sexta-feira, 6 de junho de 2014

Melhorar as celebrações litúrgicas

CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS POLUÍDAS
Pe. Mário Fernando Glaab

            No início do cristianismo as celebrações litúrgicas da Igreja primitiva eram muito simples. Os fiéis se reuniam nas casas para ouvir a pregação dos líderes, fazer orações e “repartir o pão”. Nestes encontros não havia nada de pomposo. Restringia-se a um encontro familiar, ou melhor, um encontro comunitário dos discípulos de Jesus que morrera, que ressuscitara e que enviou o seu Espírito sobre eles. Reuniam-se para “fazer memória” do que ele fez e mandou que eles fizessem. Com o passar dos anos foram se organizando ritos para as diversas celebrações. Além das riquíssimas tradições judaicas, as contribuições dos povos que se convertiam ao cristianismo iam se somando às maneiras de celebrar. Importância enorme teve a construção dos templos próprios para serem lugares sagrados. Cada vez mais as comunidades se reuniam em número sempre maior, não mais nas casas, mas nos templos erigidos para essa finalidade: casas de Deus e casas das comunidades, onde as liturgias se revestiam do sagrado. Ao redor do essencial surgiram inúmeros acréscimos simbólicos que porém, aos poucos, chegaram a confundir os fiéis nas celebrações, desviando-os do principal.
            Durante os séculos aconteceram renovações litúrgicas, adaptações, avanços e aprofundamentos. Procurou-se dar aos fiéis de todos os tempos acesso aos mistérios da fé, acentuando mais o mistério, outra vez mais a participação dos fiéis. A partir do Concílio Vaticano II a Igreja empreendeu um enorme esforço para se adequar às exigências dos tempos atuais, também na liturgia. Uma das preocupações do Concílio foi o de “ler os sinais dos tempos” e a partir deles reinterpretar as verdades sempre atuais da fé e expressá-las convenientemente na celebração litúrgica. Especialistas trabalharam incansavelmente para que o povo que pretende celebrar a sua fé pudesse chegar ao essencial e não se perder no acessório.

O espaço litúrgico para a missa
            As igrejas, que na maioria foram construídas em outras épocas necessitaram ser adaptadas aos novos tempos. O espaço litúrgico haveria de ser direcionado para o mistério central da celebração. Isso criou dificuldades, pois não é fácil modificar o que foi planejado com outra visão. Mesmo igrejas novas, construídas depois do Concílio, nem sempre tiveram orientação renovada. Em muitas cabeças as novidades litúrgicas ainda não produziram alterações inovadoras; talvez até provocaram reações adversas. Igrejas modernas não são necessariamente igrejas com espaços litúrgicos conforme a novidade conciliar. Igrejas antigas, e novas também, esbanjam frequentemente imagens de todos os tamanhos, cartazes, faixas, estantes, toalhas, flores, velas e um mundo de objetos que desviam a atenção do que deveria ser central. Pergunta-se, por quê?
            Certamente não é fácil dar os motivos para esse emaranhado de símbolos e objetos de devoção. Porém uma coisa é certa: quando essa variada abundância de coisas não consegue destacar o centro da fé e da celebração que aí se realiza, ela se torna prejudicial. Bom seria se, ao invés de ser material que confunde, fosse acentuar e sobressalientar a simplicidade do necessário. Mas quando isso não acontece pode-se falar em “poluição” do espaço litúrgico.
            Alguns critérios bem práticos para que o espaço litúrgico das igrejas seja funcional, destaque o essencial e não polua o ambiente, podem ser: 1) que o centro de tudo seja o altar, sobriamente ornamentado com uma toalha. Que o altar convide os fiéis a se “aproximarem” do coração de Deus, pois é sobre ele que Cristo se oferece em sacrifício. E que todos os que se aproximam do altar o façam para servir a esse sacrifício. O altar não é uma mesa qualquer que serve para aí se colocar papeis, flores, velas, para aí escrever ou colocar máquinas fotográficas e até celulares; 2) que ao lado do altar, na mesma direção dele, esteja o ambão; nem mais para frente ou mais para trás, nem em degrau inferior. Também ele sobriamente ornamentado. O lecionário, de preferência, seja visível sobre o ambão. Ao se colocar velas ou flores junto dele, estas não devem roubar a cena. Elas somente devem destacar o lugar donde é anunciada a Palavra de Deus; apontam para a “boca de Deus” que conduz à salvação. Igualmente os leitores devem ter consciência do que irão fazer: proclamar a Palavra de Deus. Para isso, o leitor precisa estar muito bem preparado. Ler bem, apesar de saber que não faz somente uma leitura. Ele se empresta a Deus para que Deus possa se comunicar; 3) do outro lado do altar, em lugar bem visível, está a cadeira do presidente, a sede. Esta cadeira, geralmente ladeada por duas menores, está aí para lembrar o Cristo Ressuscitado que está no meio dos seus. Esse lugar é ocupado somente pelo presidente da celebração, o sacerdote que age na pessoa de Cristo. Para não roubar a cena e “esconder” o presidente que está sentado ou junto à cadeira presidencial, recomenda-se que nas cadeiras ao lado dela não se coloque pessoas adultas – ministros -, mas somente coroinhas. Eles têm a finalidade de servir ao presidente e, como crianças, dar-lhe destaque; 4) bem visível na parede ao fundo do altar deve estar o crucifixo. Tanto que quem olha para o altar, necessariamente seja levado a contemplar o Crucificado; 5) imagens de santos, mesmo do padroeiro, podem ter seu lugar de honra no presbitério, mas não desviar do foco central que formam o conjunto até aqui descrito; 6) o sacrário, de preferência esteja em capela lateral. Lá o Santissimo ficará guardado para ser levado àqueles que não podem participar da celebração na igreja; e, para adoração individual ou em grupo. O translado de hóstias consagradas do altar para o sacrário e de lá para o altar durante a missa é sempre muito discreto. Os fiéis naquele momento estão concentrados na celebração da eucaristia, não na adoração.

