sábado, 18 de fevereiro de 2017

Cristão e comunidade

COMUNIDADE CRISTÃ É COMUNHÃO

            Por muitos anos se entendia que a comunidade cristã ideal é aquela onde os pobres são humildes e os ricos bons. Isso, foi pregado e ensinado até mesmo por pessoas importantes das altas esferas eclesiásticas. Eles, certamente tinham boas intenções, mas, será que de fato isso era o melhor para as comunidades? Queriam, sem dúvida, harmonia entre os diversos segmentos da sociedade. Porém, aprofundando mais o sentido da pessoa e do evangelho de Jesus de Nazaré, percebe-se que isso está longe de ser conforme o que ele viveu e anunciou.

Pobres humilhados e ricos bons
            Partindo das bem-aventuranças, muitas vezes, a Igreja caía na confusão de ensinar que Deus queria a pobreza das pessoas para que pudessem gozar de felicidade. Confundia pobreza (miséria) com liberdade de espírito. Ser pobre, no contexto da pregação de Jesus, é muito mais do que não ter bens; é estar livre deles para aceitar a pessoa e a proposta de Jesus, seu Reino de justiça e de paz.
            Ensinava aos pobres que necessitavam ser humildes e submissos para que assim pudessem ser ajudados. Não deviam ser “teimosos”, nem “reclamões”. E mais ainda, deviam rezar pelos ricos, para que eles sempre tivessem muitos bens e, assim sendo bons, os ajudassem sempre de novo!
            Igualmente, a partir da interpretação superficial de diversos textos bíblicos, principalmente do Antigo Testamento, justificavam-se as riquezas dos ricos com as bênçãos de Deus dados aos bons. Hoje sabe-se que a “heresia”  chamada de teologia da prosperidade faz justamente isso! Alguém possui muitos bens porque Deus o abençoou, dizia-se.
            Para que Deus continuasse a olhar com bons olhos para os ricos, pedia-se que fossem sempre bons; que ajudassem os pobres. (Falava-se com entusiasmo dos ricos que dão esmolas). Os ricos que deram algo para a comunidade são reconhecidos, e muitas vezes colocados em destaque, e, têm seus privilégios.
            O pobre que sofre e morre sem a mínima dignidade, sem condições de sustentar e educar sua família, é sem sorte e, pior, padece porque Deus assim o quer! Blasfêmia!

Deus é comunhão
            Mesmo que a partir do Vaticano II a Igreja e o mundo são convidados a olhar a realidade com outros olhos – os do Evangelho e da pessoa de Jesus de Nazaré -, ainda se constata muito da visão errada, como vimos. Deus, com certeza, nunca quis esta divisão entre seus filhos, ricos bons e pobres humilhados. Ele, para quem crê no mistério trinitário, é Pai, é Filho e é Espírito de Amor. Isto é, comunhão. O Pai ama e se doa ao Filho; o Filho ama e se doa ao Pai; e, este Amor é o Espírito. Comunhão perfeita.
            O Deus Uno e Trino não nos ensina uma boa moral, mas Ele mesmo se comunica e se doa. Que quer dizer isso? Muito mais do que dar conselhos aos pobres e outros tantos aos ricos; quer dizer que este Deus convida tanto pobres como ricos a entrar no seu mistério, deixando-se transformar pelo amor verdadeiro que se doa. É a graça de Deus oferecida ao ser humano. É Deus mesmo que se comunica para que o ser humano possa experimentá-lo e começar a viver vida nova.
            Se o Pai, o Filho e o Espírito Santo são comunhão, os cristãos – que professam este mistério – tem a missão de retratar esta comunhão no mundo. Claro é que tal comunhão sempre será imperfeita, uma vez que o ser humano é imperfeito, mas colaborando com a graça de Deus, o ser humano pode fazer “grandes coisas”.

