sexta-feira, 28 de março de 2014

Hunsrick - In der Gute Zeite

Es komt en Briidache!
Voa de Zeite wo die Kinna alles wisse, aach das wasse net wisse breichte, un in de Zeite wo noch viel mea reinichkeet zwische de Leit woa, is mo en Geschichtje passiat wo ich eich  jetz mo vatzehle. Dat kleine Evache, wo doch imma so lieb woa, is jede Toach bei de Podda gang un hat dem vun seine Spilerei, von alles wo in de Schuhl passiat is, vazehlt. Dem Podda, woa groat uff de annere Seit von de Stross gewohnt hat, hat das aach imma orich Spass geb. Eene scheene Toch kommt dat Evache zum Podda un hot mit strohlende Aue un starke Stimm gesoat: “Podda, ich grieche en Briidache!”. Dat woa awwe fa de liewe Podda een Neiichkeet die ea net am watte woa. Das hat ea net glowe kinne. Hot dan mo gleich gefrot: “Na, wie weist du sowas? Warom griest du en Briidache?” Dat Evache hot dan mo erklert: “Vor een Joha hat die Mama mo kranck im Bett geleh, un uff eemol hot es gehes: ‘Eva, du host een Schwestache griet’. Jetz licht de Pappa in Bett un is krank; was soll ma dan do watte?!...” De podda, entwedda er ferschrock wo um dem Pappa sein Kranckheit, must awwe doch noch lache. Soat dan zum Evache: “Nee, ich glawe das es noch bisje lenga dauert bis du een Briidache griest. Un das hat nicks mit dem Pappa seine Kranckhet ze tun”. Dat Evache is heem gan ohne was ze verstehen. Heit komme so scheene Geschichtja iwwehaupt nemme voa. Die Kinna wisse jo alles schun voaraus; un noch zu viel.

Glaabsmário.

domingo, 9 de março de 2014

Concílio Vaticano II hoje (14)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 13)

            O décimo terceiro e último item do Pacto das Catacumbas diz: “Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces. Ajude-nos Deus a ser fiéis”.
            Sem sombra de dúvida, o último item do pacto revela a seriedade do propósito. Demonstra que o compromisso não deve ficar guardado entre os bispos somente. Os diocesanos devem saber o que os bispos assumiram. E mais ainda, aos diocesanos se pede ajuda, compreensão e orações. Revela humildade diante do desafio, que não haveria ser pequeno.
            Depois de meio século do histórico Pacto das Catacumbas não é possível dizer superficialmente que tudo ficou no passado. O pacto, e claro, bem mais ainda, o ar renovador do Concílio Vaticano II, produziram muitos frutos na América Latina e pelo mundo afora. Talvez um ou outro bispo não conseguisse atingir, de imediato, seus diocesanos como gostaria. Mas os novos ares se alastraram pelo mundo. Muitas transformações ocorreram.

O jubileu
            Como sugerimos em todos os itens, agora na conclusão, achamos útil lembrar que o jubileu pode ser um momento oportuno para rever, à luz do Pacto das Catacumbas, o nosso modo de ser Igreja hoje. Se por um lado o cansaço freou o ritmo da caminhada de muitas comunidades; por outro, pululam em todos os cantos novas iniciativas. Os pastores estão mais perto do povo. Aliás, são forçados a se aproximarem, caso contrário, ficam sozinhos, ou seu rebanho perde toda expressão. O bispo, o padre, ou qualquer agente de pastoral, se não se coloca junto ao seu povo, não será procurado por ninguém! O povo encontra um outro mais atencioso e simples. Isso é muito positivo.
            O papa Francisco ensina que o pastor precisa estar na frente do seu rebanho para abrir caminhos, estar no meio para caminhar com ele, e, estar atrás do rebanho para segui-lo, pois também o rebanho, inspirado pelo Espírito, percebe onde pode encontrar verdes pastagens. Portanto, o pastor que ainda busca seu bem-estar antes do bem-estar do rebanho está desatualizado. Sendo generoso para com um bispo assim, pode-se dizer que está, ao menos, atrasado por mais de cinquenta anos!
            Concluindo, queremos fazer nossas as palavras do teólogo A. T. Queiruga: “Não é possível colocar portas ao livre vento do Espírito. A nós cabe esperar humildemente, abrindo-lhe as velas de nossa fidelidade e emprestando-lhe generosamente nossas mãos. Mãos que somente têm direito de apresentar-se diante do mundo unidas no diálogo e no trabalho do amor, acima de quaisquer discrepâncias teóricas” (Congresso Continental de Teologia, São Leopoldo, 2012).
Pe. Mário Fernando Glaab

