlim. Hatte sich all gern.
In dea Kolonie honn ja imme katholische un evangelische Leit beisamme gewoht; die honn sich all in Religionssache orich respecktiert. Vielmals sin’se, eene beim annere, in die Kerich gan. Haupsechlich wen een Beedichung woa: wend dea Verstorbene een Katholick woa dan sin die Evangelische in die Katholischkerich kum; wen es een Evangelische woa dan sin die Katholicke in die Evangelischekerich kum. Awe wie das doch imme is, hie un do hon’se sich bisje gepetz. Wen de eene de annere bisje spielhaft nemme kunt, dan hare es aach aproweitiert.
Een Toach isses grat mo so passiert dass de Pastoa un de Pooda sich him Zuch getroff hann. Gleich honnse bei nanna gehuckt un vazehlt. Die Rees wa ja lang un dea Zuch iss in der Zeite net schnell gefoa. Gebabeld und gebabeld; wie es dan mittach woa is do iss es so schrecklich hees gebb. Die zwei hon oangefang se schwitze dat dea Schweis geloof is; dat woa traurich! Die Sunn hot imme meh zum Fensta rin gebrend. Uff eemol geht de Pastoa groat mo bisje fot, un dan kim’da mit dem Jacke in de Hen, soat zum Pooda: “Schoat das du es net groat so mache kannst!” – die katholischepoodre muste jo doch imme, in der Zeite, mit dem dicke Mantel gehn. Leit, woa das mit griet hon, hon sich velacht. Dea Pooda must halt ruhich bleiwe. Net lang hot es awe gedauert, do iss dea Pooda mo ins panhere gan. Uff eemol komt ea zerick un hot jo doch die Hoose in dea Henn; soat spetich zum Pastoa: “schoat das du es net grat so mache kannst!” Do hon die Leit sich nochmol richtich velacht. Zum End hon die zwei Religiesischemenna halt oach mitgelacht. Jeder hat sei Witzje gemach un aach sei Trock griet.
Dat ware die gute un schene Zeite wo die Familie so schen gelebt hon; die Evangelische un die Katholische noch fromm wahre un alles gute Christe ware. Es wer doch so gut wenn heit die Juchend die Werte vun de eltere Leit nochmol finne dere, un net blos in der Stadt un in de Internet ihre Zeit vertreibe dere. Die Religione, Katholisch un Evangelisch, hon noch viel fa de Mensche se lerne.