Ser cristão
            Não existe outra saída, ser cristão de verdade não admite continuar aceitando que é normal existirem os ricos abençoados e os pobres amaldiçoados. Jesus é claríssimo: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34), isto desafia a qualquer um. Aceitar a graça de Deus exige transformação. Se Deus é doação total, o cristão deve começar a se doar, e onde houver qualquer injustiça, qualquer sinal de egoísmo, lá ele vai ser uma pedra de tropeço. O cristão não pode se acomodar. Ele, necessariamente, vai ter que lutar contra tudo o que causa separação entre as pessoas, também o que causa a separação entre os “ricos bons” e os “pobre humilhados”. É o que a Igreja em nosso continente sul-americano tem anunciado com muita força nas últimas décadas: o Evangelho precisa transformar as estruturas e os sistemas corruptos que são causa de tantos males.
            O cristão, coerente com sua fé, não pode aceitar interesses espúrios, negociações vantajosas, mas prejudiciais aos outros, falsas ideologias que justificam os lucros exorbitantes dos gananciosos. Se, para Deus, o amor é o seu natural, como dizem os grandes teólogos, também para o cristão o amor deve ser o seu natural.
            Se, conforme Jesus anunciou, no Reino, Deus não é o Senhor, mas o Pai misericordioso, também entre os cristãos não podem mais haver os “senhores” e os “súditos”, mas somente os irmãos, lá reina a paz, fruto da justiça e do amor. Amor este, infundido pelo Espírito do Pai e do Filho, mas acolhido e vivido em comunidade. Portanto, a comunidade cristã não pode ser outra coisa do que comunhão. Caso em nossas comunidades não existir uma verdadeira busca desta comunhão, ainda não entendemos nada do mistério do Deus-Amor revelado por Jesus de Nazaré, que tantas vezes proclamamos com o Senhor, sem saber o que isso implica.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sábado, 31 de dezembro de 2016

Sprichja - Hunsrick

Solang wie es geht, geht's jo!

Wie geht es? Och, es geht. Naja, dann geht's jo.

Es geht imma bessa, haupsechlich de Berich runne!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Hunsrikisch - Historinha em dialeto alemão sul-brasileiro

DAS MODENNE LEWE

Wie die Modennheit in die Kolonie kum is do is jo Alles annesta gebb. Friia do hot ma jo das Lewe mit Gemitlichkeit oangesihen. Speta is das jo imma schlimma gebb mit dem Rasen. Keine kan jo me gemitlich sei Schimaron trike un iwa das Wetta spreche; es heist imma ma muss sihen dass georwet wet, um dass die Zeit benutz wet. Zeit, son’se, is Geld. Oje, das losst die Leit ganz varickt. Un dan, im dem Corre-corre tun se jo die Helft vergesse, die scheene Sache vun Lewe iwahaupt.
Uff emol hot doch de Fritz vun Capiroweberg mo de Pinhonleopold in de Wende oangetrof, dat in Statplaz, wo die Leit jede Wuch mo hin sin fa erre Geschefte abmache. Wie sie sich gegrist han do hat de Fritz an dem Leopold sein Finge en Zwennfoden oangebun gesihen. Hot ach gleich mo gefrot: “Na, warom hoscht du em Foden an dei Finge?” Dan hot de Leopold erklert: “Ja, das hat mei Frauche gemach; dat solt sen dass ich net vergesse tet de Brief wo sie fa unsa Rudi geschrip hot uff die Post se tun”. “Naja, un hoscht du ihn schun abgeschickt?” frot dan de Annere. De Leopold lametiert: “Gut, ich wolt es jo mache, awa mei weib hot jo doch vegess mir de Brief mitgewe”.
Da is alles Konsequenz vun dem Votschrit. Die Modennezeit tut die Leit all dum un vergess losse. Das Lewe is modenn, awa ich meene sie wea net me so schen um lustich wie um die Zeit wie es woa wie die Televison, die Komputas, um die Internet noch net uff de Kolonie existiert hot. Imma mea veliert ma die lustiche Sache wo die Familie so reich gemacht hot. Das is halt mo so in dem modenn Lewe.

Glaabsmario

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O Dízimo aproxima dos pobres.