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sábado, 1 de março de 2014

Concílio Vaticano II hoje (13)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 12)

            No décimo segundo item do Pacto das Catacumbas os bispos assim se expressaram: “Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: - esforçar-nos-emos para ‘revisar nossa vida’ com eles; - suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo; - procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...; - mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. (Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1 Tm 3,8-10)”. Os textos citados pelos bispos assinantes do pacto são os que seguem: “Chamou, então, a multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará”; “Naqueles dias, o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de língua grega começaram a queixar-se dos fiéis de língua hebraica. Os de língua grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. Então os Doze apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: ‘Não está certo que nós abandonemos a pregação da palavra de Deus para servirmos às mesas. Portanto, irmãos, escolhei entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, para que lhes confiemos essa tarefa. Deste modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra’. A proposta agradou a toda a multidão. Escolheram então Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um prosélito. Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. Entretanto, a palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos se multiplicava consideravelmente em Jerusalém. Também um grande grupo de sacerdotes judeus aderiu à fé”; “Os diáconos, igualmente, devem ser pessoas decentes, homens de palavra, não viciados no vinho nem afeitos a lucros torpes. Saibam guardar o mistério da fé graças a uma consciência pura. Será preciso, primeiro, examiná-los; depois, caso não haja nada a censurar-lhes, é que assumirão as funções de diácono”.
Os textos neotestamentários não poderiam ser mais claros. Os pastores do povo de Deus necessitam estar dispostos a servir, e servir sempre, assim como Jesus soube dar a vida pela causa do Reino do Pai. O testemunho dos pastores dava condições para que o número dos discípulos crescesse cada vez mais. O que esse item do Pacto das Catacumbas pretende renovar na Igreja pós-conciliar?

Partilhar a vida
            Os bispos entenderam muito bem que o ministério será verdadeiro serviço se toda a vida deles for partilha de vida; caso contrário, o ministério será, diríamos hoje, atividade profissional. Algo feito em vista do salário e, que se sujeita a horário determinado. Esta nunca pode ser atitude do pastor que serve verdadeiramente como o Bom Pastor. O que caracteriza a partilha da vida é a caridade pastoral. Alguém até pode dar a vida por alguma causa, mas a caridade pastoral vai muito além. Ela quer que ninguém se perca e, que os “perdidos” sejam reencontrados e recuperados – salvos -, custe o que custar. A caridade, por sua vez, não pede nada em troca; ela é gratuita.
            A partilha da vida acontece com os “irmãos em Cristo”. Em outras palavras isso quer dizer que é com todos aqueles pelos quais Cristo derramou o seu sangue. Não resta dúvida, a partilha há de ser sem reservas. Cristo deu a sua vida por cada ser humano, e, espera que os bispos façam a mesma coisa. Contudo, como não poderiam deixar de fazer, tiverem presentes as pessoas concretas de suas dioceses, os sacerdotes, os religiosos e toda a multidão de leigos a eles cofiada. A partilha da vida, no entanto, não pode ser sem estratégias. Por isso a necessidade de revisar sempre de novo com o povo a vida que não pode ficar em propósitos bons, mas confrontada com as carências e anseios das pessoas. Sem colaboradores bem formados e escolhidos para animar os irmãos em Cristo poucos frutos serão colhidos. Mas estes últimos não podem ter espírito mundano que, quando mais alto na hierarquia, tanto mais honrarias quer. A palavra “colaboradores” o expressa bem: não são chefes, mas servidores. O desejo de estar humanamente presentes e ser acolhedores aponta para o compromisso de caminhar juntos. Os bispos têm consciência de não serem melhores do que ninguém, mas que com todo o povo de Deus precisam de conversão contínua, avançar no caminho do bem e, aprender com o povo simples as virtudes que aí se escondem. A abertura às diversas religiões expressa a disposição para o diálogo. A ninguém é permitido fechar as portas, e todos podem enriquecer a experiência religiosa, quando é feita com humildade.
            A proposta de partilhar a vida foi ousada. Como Cristo mostraram-se dispostos a tomar a cruz de cada dia, como os apóstolos procuraram estar cheios do Espírito Santo, e como os diáconos, pessoas cheios de fé.