sábado, 2 de junho de 2012

Os pobres também sonham

SONHAR É PRECISO
Pe. Mário Fernando Glaab
            Ninguém é dispensado de sonhar. Aliás, todos querem e necessitam de noites tranquilas para dormir e, quem sabe, também sonhar. Os sonhos, caracterizados pela esperança, não podem morrer, pois ainda não são. Só morre o que é. Ou melhor, como afirma Leonardo Boff, “é da natureza do sonho sempre ressuscitar”, já que vai além do momento presente. A vida, no entanto, traz situações nas quais parece que todos os sonhos desaparecem. Surgem momentos em que a noite fica escura, mas o sono não vem. As preocupações, as dificuldades e angústias são tantas que impedem sonhar; levam, talvez, a pesadelos e sustos terríveis que se procura afastar de todo jeito.
            Geralmente situações angustiosas que atingem grande parte das pessoas de nossa sociedade consumista e imediatista são fruto da ganância e da intolerância com o outro. O princípio do quem pode mais chora menos, ou mais atualizado, quem pode mais chora mais ainda traz consigo consequências nefastas. Quando as pessoas se dão conta que não podem abarcar o mundo todo sem passar por cima dos outros, pisando-os e esmagando-os, não têm o menor escrúpulo em fazê-lo. Se preciso for, o outro que se dane! Dizem que essa é a lei da sobrevivência nesse salve-se quem puder. Valores éticos e cristãos não valem para essas situações concretas. A ganância tem seus próprios valores.
            O mais difícil para tal mentalidade é colocar-se do outro lado: do lado da vítima. A vítima não interessa. Ela está aí para isso mesmo, e deve continuar sempre como vítima. É muito bom para a sociedade que as vítimas sejam privadas de todos os sonhos; que fiquem com a sua dura realidade; que não tenham tempo para dormir e sonhar. As atividades e preocupações das vítimas devem ser tantas que as prendam ao presente e, que somente esperem seu próprio fim, passando e morrendo com elas. Os sonhos são perigosos demais, pois transportam os sonhadores para o futuro esperançoso. Existem drogas que mantêm as pessoas acordadas para não sonharem, e outras que as fazem dormir tão profundamente que igualmente as impedem de sonhar. É, no entanto, possível arrancar por completo do outro seu direito de sonhar?
            Parece, à primeira vista, que sim. Todavia, quando se aprofunda a questão, vê-se claro que apesar de todos os obstáculos, ainda que tudo pareça perdido, sonhar continua possível. Nós cristãos, olhando para Jesus de Nazaré, aquele que foi o grande sonhador, aquele que veio para inaugurar um tempo novo no qual todos tivessem acesso aos bens que Deus colocou à disposição de seus filhos e filhas, somos levados a encontrar outra saída. Humanamente falando, os sonhos de Jesus foram diminuindo e cada vez mais constatava que o Reino de Deus - seu Pai - não encontrava eco nos corações das pessoas, mas era rejeitado abertamente. Até mesmo seus amigos íntimos não estavam em condições de compreendê-lo e assumir a sua causa. No fim de sua longa e insistente caminhada, quando já pendia da cruz, Jesus se dá conta de que Deus não vai interferir nem salvar seu sonho. Os sonhos acabaram! De fato, Jesus pregado na cruz não sonha mais da forma que sonhava até então. Passa por enorme frustração e consequente transformação. Agora o seu sonho é somente o sonho de seu Pai, que parece tão longe, mas que ele, por ser o Filho, não deixa se afastar definitivamente. O sonho de Jesus, purificado de tudo, é agora somente o sonho do Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46); com este sonho o Pai o deixa dormir. Esse é o sono que dá realidade para o verdadeiro sonho de Jesus de Nazaré: o Reino de Deus anunciado e instaurado em todo o mundo pela doação total. A partir desse momento o Reino está presente e atuante com todos os que o seguem no exemplo de doação. Quem como Jesus de Nazaré se despoja de seus sonhos particulares para sonhar com o projeto do Pai que é vida e salvação para todos, pode voltar a sonhar. Sonhar verdadeiramente. Esse sonho, do qual participam todos os pobres e humildes de coração, é a Esperança colocada nos corações dos discípulos de Jesus. Deixemos que morra em nós a segurança das riquezas, as glórias das honras e as importâncias de nossos títulos. Lembremos, como diz sabiamente L. Boff, que “só morre o que é; o que ainda não é não pode morrer. A esperança é aquilo que ainda não é, mas se faz presente pelo desejo e é antecipado pelos anelos do coração”, isto é, naquele que pela fé procura seguir a Jesus de Nazaré com confiança e compromisso.
            Sonhar é preciso. Essa é a mensagem que a fé cristã oferece ao homem de hoje, como de todos os tempos. Não importa que as situações possam ser as mais adversas. Mesmo que os poderosos não queiram deixar tempo para os fracos sonhar, ainda assim, é possível. Caso não se possa sonhar com sono tranquilo, que se sonhe durante o trabalho, nos momentos de dor, de angústia e de morte. Morrer sonhando! Foi assim que Jesus morreu. A esperança que nos move é mais forte do que todos os que privam e que matam, do que todos os que querem tirar o direito de sonhar. Mesmo que nos privem de tudo que construímos até agora, arranquem todos os nossos apoios, a esperança não nos pode ser tirada, pois, Aquele que morreu desesperado – humanamente falando –, ressuscitou! Todo aquele que morrer “desesperado” como ele morreu, com ele ressuscitará. Sonhemos muito; sonhemos os sonhos do Reino de justiça, de igualdade e de dignidade. Sonhemos o sonho do Pai, revelado por Jesus de Nazaré e confirmado pelo Espírito de Amor derramado em nossos corações.
(Obs.: As citações de L. Boff são dos livros Cristianismo: o mínimo do mínimo e O Pai-nosso, ambos da Ed. Vozes).

domingo, 6 de maio de 2012

Para o Dia das Mães

MINHA MÃE E DEUS PAI-MÃE
Pe. Mário Fernando Glaab
                Deus, que és Pai e Mãe, eu também tive uma mãe que me amou. Agora ela já repousa contigo. Já não está entre nós nesse vale de lágrimas, coitadinha! Mas, Deus, permite-me recordá-la, reviver sua ternura e seu carinho. Ela me ensinou que tu és Pai-Mãe, ela me amou com o amor que vem de ti. Quando penso nela necessariamente penso em ti. Sei que o teu amor passou por ela para mim, e, mesmo após tantos anos desde que ela foi para perto de ti, sinto o teu amor quando dela me recordo.
            Minha mãe já não fala de ti com palavras doces, já não prepara a comida, já não lava roupa, já não limpa a casa, já não reza de joelhos, caminhando ou mesmo sentada, já não canta como tanto gostava, já não faz isso e aquilo de que tanto gostava. Ela já repousa no descanso eterno. Mas as lembranças que estão vivas em minha memória, em minha vida e em meu coração não deixam dúvida, ainda vens por meio dela à minha presença. Eu, já por muitos anos, sem mãe, sem pai, vivo como se ela estivesse sempre comigo. É porque ela foi para teu lar, e este lar me covida todos os dias. Sei que tu a colocaste em minha vida, deste-me a vida por ela, e continuas a alimentar minha vida pelo que foi a vida dela. Pela vida dela entraste em minha vida, e pela lembrança de sua vida, tão pobre, tão santa e tão simples, continuas a sustentar e direcionar minha vida, até que tornaremos a nos encontrar. Aí então minha mãe vai poder levar-me a ti, e dizer, com seu jeito próprio de mãe, que tu és nosso Deus – um Deus que é Pai-Mãe. Assim o quiseste, assim o será.
Um filho, em homenagem à sua mãe e em gratidão ao amor de Deus Pai-Mãe, amor que experimentou e continua experimentando em cada dia de seu passar pela vida. Amém.