DÍZIMO E PARTILHA COM OS POBRES

            Nada mais justo e acertado que afirmar que o dízimo é gesto gratuito de “devolução” a Deus por tudo o que dele recebemos. Quem possui consciência de que tudo vem de Deus, como manifestação de seu infinito amor, não tem dificuldade para fazer do seu dízimo a resposta amorosa e gratuita. No entanto, onde e como é possível devolver a Deus os inúmeros dons que dia após dia ele dá a cada filha e filho seu? É suficiente colocar o nome na relação dos dizimistas da paróquia e descontar um valor considerável da renda cada mês, e pronto?
           
Dízimo: devolução generosa
            Diante das muitas iniciativas de conscientização, empreendidas nas últimas décadas, para esclarecer a importância e o verdadeiro sentido do dízimo; ficou claro, para os que dão – e não pagam – o dízimo, que ele é devolução generosa, conforme a fé e a possibilidade de cada um. Fica, porém, algo de estranho no ar: se Deus dá com tanta abundância ao ponto de não reter nada para si – o ser humano é provido de liberdade para administrar a criação -, ele espera ou aceita algo em troca de seu gesto amoroso? Já o salmista se pergunta: “Que retribuirei ao Senhor por todo o bem que me deu?” (Sl 116,12) e se refere à salvação que vem pelo nome do Senhor, sem responder convenientemente. Generosidade é, neste caso, algo que vai além da devolução, pois devolução implica necessariamente uma forma de “pagamento”, mas contém em si mesmo o conceito de gratuidade.
            O generoso é generoso, não porque quer ser bom, mas muito mais, porque experiencia a generosidade gratuita. A generosidade do generoso não está em vista de provocar outros a serem também generosos, porém parte daquilo que é experiência vivida e acolhida. Quer dizer que antes de alguém ser generoso, ele já se experimenta envolvido pela generosidade do outro (Deus). Quem nunca deixou se enlevar por esta experiência nunca poderá ser verdadeiramente generoso.
            Mas então, por que devolução generosa? Quando alguém é generoso ele está devolvendo algo para Deus? O dízimo é esta devolução? Deus precisa dela? Dá o que pensar!

A generosidade e os pobres
            Alguém pode pensar que Deus colocou os pobres no mundo para que os generosos pratiquem sua virtude. Negativo! Isto seria crueldade da parte de Deus. Deus, que é Amor, nunca sacrificaria uma criatura sua para que outra possa ser virtuosa (ainda mais que a generosidade da criatura nunca ser perfeita). Se existem pobres em nosso meio não é por culpa ou planejamento de Deus. Deus fez tudo para ser bom; e, a pobreza não é coisa boa. Nem mesmo a situação de quem é pobre. Se Deus ama o pobre, não é porque Deus o quer pobre. Deus ama o pobre porque o quer bem. A generosidade de Deus é para com todos. Se existem pobres, não é porque Deus é mais generoso para com alguns e menos para com outros. O que acontece é que uns se apossam dos bens que Deus em sua imensa generosidade, coloca à disposição de todos, isto é, dos outros. Assim se desequilibra a harmonia querida por Deus. Alguns ficam com o que é dos outros. A generosidade de Deus é atingida em sua aplicabilidade. É a ganância que tanto sofrimento acarreta para o mundo todo.
            O dízimo como reconhecimento (experiência) da generosidade de Deus não devolve um pouco do recebido a Deus, que não quer nada em troca de seu amor. É, no entanto, continuação da obra de Deus, que é o Generoso. Como ele não pode não amar, ele mesmo, em Jesus Cristo, se identifica com o pobre, para que a nossa generosidade o atinja lá onde está o pobre. Todavia, o pobre – Jesus Cristo – não é atingido por quem quer fazer algo em prol dele, mas somente quando a experiência do amor de Deus o faz estar em comunhão, isto é, quando compartilha os mesmos desafios, as mesmas carências e as mesmas dores do pobre. Generosidade é identificação, assim como Deus, em Jesus Cristo se identifica com todo ser humano, preferencialmente com o pobre.
            Uma paróquia que recebe o dízimo de seus fiéis somente é “dizimista” quando se faz generosa. A sua generosidade é fruto do amor generoso de Deus, manifestado nos membros que a compõem, e por sua vez, é generosa com os pobres, os que clamam por identificação. Talvez seja também isso que o Papa Francisco nos quer ensinar quando insiste em uma “Igreja pobre e em saída”.
            Sejamos acolhedores da generosidade de Deus, sejamos dizimistas generosos para que nossa paróquia possa se identificar com os pobres, e assim se estabelecer uma rede de generosidade: Deus generoso com seus filhos e filhas generosos.