Por 50 anos na América Latina
            Alguém tenta segurar a Igreja – seus pastores – nas sacristias! E o pior, alguns bispos, padres, religiosos e agentes de pastoral gostaram da proteção da sacristia. Ir para as ruas é muito perigoso! Lá tem muita violência, malícia e todo tipo de maldades: “a Igreja não pode se misturar com essas coisas! Política? nem se fala. Onde é que se viu, agora até a Igreja quer se meter em questões políticas e econômicas!”. Surgiram os padres dos shows, das novenas, das pregações entusiastas etc. Apareceram muitos abastados dispostos a “contribuírem” com obras sociais, com esmolas para os pobres, e outros tantos. Boa anestesia para a consciência! Ainda mais quando os nomes constam nos relatórios das paróquias, entre os contribuintes; quando são lembrados nas intenções das missas ou de outras orações feitas nas comunidades. Tudo isso sempre existiu, existe, e existirá. Na América Latina, nos 50 anos que sucederam ao Concílio Vaticano II, não foi diferente.
            Porém, quem tem olhos para ver, ouvidos para ouvir, e os demais sentidos afinados, mormente os da mente e do coração, sabe muito bem que outra face da Igreja, do episcopado, do clero e do povo de Deus (fiéis leigos), brilhou e continua a brilhar no Brasil e na América Latina nesses 50 anos posteriores ao Pacto das Catacumbas. Ninguém em sã consciência pode negar os imensos avanços da Igreja para junto do povo pobre e oprimido – a grande maioria -, que a Caminhada da Libertação proporcionou com sua insistência em apontar, como teologia, para além de todas as realizações imediatas de prosperidade e sucesso, ao Reino de Deus e de sua justiça. Pequenos grupos se formaram onde a Igreja se fez experiência do Reino de Deus. Bispos, padres, religiosos e leigos, todos juntos, compartilhando as dores e as alegrias, lutando por mais vida, e celebrando, na fé e na esperança, a presença do Senhor Ressuscitado. A inclusão dos descartados nas comunidades de periferia perturbou aos poderosos deste mundo. Entre os poderosos perturbados também estão lobos vestidos com peles de carneiros: são os que ainda insistem em ver os postos hierárquicos como honras conquistadas e defendidos a unhas e dentes.
            Para quem pensa que os propósitos dos bispos das catacumbas foi apenas fogo de palha, que agora as coisas já voltaram para o marasmo de sempre, queremos recordar as sábias palavras do nosso ilustre e influente teólogo da libertação, Pe. Libânio – falecido há pouco – de que se pode imaginar o movimento teológico da libertação como uma imensa estátua de sal diante dos olhos da sociedade. Com o passar dos anos, o medo que essa estátua provocava foi diminuindo, e aos poucos tentaram desmanchá-la, jogando água contra ela. De fato, ela se diluiu. Sua cabeça mal aparece por cima das águas que se espalharam por toda a superfície. Porém, puro engano! O sal da estátua se diluiu, mas as águas o levaram para todas as valetas; seu sabor atingiu os mais recônditos espaços ocupados pelos seres humanos que já não contavam mais para a sociedade. Hoje já não se pode prescindir dessa certeza de que todos lutam por seus direitos e aí daqueles que simplesmente passam por cima dos outros, seja de quem for!
            É bom lembrar que quanto mais os bispos e os chefes de comunidades tiveram a coragem de se tornar animadores, presentes no dia a dia da vida do povo, abertos ao diálogo, tanto mais os pobres, os indefesos e os deserdados da vida tomaram consciência de sua dignidade. Retomaram sua voz para também ter vez. A Igreja produziu muitos mártires nesses anos. Mártires da luta, do serviço humilde e, principalmente da persistência teimosa em sonhar com um mundo melhor, onde todos têm vez e voz. A Igreja estava e está com eles. Melhor ainda, eles são a verdadeira Igreja de Cristo que, como Ele, não se cansa de anunciar e implantar o Reino de Deus, seu Pai.