Os ritos da celebração
            Mesmo que a celebração da missa seja pré-estabelecida, ela admite bastante criatividade. Conforme o tempo litúrgico ou a ocasião em que se celebra, podem-se acrescentar símbolos, mensagens e orações. No entanto, também nesse aspecto, a simplicidade é fundamental. Tudo o que se faz tem como finalidade a comunicação entre o mistério e os fiéis. Quando uma celebração fica sobrecarregada de gestos, mensagens, comentários e até de cantos, ela, ao invés de favorecer a comunicação com o sagrado, torna-se “incomunicação”. Confunde e ofusca o essencial. E, por outro lado, é tão agradável quando a celebração decorre na simplicidade, convidando todos a se ater no essencial. Assim o coração humano sente o coração de Deus e, percebe o pulsar do coração dos irmãos.
            Também aqui temos alguns critérios que podem ajudar: 1) que os comentários sejam breves, e, sempre convidem a “olhar” para o que acontece no ambão ou sobre o altar. Que nunca tomem o lugar desses. Quem quer se comunicar é Deus com sua Palavra e com a doação de seu Filho. O comentarista deve saber disso; não é ele que vai se comunicar: ele “aponta” para o ambão ou para o altar; 2) os cantos igualmente sejam breves. E, nunca - nunca mesmo! – são executados para fazer show. O responsável pelos cantos precisa ajudar a assembleia para que se possa expressar cantando. Com os cantos toda a assembleia exulta de júbilo no Senhor; 3) não convém que a toda hora entrem objetos como imagens, bandeiras, e outros símbolos. Uma ou outra vez tais entradas podem favorecer a união da vida do dia-a-dia das pessoas com o mistério de Cristo; mas não devem se tornar corriqueiras; 4) as homilias sejam um compartilhar da Palavra de Deus; um continuar atualizando o que Deus disse. Homilias longas cansam e não produzem frutos bons; 5) muito barulho e muita movimentação durante a celebração são inconvenientes. O silêncio é importante. Todos precisam de tempo para interiorizar a mensagem e para rezar no profundo de seu coração; 6) avisos – sempre no final da missa -, devem ser concisos e não muito numerosos. Não é o momento de fazer “sermão”, ou até, de reclamar e chamar a atenção das pessoas.
            Convém que todos se sintam membros do Corpo Místico de Cristo e da Igreja, e assim experimentar o amor infinito de Deus nas celebrações eucarísticas. As nossas liturgias devem ser com o povo e não para o povo. As celebrações necessitam levar os fiéis, incluindo o padre e a equipe litúrgica de celebração, a serem um só coração e uma só alma, e que despertem a comunidade para o compromisso com a vida e os mais sofredores do mundo.