sábado, 5 de maio de 2012

As coisas e sua sacramentalidade

COISAS E COISAS
Pe. Mário Fernando Glaab

            As coisas são sempre coisas, porém as coisas são bem mais que coisas. Parece uma afirmação sem lógica, mas pensemos um pouco mais, e veremos que além do que as coisas são de imediato, elas contêm realidades que as transcendem, e que vão bem mais longe.
            O ser humano é corpo e alma, não tem corpo e alma. O corpo e a alma estão unidos a tal ponto de não poderem se separar sem atingir a própria constituição do ser humano. O ser humano não existe só como corpo ou só como alma. Isso leva ao mistério, no sentido de que sempre andam juntas as duas dimensões. A alma se corporaliza e o corpo se anima. Não é possível separar manifestações somente corporais de manifestações somente espirituais no ser humano. Quando o ser humano está bem, corpo e a alma rejubilam; quando está mal, corpo e alma que padecem.
            Existe paralelo dessa unidade na união perfeita entre a humanidade e a divindade na mesma pessoa de Jesus Cristo, melhor, na pessoa de Jesus de Nazaré. Ele, como ensina genialmente Leonardo Boff, é tão humano que somente pode ser divino; como é tão divino que somente pode ser humano, com toda perfeição. Todas as palavras e todas as ações de Jesus de Nazaré são sempre palavras humanas e divinas, ações humanas e divinas. São, portanto, coisas e coisas. Coisas humanas e coisas divinas. Suas palavras e suas ações transcendem o humano, apesar de não deixarem de ser humanas; mas igualmente transparecem o divino, e, não deixando de ser divinas.

Encontro dos humanos com o Divino
            O evangelista João, logo no início de seu evangelho, afirma que a Palavra se fez carne e veio morar entre nós (cf. Jo 1,14), mostrando desse modo, que a partir de então o mistério está ao dispor do humano. A realidade humana não é somente humana, mas é também realidade divina. Agora quando homem/mulher se relaciona com o humano não se relaciona somente com o humano, mas se relaciona necessariamente também com o divino. Da mesma forma, o homem/mulher que se relaciona com o divino, relaciona-se com o humano. Houve um “casamento” indissolúvel entre o divino e o humano.
            Este é, então, o sinal: Jesus morto e ressuscitado. Nele o ser humano morre, e nele ressuscita. Sempre como ser humano total: corpo e alma. Isso nos leva a entender que morrer e ressuscitar em Jesus não são outra coisa que morrer e ressuscitar no cotidiano da vida, nos afazeres nossos e de nossos irmãos. Participar da vida de todos os seres humanos: suas alegrias e sucessos, tristezas e insucessos, é morrer e ressuscitar; é unir o humano ao divino; é deixar que o divino se una ao nosso humano.
            Quando, nas ações diárias, se rompe a união da dimensão humana com a divina rompe-se o “matrimônio indissolúvel” de Deus com a humanidade, isto é, nega-se a boa notícia de que a Palavra se fez carne e veio morar conosco – não se crê em Jesus de Nazaré. Isso acarreta dicotomia no próprio ser humano. Subtrai-se lhe a dimensão que o transcende. O ser humano, nesse caso, é humano pela metade! Perde-se totalmente nas coisas, tornando-se uma coisa entre coisas.

Por detrás das coisas
            Como humanos não podemos escapar das coisas. Fazemos parte das coisas, fazemos coisas e nos relacionamos com as coisas. Elas, todavia, como vimos, são bem mais que coisas. Todas elas têm algo que as transcende. É por essa transcendência que as vemos, as respeitamos e as usamos. Tratar alguém ou algo somente como coisa sem transcendência é negar o seu verdadeiro valor. É negar o seu mistério.
            As coisas são nossas e são para nós; são dos outros e são para os outros; são do mundo e são para o mundo (mundo em sentido positivo, como criatura de Deus). E como tal, transcendem seus significados imediatos; podemos dizer, tornam-se sagradas. O que fazemos conosco e o que fazemos com as coisas que são nossas, dos outros ou do mundo, fazemos para o bem ou para o mal nosso, dos outros ou do mundo. Não existe neutralidade. O sagrado envolve, melhor, penetra tanto as coisas que nunca mais podem ser manipuladas sem manipular o sagrado. Mexer nas coisas, consequentemente, leva a mexer com tudo: comigo, com os outros e com o mundo. Quando são respeitadas na sua dimensão sagrada e usadas para o bem elas enriquecem a todos e a tudo; mas quando não são respeitadas e usadas egoisticamente elas empobrecem a todos, criam desarmonia e fazem sofrer, especialmente aos mais fracos e vulneráveis. Isso porque o sentido profundo das coisas lhes é negado em vista do proveito egoísta de alguém ou de algum grupo que se apossa do direito que é de todos.