Puxada de orelhas
            Tudo o que é humano é limitado. Até os propósitos mais santos e sérios. Não há dúvida de que também o compromisso assinado pelos bispos do pacto vai aos poucos esmorecendo. É preciso que alguém os lembre novamente do que se propuseram, e que faça isso com muita convicção, um puxar de orelhas!
            Muito se falou e se escreveu sobre a necessidade de recuperar o espírito renovador do Vaticano II, mas para a surpresa de toda a Igreja, o impacto causado pelo fenômeno Papa Francisco, não é apenas um puxar de orelhas, mas verdadeiro sopro do Espírito, executado com autoridade, que interpela a todos, primeiramente aos bispos e responsáveis pelas igrejas e comunidades de todos os cantos da terra. Em seus discursos, Francisco não mede as palavras para chamar a atenção dos líderes (bispos, padres etc.) para sua real responsabilidade pelo rebanho de Cristo. Nada de honras, mas serviço! Falando aos responsáveis pela escolha dos futuros bispos, Francisco lhes adverte de que devem estar certos de que os nomes por eles apresentados foram antes pronunciados pelo Senhor. Necessitam possuir tal garantia. Por isso, os bispos eleitos precisam ser antes eleitos pelo Espírito Santo, e requeridos pelo Povo Santo de Deus; devem ser pastores, não ‘para si’, mas para a Igreja, para os outros, sobretudo para aqueles que, segundo o mundo, devem ser descartados. Bispos que fiquem em suas dioceses e não andem viajando para participar de ‘encontros e congressos’, pelo mundo todo. Bispos que saibam oferecer a própria vida pela Igreja, não sozinhos, mas junto com ela. Que saibam elevar-se à altura do olhar de Deus, para de lá guiar o povo. A Igreja não precisa de bispos dirigentes, administradores de empresa, e muito menos de alguém que está ao nível das deficiências ou pequenas pretensões das pessoas, mas de alguém que olhe com a amplidão do coração de Deus. Todas as qualidades humanas, intelectuais, culturais são importantes, contudo devem ser uma declinação do testemunho central do Ressuscitado, subordinados a este compromisso prioritário.
            Boa puxada de orelhas! Talvez para alguns seja exagerado, mas é sempre bom aproveitar a oportunidade para se renovar. Ao achar que está tudo bem, as pessoas e as comunidades de acomodam. O verdadeiro discípulo de Jesus de Nazaré não pode nunca estar “tranquilo”, mas sempre atento e ouvindo continuamente as palavras do Divino Mestre: “Vai!”.
            Que bispos, padres, religiosos e leigos, louvando a Deus pelo jubileu de ouro do Concílio Vaticano II, e pela força inovadora derramada sobre todos com a novidade do Papa Francisco, se renovem e deixem o Espírito agir para que Ele renove a face da Terra.
Pe. Mário Fernando Glaab