Pe. Mário Fernando Glaab

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Religiões a serviço da paz

AS RELIGIÕES A SERVIÇO DA PAZ

            A volta do religioso é constatado por todos os observadores. A sociedade superou a fase crítica da indiferença e resistência ao espírito religioso. Isto, no entanto, não quer dizer que as religiões, mesmo a religião cristã e católica esteja aumentando numericamente. O que de fato acontece é uma volta ao espírito religioso de cunho mais individual, conforme as opções de cada grupo ou indivíduo. Pergunta-se, este retorno do religioso ajuda a consolidar a paz entre as pessoas e das pessoas para com toda a criação?
            Lamentavelmente deve-se responder que não é bem isso que se vê no cotidiano. O mundo de hoje apresenta um quadro relacional cada vez mais carente de paz. Os conflitos entre os poderosos e ricos desta terra por um lado e os fracos e pobres do outro, trazem como consequência imediata enorme falta de paz. Cada vez mais o direito de vida digna é negado a indivíduos, a famílias, a grupos e a povos inteiros. Isso causa violências, revoltas e mais guerras, e a paz vai pelos ares.
            Basta olhar as manchetes dos jornais para nos escandalizar com notícias de roubos, corrupção, violências, mortes, assaltos e, ultimamente vemos crescer a vergonhosa vingança e perseguição, geralmente infundada e injusta. Assiste-se, estupefato, a ascensão de quem promete construir muros, quando na verdade o mundo precisa de mais pontes. Aliás, todas estas coisas são injustas e, ao invés de contribuir com a ordem e a harmonia, cada vez criam mais desavenças e frustações.
            Os gritos e apelos de milhões de seres humanos são abafados e, pequenos grupos defendem seus interesses particulares. Enquanto famílias inteiras são deslocadas de suas terras e de seus países, os grupos dominadores conduzem seus negócios longe desses miseráveis, sempre na escuridão ou escondendo a verdade. Prometem solucionar os problemas que tanto sofrimento trazem, porém, mantendo as massas alienadas, acarretam cada vez mais dor e morte pelo mundo afora. É triste saber que os alienados (provavelmente sem culpa, pois a mídia os cega e não deixa ver a verdade) aplaudem e elegem seus próprios “açougueiros”!

Paz
            Diante deste quadro macabro, pintado com cores fortes retratando sangue derramado pelas vítimas da ganância, inveja e maldade, pergunta-se sobre a paz. O que vem a ser paz neste mundo onde há tanta carência dela?
            Paz, com certeza, não é aquela que os ricos e poderosos desejam, a “paz dos cemitérios”. Esta é o calar a boca dos pobres para que não perturbem. Dá-se lhes uma migalha para que sejam bonzinhos. Não, isso não pode ser paz.
            A paz, tão almejada pelo ser humano, pode ser resumida na palavra “harmonia”, ou então, estar de bem com Deus, com o próximo e com tudo o que nos circunda. Mas isto deve ser melhor explicado. Esta harmonia é algo duradouro, realização plena para cada pessoa e para humanidade toda. O Papa Francisco lembra que na paz “tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs em uma peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra” (Ludato Si, n. 92).
            A paz, é então um dom que se alcança porque se crê, não no poder do dinheiro, dos ricos e poderosos deste mundo que só sabem explorar, destruir e matar, mas na realidade divina e sagrada que ultrapassa todos esses falsos valores. A paz, alcançada pela fé nessa realidade sagrada, é verdadeiramente paz porque torna o ser humano livre das amarras e de seus próprios impulsos animalescos. Somente homens livres podem experimentar paz e transmiti-la. A fé faz viver. Quem não tem paz, não vive!