Destruir as coisas é matar a quem as tem
            Destruir ou matar as coisas é matar a quem as tem.
            Quando mataram Jesus, pregando-o na cruz, mataram Deus! Se as coisas são criaturas de Deus, manifestações de seu infinito amor, ao destruí-las, destrói-se Deus. Elas estão aí para nós. Deus as confiou ao nosso cuidado. Portanto, podemos delas usar, conquanto cuidarmos para que sejam de proveito a todos. Ele nos deu a capacidade para cuidar delas com a nossa inteligência e nosso trabalho. Precisam ser cultivadas para que todos, também as gerações futuras, tenham acesso a elas. O respeito que damos às coisas e aos seus possuidores, em última instância, é dado ao próprio Criador, assim como o desprezo das coisas é desprezo do Criador.
            Quem não cuida do que recebeu de Deus despreza Deus mesmo. Quem não sabe cuidar da saúde, deixa-se se enredar pelos vícios, quem não cuida da sua casa, de seus objetos, está matando a si mesmo e, está dizendo não ao amor de Deus – matando Deus!
            Quem não respeita e não cuida daquilo que é do outro, seja de sua vida como de suas coisas, não respeita e não cuida nem dele, e nem de Deus! Isso é muito grave. Sabe-se que as coisas que as pessoas possuem, tem para elas muito mais importância que o valor em si das mesmas coisas. Pensemos nas flores que uma mulher cultiva em seu jardim: são plantas como outras plantas, mas dizem muito mais que qualquer outra planta. Foram colocadas aí com muito amor, com muitas recordações e muitos sonhos. A mulher, com essas flores, quer alegrar os seus, quer cultivar a beleza da vida, quer ajudar a tornar o mundo mais bonito. Aquelas plantas, quem sabe, podem lembrar a amizade ou o carinho de antepassados, de sua mãe falecida, seus irmãos ou amigos que lhe deram as sementes ou as mudas. Cada vez que ela cultiva essas flores, as contempla, seus pensamentos e seu coração vão longe... Entoa um hino ao Deus-amor que colocou pessoas queridas em sua vida. Pessoas que ainda estão entre os vivos e, pessoas que já estão do outro lado da existência. Essas plantas, por mais humildes que possam ser, contêm em si realidades que vão muito além de coisas: fazem parte da vida daquela mulher e essa parte da vida a liga com as outras pessoas e com seu Deus.
            Para ilustrar com um fato segue uma história muito triste, algo que choca qualquer ser que se tem como humano. Eis:
            Havia uma mulher que trabalhava como governanta em uma casa canônica. Em frente da porta principal da casa só havia terra dura e pedregosa, com um pouco de capim não cuidado. O espaço não era grande, mas ajeitá-lo seria tarefa árdua. Contanto, como a teimosia da pessoa era grande, ela se dispôs ao desafio de transformar aquele espaço em um lugar que mostrasse beleza e encanto. Fez canteiros, afofou a terra, colocou adubo e semeou várias plantinhas que deveriam produzir flores variadas. Até uma árvore frutífera, uma laranjeira, encontrou o seu lugarzinho em frente da casa. Nos primeiros meses parecia que tudo era tempo perdido: as mudas não se desenvolviam. Porém, após um ano já se podia perceber a mudança. Mesmo sendo pequenas, algumas flores enfeitavam a chegada à casa paroquial. Quem por ali passava era atraído pelas cores e pelo verde das folhas. Até armações improvisadas sustentavam plantas que sobem do chão em forma de cipó.
            As plantas não eram somente plantas. Elas tinham história e significado que ia além delas. Elas transcendiam aquela realidade. Eram plantas que continham vida, pois foram plantadas aí, por alguém que as trouxe de outros lugares onde já faziam história de vida: eram do jardim da sua falecida mãe, de amigos de diversos lugares e de muitas histórias vividas. Tinham como finalidade perpetuar a vida e a história das pessoas queridas. Fazer que a mesma alegria dos antepassados e dos amigos se fizesse alegria também para os que viessem àquele lugar. Mais ainda, o contentamento aumentava quando o jardim se tornava generoso e de suas flores algumas podiam ser colhidas para enfeitar o altar da igreja, as imagens dos santos. Tinha carinho especial para Maria, a Mãe de Jesus, que sempre recebia as flores mais lindas. Nossa Senhora despertava sentimentos filiais na jardineira que assumia também a tarefa de deixar o ambiente sagrado mais aconchegante. Os sentimentos filiais traziam à mente os momentos bonitos vividos em família quando os irmãos estavam reunidos e a mãe era o centro da família, enchendo o ambiente de amor e carinho. Parecia que Maria acolhia as flores com tanto carinho que lhes dava um brilho celeste. A saudade da mãe que já se fora se transformava em esperança alegre e jubilosa. Todos os dias as plantas eram visitadas, apreciadas e cuidadas, e, sempre que flores bonitas surgiam, eram levadas para o interior da casa e para a igreja.
            Certo dia, porém, a inveja destruiu tudo!
            Não se pode falar mais detalhadamente para não ofender quem cometeu esse disparate. Contudo, conseguiram mandar embora o pároco que havia contratado a governanta, e a partir daí, tudo o que ela construíra com tanto carinho foi arrancado. Esperou-se a oportunidade exata. Pasmem! Só porque a queriam fora do ambiente (por ter sido funcionária do anterior que já fora eliminado), e queriam forçá-la a solicitar a sua saída (sabiam que faltava pouco para ela se aposentar, isso, porém, não contava nada!), ao estar enferma e hospitalizada, cortaram malvadamente pela raiz todas as plantinhas, jogaram-nas fora para não deixar, nem sequer, alguma muda que pudesse ser reaproveitada. Tudo isso na calada da ausência da mulher! Dá para imaginar o que essa pessoa sentiu quando voltou para casa e viu o seu jardim destruído, tudo arrancado pela raiz e ainda jogado fora?! Só corações de pedra não se compadecem.
Mexer, pior, desprezar os sentimentos dos outros é negar-lhes o direito de viver. Infelizmente coisas assim existem, e não somente entre os ímpios, mas também entre os “santos”. Como era de se esperar, essa agressão fez muito mal para a vítima, afetou gravemente os estados espiritual, psicológico e somático. Ela sentiu-se destruída, e com razão.