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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Reflexão

QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR

Pe. Mário Fernando Glaab
            “Quem não é contra nós é a nosso favor”. Sábias palavras do Divino Mestre. Todos as conhecemos bem. Porém, talvez não as levamos muito a sério, principalmente quando estão em jogo nossos interesses particulares. Jesus as pronunciou quando os discípulos queriam proibir alguém de fazer o bem pelo fato de não andar com eles. Eles pretendiam ser os “donos” do bem. E quem não estivesse com eles não deveria fazê-lo. O Mestre, no entanto, ensina que o bem é infinitamente maior que nossas pobres qualidades, tantas vezes misturadas com fortes pitadas de orgulho e egoísmo. Onde Jesus encontra alguém que sinceramente procura o bem, ele o valoriza e o apoia. Para os discípulos isso foi difícil acatar.
            A tentação de excluir alguém porque ele também procura fazer o bem que nós não realizamos como poderia ser, e, ainda mais, porque pode ofuscar o nosso bem, não é coisa do passado. Hoje, como em todos os tempos, quem busca verdadeiramente o bem pelo bem, incomoda e provoca muita gente. Geralmente são os que se acham os bons, os que mais se perturbam. Querem proibir, impor regras e, em casos mais extremos, excluir totalmente aqueles que não são do seu grupo seleto. Essa atitude é sempre muito prejudicial, tanto para o alvejado quanto para o alvejante. E, até para a harmonia geral das coisas. O bem, que está em constante luta contra o mal, é penalizado.
            Padre Libânio, influente teólogo da Teologia da Libertação, falecido em janeiro passado, sempre dizia que “Nada faz o ser humano ser tão feliz como colaborar no crescimento interior e espiritual das pessoas”; poderia se completar, usando as palavras de Libânio mais amplamente: “Quanto mais as pessoas colaboram entre si, tanto mais se realizam”. E, pelo contrário: “Nada frustra mais o ser humano do que saber que ele não pode colaborar no crescimento e na evolução das pessoas, enfim, na busca do bem comum”. É muito bom saber somar com outras pessoas que, apesar de pensarem ou agirem diferente, buscam igualmente o bem, a paz e a harmonia. Porém, é muito mal se opor a quem quer colaborar, pelo fato de pensar diferente ou agir diferente. Isso não constrói, somente destrói e faz perder.
            O sofrimento, no entanto, é muito grande para aquele que se sente rejeitado. Ele se sente só. Os “bons” se opõem a ele, isso é terrível! Se colaborar no crescimento das pessoas traz felicidade; não poder colaborar com o crescimento das pessoas, das instituições, das igrejas, traz tristeza, e profunda! Uns têm mais força interior para resistir e perseverar teimosamente na busca do ideal do bem, outros, todavia, sentem-se fracos e derrotados.

            É tão bonito quando os seres humanos reconhecem humildemente que não podem melhorar o mundo sozinhos, mas reconhecem que na mútua colaboração podem transportar montanhas. Quando se unem e somam forças para cada vez mais estabelecer justiça, paz e amor. Nunca se deve proibir alguém de fazer o bem. O bem é bom, e não faz mal a ninguém.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Concílio Vaticano II hoje (12)

PACTO DAS CATACUMBAS (11)

            O décimo primeiro ponto de Pacto das Catacumbas diz: “Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral – dois terços da humanidade – comprometemo-nos: - a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres; - a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria”. Esse item não apresenta citações bíblicas para se justificar. No entanto, apoia-se no conjunto da visão evangélica da colegialidade. Aliás, a colegialidade episcopal foi um tema muito apreciado no Concílio Vaticano II.
            Nesta proposta os bispos renovam a consciência de que todos eles são sucessores dos apóstolos de Jesus Cristo. A missão que dele receberam deve ser concretizada na comunhão entre eles. Colegialidade quer expressar justamente isso. Todos juntos empenhados na mesma causa: levar a Boa-Nova de que Deus ama a todos indistintamente, aos confins da terra. Essa boa notícia que os bispos receberam do próprio Jesus, necessariamente precisa atingir os lugares mais recônditos da humanidade. Todos os seres humanos são objeto do anúncio, mas as “massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral” são os primeiros na lista. Não poderia ser diferente uma vez que Cristo veio para “anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). Ainda mais, quando as estatísticas, da época, dizem que são “dois terços da humanidade”.