As religiões
            Todas as religiões, enquanto tais, no seu ímpeto de estabelecer relações com o Transcendente, com o sagrado, estão, em última análise, procurando a tão desejada harmonia entre o Criador e a criatura: a paz. Cada tradição religiosa concebe esta paz do seu jeito. O cristão, continuando a experiência da religião judaica, a vê como Reino de Deus, da justiça, da fraternidade e da vida em abundância. É próprio de cada religião partir da realidade das relações entre os humanos, lá onde se sonha com um mundo melhor, mas onde também se enfrenta o mundo mau, desumano e destruidor da vida. A função da religião é ultrapassar esta realidade transitória para “entrar” em nova realidade. As revelações que se alcança nas religiões pretendem responder às questões dos humanos e, que assim os elevam para o nível superior da relação harmoniosa. Os limites são transpostos, não pelas próprias capacidades, mas com as que vêm do alto.
            Fé é comum a todas as religiões. Ninguém pode se considerar religioso sem fé, justamente porque a religião o conduz a outra realidade onde há “encontro” com Deus que renova as relações em direção da paz. Podem haver muitas crenças distintas entre as diversas religiões, mas a fé não pode faltar em nenhuma. A fé é fundamental enquanto as crenças e a maneira de expressar a crenças são muito diferentes e superficiais. Às vezes, quando se dá muita importância para as inúmeras crenças, surgem conflitos que muito empobrecem a busca da paz.
            A paz não é propriedade desta ou daquela religião; ela é antes, buscada por cada uma. E, à medida que uma religião ajuda seu fiel a crer na realidade divina ou sagrada, renuncia a tudo que é transitório; e se torna mediação útil entre o crente e a realidade da paz. O relacionamento com essa realidade é a paz, ou ao menos, o início da verdadeira paz. O fiel não alcança a paz porque pertence a uma determinada religião, mas porque crê na realidade transcendente, divina, sagrada, da qual a religião é mediação. A paz, é então, mais que sossego; é um estado de espírito, uma forma espiritual de crer e de viver harmoniosamente.
            Mesmo que frequentemente as religiões se tornaram culpadas por ambiguidades e até por sofrimentos, frutos de mecanismos violentos; isto não tira seu valor intrínseco na busca da paz para todos. O que acontece, nestes casos, é que se esquece a fé fundamental e se coloca em seu lugar crenças e costumes que dividem e fanatizam. Nenhuma religião pode incitar seus fiéis à violência. E como diz um teólogo de nossos dias: “(Nas religiões) a reocupação em vencer não deve prevalecer em relação ao convencer, e o convencer não pode ser condição para conviver pacificamente” (Elias Wolff, coordenador do Núcleo ecumênico e Inter-religioso da PUCPR).

Conclusão
            A paz é anseio universal. Porém, alguns a procuram egoisticamente só para si ou para o seu pequeno grupo. Ignoram os demais e, por isso, usam meios, os mais deploráveis, quais são a exploração, o roubo, a corrupção e múltiplas formas de violência. Enganam-se, pois a paz não consiste nestas coisas. Mesmo que todas as religiões sejam intermediárias entre seus fiéis e a realidade sagrada, alguns as usam com intenções falsas: aproveitam-se delas para, mais uma vez extravasar sua ganância egoísta. Alienam os mais fracos, dando-lhes a ideia de que observando certos costumes e escondendo-se atrás de determinadas crenças, são possuidores e promotores da paz.
            Todavia, as religiões contribuem para a paz na humanidade quando ensinam a ser com o outro, ensinam a conviver social e espiritualmente com o outro, a buscar com o outro, dialogar com o outro. Talvez este seja o primeiro passo no rumo da paz duradoura, com a qual todos sonhamos; e que Jesus Cristo anunciou e proclamou. É preciso ter coragem para converter, não somente a nós mesmos individualmente, mas também as nossas religiões.
Pe. Mário Fernando Glaab

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Meditar e refletir

CRER É PRECISO, PENSAR TAMBÉM

            Sem entrar na complicada discussão da relação entre razão e fé, entre conhecimento científico e conhecimento infuso, queremos refletir e meditar sobre “crer” e “pensar”. Pois se alguém afirma que hoje, mais do que nunca, é preciso crer, devemos completar, e pensar também. Aliás, os tempos e as situações, no percorrer da história, mudam, mas os desafios são sempre os mesmos. O ser humano não deixa de ser impulsionado a procurar respostas para os questionamentos mais existenciais, tanto na dimensão da fé quanto na dimensão racional.