Coisas e coisas
            Não há dúvida, as coisas são coisas, mas para o sábio elas são muito mais do que simples coisas. Elas contêm o Infinito em sua finitude e simplicidade. Esse Infinito é experienciado e vivido por quem sabe transcender o imediato de qualquer coisa. L. Boff diz: “As coisas não são apenas coisas. Elas representam valores que fascinam. As coisas são símbolos de outra Realidade. Por isso falam e anunciam esta Realidade suprema”. Poderíamos ainda acrescentar, essa fala e esse anúncio é perceptível somente para quem está com os ouvidos e com o coração abertos.
            E, para pessoas que experimentam agressões e perseguições, como a da história, pode valer outra frase de L. Boff: “Haverá sempre aqueles que pensarão: cada sofrimento humano, em qualquer parte do mundo, cada lágrima chorada em qualquer rosto, cada ferida aberta em qualquer corpo é como se fosse uma ferida no meu próprio corpo, uma lágrima dos meus próprios olhos e um sofrimento do meu próprio coração”. Sempre existem homens e mulheres que sabem se compadecer e estender a mão àqueles que são vítimas do desprezo dos poderosos. Gestos humildes, mas cheios de amor, e que por isso restituem vida. Vida que é negada quando as coisas alheias são desprezadas. O bem certamente há de vencer, uma vez que Jesus venceu a morte de cruz com a confiança total no Pai, e este o ressuscitou: Jesus está vivo para sempre.
(Obs.: as citações de L. Boff estão em seu livro A Águia e a Galinha, Ed. Vozes).

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Os bispos e a diminuição dos católicos