Mútua colaboração
            A consciência e o pacto não isentam da tarefa de mútua colaboração entre os episcopados. Todos querem participar, conforme os meios de que dispõem. As nações pobres hão de ver que os episcopados estão unidos na busca de soluções diante da miséria de tantos seres humanos. Parece muito claro que a intenção primeira não é de atrair fiéis para as igrejas; mas, participar na urgente tarefa de diminuir as dores que os irmãos mais pobres padecem. Este é um verdadeiro “investimento”, e, quem o vê, pode com facilidade chegar à fonte, que não é outra que o Evangelho de Jesus de Nazaré.
            Apoiar unidos, como colégio episcopal, os planos e organizações internacionais que combatem a miséria no mundo, tem como mola propulsora o Evangelho. Por isso a coerência, citando o testemunho de Paulo VI, que ao discursar na ONU, deixou claro que todas as iniciativas internacionais necessitam encontrar caminhos para ajudar os pobres – miseráveis – saírem da condição que os mantêm oprimidos. A distância que separa as nações ricas e nações pobres não se justifica, muito pelo contrário, deve diminuir até desaparecer.
            Esse compromisso foi muito corajoso e ousado. Os bispos das nações pobres têm muito mais abertura para esse compromisso. Não é a mesma coisa para aqueles que estão em situações mais cômodas. Quem possui pouco está aberto para receber e para partilhar o pouco que tem; mas quem tem bastante sente grande dificuldade para ajudar: ele sempre quer adiar para acumular mais um pouco! E, como líder religioso, sofre a tentação de se unir aos que tiram proveito da miséria alheia. Aliás, são eles que sustentam as dioceses, as paróquias e comunidades!... Ir contra suas “estruturas econômicas e culturais que fabricam nações proletárias” para se juntar aos colegas bispos que denunciam injustiças, é desafiador. Exige desapego corajoso e sincera opção preferencial pelos pobres. Quem o fez?

Uma luz que “vem do fim do mundo”
            Meio século após o compromisso fixado, pode-se perguntar sobre o que de fato aconteceu. Será que os bispos que assinaram o pacto se envolveram com os episcopados das nações mais pobres? Como colegiado se posicionaram junto aos organismos internacionais com o intento de encontrar saídas para as massas mais miseráveis? Ainda, conseguiram influenciar seus colegas e o clero em geral para que também eles se colocassem na posição de uma Igreja que serve, e não centrada em si mesma?
            Certamente, depois de passados 50 anos, com preocupação é preciso dizer que os desafios continuam. No entanto, não faltam exemplos, para quem quer ver, de grandes mudanças. Em muitos países que historicamente foram considerados pobres e produtores de miseráveis, aconteceram progressos imensos. A igreja teve sua participação, tanto no anúncio positivo de outros caminhos, quanto na denúncia dos erros que desqualificam o ser humano na sua dignidade. Grande multidão de gente simples recebeu, em sua comunidade, importante consciência de que ele é protagonista de sua própria história. A quantos foi levada a mensagem evangélica de que sua vida é abençoada por Deus e, que assim, deve-se unir aos irmãos e lutar para ter sempre mais vida. As lutas do povo, inspiradas pela sã teologia da Igreja – teologia da libertação no seu sentido genuíno -, foram marcas concretas de testemunho para se adotar estruturas mais justas e igualitárias. Pobres ajudando pobres faz a história avançar.
            Talvez o fruto mais saboroso que esta proposta produziu, e que se está colhendo agora, 50 anos depois de pacto das catacumbas, tenha sido a escolha de um papa que “vem do fim do mundo”; de um país da América Latina. Alguém que fez a experiência de ser pobre junto aos pobres. Francisco, antes de ser Francisco já se preocupou exemplarmente em ajudar os miseráveis para sair de sua miséria. Agora, responsável primeiro por toda a Igreja, um verdadeiro pastor, muito mais há de propor e fazer para fazer sair o maior número possível da situação de extrema pobreza. Seu anúncio é o de alguém que sabe valorizar o ser humano, e todo o ser humano, começando pelos últimos. Francisco, na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium escreve: “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (176). Com essa pequena frase, que será desenvolvida posteriormente, Francisco deixa claro que não bastam palavras bonitas repetidas infinitamente. O que na verdade transforma é estar no mundo como alguém que transforma esse mundo com a luz e a força da Boa-Nova de Jesus Cristo. Anunciar o amor de Deus para o mundo é amar esse mundo com o amor de Deus. E, o amor de Deus não é estático, mas ele converte, liberta e transforma.
            Deixemos que a luz vinda do fim do mundo nos ilumine, e quem sabe, também nos queime. Queime os obstáculos que impedem nossa ação livre e desinteressada na construção de um mundo melhor, onde não há mais miséria, mas onde todos tenham vida e vida em abundância. Assim como Jesus descreveu o Reino de Deus.
Pe. Mário Fernando Glaab
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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pe. Libânio