            Se acreditar é fruto da fé, é consequência da adesão consciente a Alguém ou a algo que escapa da demonstração científica. Neste caso, ter fé é mais do que aceitar simplesmente. Na verdade, a doutrina cristã ensina que a fé é uma das três virtudes teologais, isto é, infusas por Deus na pessoa que acolhe Jesus Cristo como Senhor no batismo. É, então, um dom que o fiel recebe, mas que ele precisa desenvolver. Claro que não se pode restringir a fé somente aos cristãos, achando que outras pessoas não possam ter fé.  Deus não está amarrado aos nosso esquemas sacramentais; eles, porém, são o caminho ordinário que por meio de Jesus Cristo nos levam ao mistério de Deus.
            Não resta dúvida de que o ser humano, sempre foi e sempre será convidado a sair de si, de suas respostas imediatas, e se elevar a uma outra esfera, a esfera do sobrenatural. Nem mesmo as respostas da filosofia satisfazem o profundo desejo de conhecer o sentido da vida, do Transcendente e do mundo. Justamente aí entra o convite à fé. Deus, de mil e uma maneiras se comunica aos humanos – sempre em “linguagem” humana -, para que saiam de si e tenham fé. No entanto, Ele não obriga ninguém a fazer isso. Ele não dá sinais que possam ser comprovados em laboratório ou calculados matematicamente. Ele propõe, convida e aguarda adesão. É misterioso o fato de alguns crerem e outros não crerem. Mas, a fé igualmente não pode ser mensurada com medidas humanas. Quem pode entrar no íntimo do coração alheio para lhe medir a fé ou a falta de fé? Na verdade há dois tipos de pessoas que afirmam a necessidade da fé: aqueles que a possuem e aqueles que não a têm mas a confundem com sua preguiça de pensar. Estes últimos justificam seu comodismo ou sua incapacidade de pensar dizendo que é preciso crer, uma vez que as coisas são muito complicadas para ser entendidas.

Razão
            É próprio da razão humana pensar. Seu pensamento, quando bem ordenado, busca respostas para os mais diversos questionamentos da vida. No decorrer da história o pensamento humano fez enormes progressos, conquistou muitos conhecimentos, desenvolveu os mais diversos saberes que, além de satisfazerem muitas curiosidades, tornam mais digna e mais prazerosa a vida humana. A tecnologia – fruto do desenvolvimento científico -, quando colocada a serviço do bem de todos, facilita a comunicação e a colaboração entre as pessoas, tornando a vida mais alegre e menos assustadora diante de tudo que se lhe opõe.
            Como o ser humano é ser-pensante, nada justifica renunciar a tal propriedade. Quanto mais humano alguém quer ser, mais pensante deve ser. Nada o dispensa de procurar respostas diante de sua “curiosidade” frente ao mundo e frente aos desafios da própria vida, da vida dos outros e de toda a criação. Passar por esta vida sem pensar seria o mesmo que passar por inúmeras oportunidades de se realizar e de ajudar na realização dos outros, e nada fazer. Seria dizer: eu não posso ajudar, mas creio que Deus o faz por mim. Isto, na verdade, seria covardia. Seria atribuir a Deus o que é da responsabilidade humana.