BISPOS ASSUSTADOS
Pe. Mário Fernando Glaab
            Saiu notícia que os bispos participantes da 50ª Assembleia Geral em Aparecida estão assustados com a queda do número de católicos no Brasil. Nos últimos 20 anos a percentagem de católicos caiu de 83,34% para 67,84%. “Perdemos o povo” e, “precisamos garantir a perseverança dos católicos e reconquistar aqueles que abandonaram a Igreja”, ecoou entre eles como preocupação imediata. Nada mais normal, afinal, os bispos são os primeiros responsáveis pela Igreja.
            Pergunta-se, no entanto, por que essa diminuição? Que quer dizer “perdemos o povo”? E, por que é “preciso garantir a perseverança e reconquistar o povo”? Como fazer isso? Perguntas intrigantes!
            A diminuição percentual de católicos no Brasil não para. Isso é estranho, já que nas últimas décadas surgiram tantas “vozes sonoras” anunciando o Evangelho em nome da Igreja Católica, concorrendo com evangélicos! À medida que aumentam as pregações das diversas denominações pentecostais, aumentam também as pregações de cunho carismático-pentecostal dentro da Igreja Católica. E o espaço na mídia é disputado de igual para igual. Há oferta para todos os gostos, também curas, soluções para situações complicadas, sucesso etc.; tanto fora como dentro da Igreja. Todavia, diminuiu drasticamente a presença da Igreja Católica junto às periferias da sociedade; junto aos excluídos e sobrantes da sociedade de consumo. O fervor e o compromisso dos anos 70 e 80 que atingia as bases, lá onde as pessoas mais pobres estão quase não existe mais. Também os bispos, padres, religiosos e líderes leigos comprometidos com a justiça e a igualdade social quase que sumiram por completo. Um bispo comentou que esses tempos já se foram, graças a Deus (!).
            Talvez o dado não seja tão negativo. Pode ser que ele indica apenas que os caminhos tomados pela Igreja Católica no Brasil não estão bem afinados com a pregação e a vida de Jesus de Nazaré. A constatação parece estar mostrando que para muitas pessoas não faz diferença ouvir falar de Jesus na Igreja Católica ou em alguma igreja evangélica. O importante é encontrar uma igreja onde se sentem bem. O marketing pode influenciar, mas não é o mais importante. Assim sendo, pode-se imaginar que o “povo perdido” nunca foi totalmente achado. Mesmo que contava no cômputo geral, não era católico convicto, como tantos outros também não o são, apesar de se declararem assim.
            A preocupação em garantir perseverança dos católicos e reconquistar os desertores pode não ser tão pura. Os números impressionam. Mas se a intenção primeira da Igreja Católica deve ser, conforme seu Mestre e Fundador, o Reino de Deus inaugurado e realizado em Sua pessoa, é possível imaginar que ela, a Igreja Católica, deve colaborar com todas as igrejas que procuram o mesmo fim. Não há de ser tão importante dizer que somos a grande maioria, mas em poder afirmar que estamos juntos construindo o Reino de Deus, Reino de justiça e vida para todos, a começar pelos mais humildes e miseráveis. Ter a maioria numérica pode conter em seu bojo orgulho e falsa segurança: ser bispo da Igreja Católica pode alimentar sentimentos de glória e poder, ao invés de despertar o compromisso do serviço ao Reino, preocupação constante em Jesus de Nazaré.
            Tentar estancar o fluxo evasivo de fiéis da Igreja Católica com documentos, projetos bem elaborados nas grandes assembleias, chamadas de atenção dirigidas aos padres e aos líderes das comunidades, pouco resultado produz. Documentos e projetos elaborados nas alturas dificilmente descem ao chão onde está o povo vivendo no cotidiano a sua vida, lutando pela sobrevivência, e quando muito, ouvindo alguma explicação da Palavra de Deus aos domingos. Os fiéis, e nem os padres, têm tempo e disposição para ler e estudar esse material que aparece, geralmente, em linguajem técnica e bastante filosófica. Os padres em suas paróquias, no contato com as situações concretas, com os desafios que o povo enfrenta todos os dias, não estão atentos às possíveis chamadas de atenção que os bispos fazem quando estão reunidos nas alturas.
            Concluindo, parece não ter muita repercussão, menos consequências ainda, o fato de os bispos se assustarem com a diminuição percentual dos católicos, em sua Assembleia Geral em Aparecida; deveriam, no entanto, cada um, levar o susto diante da realidade pobre de compromisso diante do Reino de Deus, quando de sua presença junto aos diocesanos nas comunidades concretas. O pastor deve estar junto das ovelhas. Somente quando o bispo, os sacerdotes, os líderes das comunidades e o povo em geral compartilham suas experiências de vida é que se abrem para o Reino de Deus, anunciado e inaugurado por Jesus. E a Igreja Católica quer e deve se colocar nessa direção. Jesus não ficou fazendo altas reuniões, discutindo elevados e inacessíveis projetos, mas se lançou ao trabalho direto com os últimos da sociedade de seu tempo, desmascarando as falsidades que tanto mal fizeram e continuam fazendo também hoje. Falar para um mundo descrente, belos e formosos, esnobando seus ternos e paramentos caríssimos, quando a maioria do povo é miserável, lutando por vez e por voz, não impressiona, nem converte ninguém. O que falta, na verdade, é o testemunho: “Ele morreu, mas ressuscitou e, está entre nós!” O que nunca deveria assustar os bispos, por causa da diminuição do número dos católicos, é a contração das contribuições financeiras para manterem as muitas e longas viagens para todos os cantos do país e para a Europa.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Queiruga é herege ou incomoda? A quem?!

CALAR A QUEM INCOMODA
Pe. Mário Fernando Glaab
O poder não dá liberdade para a palavra
            Calar a quem incomoda: sempre foi assim e sempre o será. Quem tem poder faz; quem não o tem, leva! Contudo, não deveria ser assim. Em pleno século XXI o mundo e as relações humanas já deveriam ter chegado a um nível tal que de fato não fossem mais esses os parâmetros que ditam as normas. É ainda muito mais lamentável quando se vê claramente que o poder tem suas garras também nas igrejas ou comunidades que se dizem de fé. As igrejas, no mínimo, a partir dos princípios cristãos, deveriam procurar a verdade sem se deixar influenciar pelos poderes que querem passar por cima das cabeças dos menos favorecidos. Todavia, elas transformam frequentemente o poder em autoridade. Essa, uma vez conquistada, justifica-se a si mesma, torna-se mera desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se sujeitem ao que ele quer[1]. Em nome da autoridade, que dizem vir de Deus, cometem todo tipo de disparates contra os mais fracos ou súditos.
            Na história da humanidade sempre se encontram casos e mais casos nos quais, usando o poder autoritariamente, uns calam os outros. São calados os que incomodam. Na história de Jesus de Nazaré não foi diferente. Os judeus que concentravam o poder político e religioso julgavam-se possuidores de autoridade e por isso calaram aquele que os incomodava com suas palavras e com sua maneira de agir. Ao calarem a Jesus fizeram exatamente o quê? Eliminaram aquele que os incomodava em seu status quo. Ser grandes na religião significava para eles ter autoridade sobre os outros. A autoridade exigia serviço dos súditos que viravam escravos. Quem os questionava não podia ser considerado como alguém com direitos iguais. Mas, como diz um grande teólogo, “Jesus é a Palavra de Deus que, diante da rejeição dos poderosos, se cala; e isso por amor” (Hans Urs von Balthasar). Calaram a própria Palavra de Deus em Jesus, mas a Palavra, pela Ressurreição, fala mais alto ainda, atingindo todas as criaturas.