O FIM DE UM GRANDE TEÓLOGO
Lamentamos muito o falecimento do grande teólogo e amigo de todos os admiradores da verdadeira teologia, o Pe. J. Batista Libânio. Ele serviu, e serve ainda hoje, de inspiração para quem sabe valorizar o que é simples, mas profundo e verdadeiro. Que Deus o tenha em sua glória. Vai em paz, grande homem e amigo Libânio.
Mário

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MECEs

SERVIDORES DA EUCARISTIA E DO POVO DE DEUS
Pe. Mário Fernando Glaab
            Não resta a menor dúvida de que a partir das reformas sugeridas pelo Concílio Vaticano II as comunidades tiveram um enorme crescimento, tanto na conscientização quanto na distribuição das tarefas entre os cristãos batizados. Por ocasião dos 50 anos do Concílio, merece atenção a valiosa contribuição que as inúmeras comunidades de nossas paróquias receberam com a implantação e o desenvolvimento do ministério da comunhão eucarística. Hoje é normal que cada comunidade tenha alguns ministros extraordinários da comunhão eucarística. É deles e para eles que queremos falar um pouco.
            Nas comunidades são os presbíteros (padres) os responsáveis de cuidar para que não falte a ninguém a possibilidade de se alimentar do Pão Eucarístico; ou então, quando está impossibilitado de buscá-lo na igreja, que este lhe seja levado em sua casa ou no hospital. Isso é próprio de seu ofício. São eles também os que devem organizar de tal forma as atividades paroquiais para que todas as comunidades tenham a celebração da Eucaristia aos domingos e dias santos. Isso, no entanto, não quer dizer que os padres tenham que se “dobrar em dois” para atender a todos quando o trabalho é demais para eles. Justamente aí entra o valioso ministério de homens e mulheres que, são convidados, se preparam e se dispõem para ajudar os seus pastores no ministério eucarístico. São e continuam sendo “extraordinários”. Isso quer dizer que prestam ajuda àqueles que devem exercer o ministério a partir de sua condição de ordenados. Mas como leigos e leigas, batizados e crismados, colocam generosamente seus dons e serviços à Eucaristia e ao Povo de Deus.
            Aproveitando o espírito de renovação que a Igreja vive pela passagem do jubileu dos 50 anos do Concílio vaticano II e pela expectativa criada pelo Papa Francisco, queremos contribuir com algumas sugestões para o valioso trabalho que os ministros extraordinários da comunhão eucarística realizam em nossas comunidades. Nunca é demais insistir para que ninguém caia na tentação de ver o ministério como uma honra ou um reconhecimento pelas suas qualidades. Ministério é serviço. Aquele que é convidado a prestar um serviço na comunidade deve aceitá-lo como tal. Jamais fazer dele um trampolim a fim de se colocar acima ou além dos demais. Ele não é melhor do que os outros, nem imune dos problemas que acontecem nas famílias e nas comunidades. Deve então: Em primeiro lugar, estar disponível para ir aos mais necessitados, isto é aos doentes, idosos, pobres ou excluídos. A Eucaristia é dom total de Cristo, para que o mundo tenha vida, assim o ministro deve ter a coragem de se doar para que a