            É, portanto, de grande importância que se “limpe” de vez em quando nossas liturgias, pois não raras vezes elas estão bem “poluídas”.

domingo, 11 de maio de 2014

Hunsrick - Spessje

DE FRIEDHOLD UM SEI REES NO ROM
De Friedhold, das wo son frohe Mensch, um de hat oach imme so gute Plen gemach. Hot ach imme drohn gegloabt. Wat er sich voagenomm hat dat wolta ach sien im gute End. Awe er hot doch sei Nochba gehat, de Gustav, de wo Hoaschneida woa, de wo doch imme so ahrich pessimist. Jesdesmol wen de Friedhold beim Nochba uf dem Schneidastuhl gehuckt hat un sei grosse Plen voa gebrun hat, dan hat de Gustav schun Alles vermist. Alles wo schwea un unreichbar. Awe de Friedhold hat sich net steere geloss.
En scheene Toach wie de Friedhold nochmol groat so do gehuckt hat uf dem Schneidastuhl sorra iwe de Gustav: “Gustav, wescht du ich will doch mo no Rom reisse fa mo de Popst se beschche”. Dat woa doch bische zu viel fa dem Gustav sei Kunne! De Gustav, so pessimist wie ea woa, hot gleich gebrumt um geknorrt: “Oje, was denscht du, Fridhold: Du noch Rom reisse, um Dan noch de Popst besuche! Dat is doch plet sin. Du woscht doch noch net weite wie bis in unsa Statplaz, un was is das geche en Grosstat? Un dan, meensch du dass de Popst Zeit fa dich het? Du orme Kerl! Bleibt doch schen dehem”. De Friedhol hot sich net viel draus gemach mit dem Gustav sei Abroterei. Ea hat sei Plene un wo siche dafor.
Un werklich: Zwei Monate speta, uff emol komt jo doch de Friedhold nochmol in die Schneiderei, setz sich ach gleich uff de Stuhl. De Gustav hot dan mo gefrot: “Na, warom bischt du schun so lang nimme komm? Is Etwas passiert?” Do hot awe dan de Friedhold es mo aproweitiat, un hot so spettich gelacht un gesaat: “Ei ich soot dich doch dass ich no Rom reisse wollt. Desweche sin ich so lang nimme komm! Heit sin ich nommo mit Leib un Seele do”. De orm Gustav wust in Moment gonet was ea soon sollt. Soll das woa sen? Horra so leis fa sich gedenk. Awe do hot ea mol gefrot: “Naja, un wie woa Dan die Rees?”  “Scheena wie die Rees, blos zwei Reesse!” antwort de Fridhold. “Es is Alles so richtig abgeloof; Alles was ich sien wollt, un Alles was ich mache wollt hat geklapt”. Do is de Gustav doch neigerich woa, hot gefrot: “Ja, un de Popst: host du ihn gesien?” “Awa doch sicha! Wie ea dich kommt is wo ich woa, uff eemol guckt ea zu mich un gebt en Zeiche, ich sollt dichta kumme. Ich hon gement das kent noch fa en Annere sin, awa do hot ea nochmol so mit de Hand gemach dass ich sicha woa. Wie de Heiliche Vadda mich die Hand gedrickt hat wo ich so froh dass ich gonet wuscht was ich spreche sollt. Do Hat de Post oangefan un gesoot: ‘Dreh dich mo rum’, un hat mit seine Hand mitgeholf. Ich hon mich gedreht, wuscht net was das bodeite sollt. Nochmol sorra: ‘Dreh dich doch mo widda’, ich hon es gemach. Awe do hot jo doch de liewe Heiliche Vadda mich gefrot: ‘Na, soo doch mo, wo hascht du dei Hoa so scheen geschnit?!’ Ei, beim Gustav, woa mei Antwot”.
Weil doch de Gustav das net erwat hot, horre mo so leis gedenckt ob sei Pessimismus noch Sinn het. Spesja muss ma jo mache, wenn es ach net so woa is, sonst wet das Lewe jo viel zu enst.
Glaabsmario
www.marioglaab.blogspot.com.br


quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Palavra proclamada, não lida.