Líderes e teólogos calados
            Em dois mil anos de história da Igreja são inúmeros os casos em que os verdadeiros incomodadores foram perseguidos e calados. Não poucas vezes pelas autoridades da própria Igreja, ou ao menos, por pessoas que se achavam poderosos e bem de dentro da Igreja. Temos a rica história de milhares de mártires de todos os tipos e gostos. Mais recentemente, na América Latina, as perseguições se voltam contra os líderes que se posicionam a favor da vida dos excluídos, dos pobres em geral e em favor do meio ambiente. Entre eles estão vivos na memória as investidas contra líderes comunitários, mas também contra pensadores, contra teólogos da Teologia da Libertação. Lembremos-nos de Dom O. Romero, Dom Pedro Casaldáliga, Leonardo Boff, José Comblin, Jon Sobrino; e agora por último, na Espanha, a Conferência Episcopal voltou-se contra o mundialmente conhecido teólogo do “repensar a teologia para a nossa época”, Andrés Torres Queiruga. Isso é mais do que lamentável.
            Queiruga recebeu uma notificação da Conferência Episcopal Espanhola apontando sete erros doutrinais em sua obra teológica. A partir dela pode-se afirmar que o catolicismo espanhol tem um novo herege. E, este é Andrés Torres Queiruga! Para quem já leu seus livros ou mesmo um ou outro artigo de Queiruga, só pode se perguntar: como é possível? Não é preciso ser teólogo ou crítico profissional para se perceber que as intenções, no caso da “notificação”, não são puras. Sabe-se que a maioria dos bispos espanhóis são assaz conservadores e que certamente estão com receio diante da clareza teológica do notificado. Sua teologia os incomoda. Ela os desafia a descerem de suas cátedras e irem ao encontro dos homens e mulheres com seus problemas e anseios para mostrar-lhes que Deus é Pai e os ama de fato, indistintamente. Ter coragem para sair das sacristias e, em praça pública, testemunhar a presença de Deus, mais ainda, do Ressuscitado – aquele que foi crucificado para que sua Palavra não fosse mais ouvida. Dar voz à “Palavra Calada”. Não teria sido bem mais digno, ao invés de condenar, chamar ao diálogo para esclarecer os pontos que, talvez, são obscuros? Deixemos tempo ao tempo.

O mal não pode ter a última palavra
            Atitudes radicais geralmente são exageros e são más. Blaise Pascal tem uma frase que expressa bem o que estamos afirmando, diz ele: “Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa”[2]. Isso, se o pudermos interpretar, porque a convicção religiosa lhes tira toda consciência de culpa. Fazem-no achando que estão dando um grande préstimo para a Igreja e para a sociedade. Fazem-no com alegria e não levam em conta, nem minimamente, o mal que seus atos acarretam para o atingido e para tantos que são atingidos indiretamente.
            O caso Queiruga é apenas mais um caso de alcance internacional. Em nossas Igrejas e comunidades locais não é diferente. Basta estar atento para ver que também em nosso meio as vozes que incomodam são caladas. Não temos “grandes vozes” e nem grandes “autoridades”, porém, em escala menor os casos talvez sejam até mais numerosos do que os de repercussão nacional e mundial. O perigo de se usar a religião para controlar os súditos é constante. A religião através de seus líderes, muitas vezes, usa a lei para ganhar força e controlar as pessoas de que precisa para sobreviver. É necessário, mais do que nunca, recuperar a consciência de que Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus feito Homem, é aquele que liberta e que envia a pregar (falar). É preciso crer que assim como a Palavra de Deus Calada voltou a falar com toda a força também os que incomodam e são calados por incomodarem, voltarão a falar com a mesma força que impulsiona o Ressuscitado a falar.


[1] Cf. YOUNG, P. W. A Cabana, Rio de Janeiro, Sextante, 2008, p. 112.
[2] Citado por Young, P. W, op. cit., p. 157.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Homenagem a um "Herege"

Obs.: Divulgo a “singela homenagem” do colega Pe. Daniel ao grande teólogo A. T. Queiruga que sofre dura perseguição do episcopado espanhol. A intenção é provocar o interesse pela teologia de Queiruga e estar atento ao debate das questões de fé.  Quero registra igualmente a minha tristeza diante do acontecido. Pe. A. T. Queiruga é, para mim, um dos teólogos mais lúcidos e humanos que muito me ajudou para entender as questões atuais de teologia. Eis o texto do Pe. Daniel:


Uma singela homenagem “ao mestre herege”