Meditar e refletir
            O homem de fé medita, o homem que pensa reflete. Isto, todavia, é muito esquemático, pois a meditação conta com a reflexão, e a reflexão conta com a meditação. Somente medita quem reflete e, a reflexão abre portas para a meditação. Como vimos, a fé é um dom gratuito de Deus, aceito e cultivado livremente pelo ser humano. Mas isso não o dispensa da busca incessante de respostas para os desafios da vida e do mundo. E, o ser humano que reflete, mesmo que não tenha fé, pode se sentir impulsionado a dar um passo para o além, para o Transcendente. Seria o passo para a fé.
            Crer é preciso, no entanto, pensar também o é. E, pode-se dizer mais ainda: ninguém pode ser forçado a crer, mas quem não quer pensar, também não pode exigir nada do relacionamento humano, uma vez que ele não colabora com nada. Crer é graça, pensar é dever humano.

               Crer por não querer pensar é covardia; pensar para crer é heroísmo.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Hunsrickisch Geschitje

DAT FISCHEREI

            Fria wie mea all noch Kinna wore, so freche Kurizzode, do is doch Allehand intressantes passiat. Mea hatte doch dicht bei uns die Rio; de Fluss is doch groat so viahunnet Meta hinna unsa haus dorich gelaaf. Wo mea gewoht hon dat wo jo so en schen Platz: de Fluss, dat Potrea mit grosse Beim vun alle Satte, de Wech wo de Berich nuff gang is, die Heissa – unsres un de Nochbas eres – die Kuhstell, Schweinestell, Hinkelstell, die Paiol un was noch alles debei geheat. Dat hat alles herlich ausgesien.
Wen mo so via oda finf Kuri beisamme wore, do is Allehand oangefang gep. En schene Toach, so in en heise Sommanommintach, do wolte die Lausbuwe mo fische gehen. Naja, Werm honse sich gesucht un mo die Angle sammegeraft. Gleich wore se ach an de Riobaranke. Schun hot de een geschroit: “Chá pekei um lampari”; de annere: “eo um Kará. É pequene, mais eo chá coloquei outra minhoc, e vo tirá um pintode”. Un so is dat so em Zeit gang. Jede wolt jo doch de beschte Fischa sen, un die meiste un greste Fisch fange. Wie awa mo so em Stunn rum wo, do wo de Luscht vobei. Uff emol sot de grescht von de Kuri: “Eo vo tomá panho; o ákua tá worem”. Dat wo blos ruck um zuck un Jede wolt doch so schel wie ficks in das Wassa.
Ja, sich se bote in dem worem Wassa, das wo jo schen um gut; awa di Kurizzode hatte doch kei Botshose, un die Unnahose deft doch net nass gemach werre, das die Mama das net rausgriche tet.Die Mama hat doch imma oangehal, die Buwe solte net in’s Wassa, dat wea so geferlich. Die Junge hon awa gokei Zerimonie gemach. Die hon mo geguckt ob grot kei Weibsmensche in de Neh were, un dan Alles ausgezoh: Hose, Hemd un Unnahose. Do honse gestan wie Adam un Ev im Paradies, puddeleschichnackich! Naja, das wo jo ach net de greste Scandal. Die Kelle wolte sich doch mo bisje vergniche.
Awe, awe! Uff emol hat ma spreche an de Barranke geheat. Un werklich, dat wo doch die Mamai mit de Komadre un ihre Tochta, tat Mariche wo schun so en Medche woa. Un jetz? Keine deft doch aus dem Wassa, weil se doch sich net so zeiche kinte. Parbaritode! Blos die Kepja hon raus gekuckt. Noch net mo schwemme wo meglich, weil dan de Hinnre zum voastand komme kint. Die weiwa hon dat gestan un geschtaunt: “Was macht dea in dem Wassa? Wen dea fosauft! Dea hat doch gonet gebeicht in de letzte Toche, dea kommt in de Hell. Gleich raus!” Wie dan de ene Kuri mo gesot hot “ja, mea wolle raus awe mea kinne jo net”, do hot die Mamai es schun verstan. Sie soat iwa die Komadre “komm mea gehn hem, die Kuri komme oach gleich. Dat Marichen wolt jo ken noch bisje watte, awe die Muttre hon das doch net erlaupt.
So hat die Fischerei sich geend, um Alles is gut ausgang. Gute Zeite!

Glaabsmário