vida seja defendida onde ela é mais vulnerável. Bom seria se os ministros tivessem uma “rede de comunicação” para que imediatamente, quando surge um necessitado na comunidade, o pároco fosse avisado e, que os ministros fossem ao seu encontro. Em segundo lugar, por estarem ao serviço dos irmãos que creem na Eucaristia, também estão ao lado do padre que distribui o Pão da Vida aos fiéis nas missas. Não são eles que disputam um lugar de destaque junto ao altar, mas estão aí para ajudar – ir para o meio do povo e lhes oferecer o Alimento Sagrado. Em terceiro lugar, nas comunidades onde não se tem a missa dominical, os ministros organizam o culto, conforme o costume de cada diocese. Nesta importante função os ministros, além de dirigir orações distribuir a Eucaristia, também podem compartilhar a Palavra de Deus com mensagens adaptadas à realidade da comunidade. Devem, no entanto, ter o máximo de cuidado para nunca fazer sermão moralizante. Os fiéis não aceitam sermões desse tipo, nem do padre; e, muito menos, do ministro. A Palavra fala por si. A tarefa dos ministros e de outros membros da comunidade consiste em atualizar sua mensagem, isto é, compartilhar sua riqueza para que todos possam entendê-la. Os ministros, na intenção de bem exercer seu serviço, devem dar exemplo de fé, piedade e humildade. Não podem ser altivos ou ciumentos. Os ministros precisam ter espírito de colaboração entre eles. Quando um ministro quer abraçar tudo, ter o maior número de doentes assistidos por ele, ser sempre ele que ocupa o primeiro lugar nos cultos, ou não ajuda quando é outro que preside a celebração, já perdeu sua identidade de ministro extraordinário, perdeu a doação no serviço à Eucaristia e ao Povo de Deus.
            Resumindo:
1)      Os ministros extraordinários da Eucaristia estão a serviço de Eucaristia e do Povo de Deus. Por isso devem ser convidados para a doação, como Cristo se doa na Eucaristia. Para desempenhar bem o seu ministério não podem dispensar a formação contínua. Essa deve ser buscada na comunidade e também individualmente.
2)      Os ministros extraordinários da Eucaristia vão à cata dos doentes, de todos os necessitados; cuidam para que ninguém fique esquecido pela comunidade. Não dispensam esforços para visitá-los e, se for o caso, lhes levar a Eucaristia em suas casas ou nos hospitais.
3)      Estão sempre dispostos para ajudar nas missas. Não buscam destaques, mas estão disponíveis para distribuir o Pão Eucarístico conforme as necessidades e onde forem designados.
4)      Nos lugares onde não há missa aos domingos, os ministros organizem as celebrações do culto, onde se compartilha a Palavra e o Sacramento da Eucaristia. Devem ter o máximo de cuidado para não dar “sermões”, mas somente uma mensagem breve e bem atual, a partir das leituras do dia.

5)      Os ministros devem ter consciência de que foram chamados para servir na comunidade, nunca para serem melhores do que ninguém. Por isso, o ministro não pode ser ciumento para com os demais. Não deve querer abraçar tudo; deve saber colaborar com todos os demais colegas. A comunhão com o pároco é de extrema importância.