Sexta-feira santa, não é um dia qualquer, mas dia de silêncio e reflexão interior. “A hora mais “misteriosa do Gólgota de todos os tempos”. Mas, o tempo mais escuro não pode impedir o novo amanhecer. Ainda que muitos anseiam reviver um passado “tormentoso e ao mesmo tempo vergonhoso”.
O catolicismo espanhol tem, a partir da última sexta-feira, um novo herege. Trata-se de Andrés Torres Queiruga, nascido em 1940 na paróquia de Aguiño, Ribeira (A Coruña).
Ele é professor de teologia no Instituto Teológico Compostelano e de filosofia da religião na Universidade de Santiago de Compostela. Os bispos espanhóis, mediante uma chamada Notificação, o acusam de sete erros que se referem ao “realismo da ressurreição de Jesus Cristo, enquanto acontecimento histórico (milagroso) e transcendente”, ao “caráter indedutível da Revelação” e à “unicidade e universalidade da mediação salvífica de Cristo e da Igreja”.
Eu particularmente achava que os tempos da inquisição e das perseguições já tinham acabado na Igreja Católica. Mas pelo jeito, a cada vez que um teólogo tenta ajudar a mudar a mentalidade do povo, sempre renasce aquela velha e antiquada forma de chamar um pensador de: “hereges”. O termo é tão antiquado que as novas gerações, nem conhecem esse termo.
A Notificação, de apenas 20 páginas, defende que o teólogo galego “quer romper com uma concepção da Revelação como ditado e entende como uma descoberta de Deus já presente e, nesse sentido, não mais misteriosa do que outro conhecimento. Deus não precisa ‘chegar’, porque já está sempre. Por isso, a revelação efetiva é sempre uma experiência já realizada, algo com o qual o sujeito religioso se encontra no próprio ato de tomar consciência dela. [...] Tomada nessa estrutura original e sob esse aspecto, a revelação não é nem mais misteriosa nem menos simples do que um ato cognitivo qualquer”.
Convencido da ortodoxia de seus escritos, Torres Queiruga desafia seus inquisidores para que, se em algum escrito veem que se possa danificar a fé, o demonstrem “com razões que corrijam ou refutem” as que o condenado oferece. Ele também diz que está vivendo essa censura como "uma desqualificação pessoal” que, objetivamente, o expõe “a uma calúnia pública em matéria muito grave”.
Segundo Andrés Torres Queiruga, a condenação irá causar “uma perturbação desnecessária nos fiéis e é um duro golpe para a credibilidade pública da fé, que muitas julgarão, mais uma vez, como sobrecarregada por um peso autoritário e por uma negação da liberdade intelectual”, segundo o teólogo Galego.
Desde sua casa em Santiago de Compostela, Andrés Torres Queiruga, se mostra francamente surpreendido: “Não sei de nada e estranho muito, porque ninguém falou comigo. Não tive nenhum tipo de diálogo sobre questões que mereçam ser esclarecidas ou discutidas. Por outra parte, minha teologia é sempre positiva: não somente é dialógica e nunca agressiva, mas também porque nunca questionei a interpretação tradicional de alguma verdade de fé, esforçando-me ao mesmo tempo em buscar uma alternativa construtiva e atualizada” afirmou o teólogo Católico.
Caro Professor Andrés Torres Queiruga, eu sou um privilegiado, porque tenho lido todos os seus livros, acompanhados suas inúmeras palestras, suas entrevistas, sei da sua simplicidade, aquele sorriso um tanto tímido, mas ao mesmo tempo carregado de amor pela Igreja de Jesus.

Seu discurso caro Professor Torres Queiruga é, sobretudo, um discurso para dar razão à esperança. Este discurso se encontra tanto em seus artigos e ensaios teológicos em relação à conjuntura, como em suas reflexões teológicas e homilias em relação ao ano litúrgico. O Senhor, é um “profeta da esperança” que guia, conforta, exorta e anima seus leitores e seus ouvintes, em meio a tantas vozes de “conservadorismo ultrapassado” que gostam de reviver os piores fantasmas da historia da Igreja do passado.
O senhor, Professor Andrés não é um “pensador herege”, o senhor é um cristão autentico porque baseada na fé da ressurreição, surge sua convicção de que é a vida e não a morte que tem a última palavra na história. Isto foi o que lhe motivou como “teólogo na sombra da violência” dar razão à esperança em uma situação de violência e muita incerteza, pela qual o senhor hoje esta crucificado.
Aqueles que os acusam de “heresia” professor Torres Queiruga, talvez, não tiveram tempo de ler aquelas sabias palavras de Jesus Cristo: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai por vós mesmas e por vossos filhos..., pois, se assim tratam a árvore verde, que se não fará à seca?” (Lc 23,28.31).

Padre Daniel Andrés Baez Brizueña. É Licenciado em Teologia. Bacharel em Ciências das Religiões. Licenciado em Letras. Pós Graduado em Ciências Políticas. Atualmente cursa Filosofia na UNESPAR Campus União da Vitoria FAFI/UV. Aluno do Curso de Marketing da UNINTER/Polo São Mateus do Sul. Aluno de Pós-graduação de Filosofia e Ciências Sociais da UNESPAR Campus União da Vitoria FAFI/UV.