MENSAGEM HUMANA E PALAVRA DE DEUS

            Alguém disse que prefere uma linda mensagem no lugar da explicação da Palavra de Deus. Essa tentação é frequente, tanto para ouvintes como para pregadores. Para alguns é cansativo falar ou ouvir falar da Palavra de Deus todos os domingos nas celebrações. Uma mensagem, quando bem feita, por gente que coloca uma pitada de emoção, pode até interessar mais que os evangelhos que já se conhece tão bem! Talvez atinja mais os ouvintes e desperte neles sentimentos mais diversificados. Contudo, por mais bonita e profunda que uma mensagem possa ser, ela nunca se iguala à Palavra de Deus.
            Uma mensagem humana é sempre uma entre tantas mensagens humanas. A Palavra de Deus é sempre uma e única. Não se diz “palavras do Senhor” ou “palavras da Salvação”, mas Palavra do Senhor ou Palavra da Salvação. Mesmo que as mensagens humanas, quando ditas por pessoas sábias e santas, possam ser riquíssimas, há entre elas e a Palavra de Deus uma enorme distância, pois “o meu pensamento não é o pensamento vosso, vossos caminhos não são os caminhos meus” (Is 55,8). Se mensagens são ricas, a Palavra é a própria riqueza. Uma boa mensagem humana busca da fonte que é a Palavra de Deus.
            Na prática de numerosas homilias ou em belas mensagens que se quer passar, conforme o momento e a situação, cai-se facilmente no erro de “querer dizer algo” e para tal, busca-se apoio na Palavra inspirada. O inverso, no entanto, é preciso aprender. A iniciativa sempre deve ficar com a Palavra de Deus. Ela fala e, uma mensagem humana que quer ser boa, consegue adaptá-la para determinada ocasião. Sabe iluminar o momento ou traduzir o conteúdo que é a Palavra sempre atual e eterna para que também as pessoas que estão no espaço e no tempo, aqui e agora, tenham acesso a ela. As mensagens são sempre mensagens limitadas no tempo e no espaço, são as mensagens deste ou daquele personagem. Podem ser retomadas, mas não “atualizadas”. A Palavra, pelo contrário, é sempre atual, pois “passarão o céu e a terra, mas minhas palavras não passarão”.

Experiência das comunidades cristãs primitivas
            Quando morre alguém importante, um sábio ou um santo, com o passar dos anos via se à cata de sua história. Juntam-se todos os dados, buscam-se seus ensinamentos, seus feitos, tudo é arquivado para constar e enriquecer a história. Quem quiser usar da sabedoria ou de santidade do herói falecido vai buscá-lo em sua história. Coloca-o no seu contexto histórico e no espaço em que viveu e agiu. Com os discípulos de Jesus, logo após a sua morte e ressurreição, aconteceu algo semelhante, mas também algo bem diferente. Eles foram juntando seus ensinamentos, palavras e feitos, memorizaram e escreveram; passaram-nos adiante. Porém, quando “usavam” esses ensinamentos, não os usavam como se usam os ensinamentos de um herói morto, um herói do passado. Eles, quando se lembravam de Jesus, quando recordavam suas palavras e contavam seus feitos, quando os transmitiam aos novos ouvintes; não voltavam ao passado, mas experimentavam o próprio Jesus Ressuscitado comunicando-se com eles. As palavras que transmitiam não eram palavras do passado, mas a Palavra que é atual, falando agora para eles. Os pregadores, os escritores ou os leitores, não as faziam suas. Mas sabiam, pela fé, que esta era a Palavra, era o Ressuscitado em pessoa que estava presente. Eles “reapresentavam” a Palavra emprestando suas palavras, suas pregações e seus escritos humanos. Havia uma verdadeira fusão entre a Palavra (feito carne) e as palavras dos discípulos.
            Assim surgiu o conceito de “Evangelho” – Boa Notícia. Boa notícia não para o passado que talvez ainda tenha algum significado para os ouvintes de hoje, mas Notícia que tem toda a sua força, assim como a teve quando anunciada aos ouvintes que estavam diante de Jesus histórico. Nestas comunidades, as primeiras comunidades cristãs, os evangelhos eram lidos, não como palavras ditas por Jesus no passado, mas como palavras que em cada tempo o Senhor Ressuscitado está dizendo a seus ouvintes que querem ser seus seguidores. As comunidades haviam recolhido as palavras de Jesus e seus feitos como palavras de alguém que está vivo e continua falando ainda hoje aos que creem nele.

Conclusão
            Por tudo isso, um cristão nunca confunde a Palavra de Deus, especialmente o Evangelho, com qualquer outro escrito ou mensagem, por mais profunda ou linda que seja. Trocar a Palavra por uma mensagem humana é muito grave. A Palavra de Cristo fala diretamente ao coração, as outras palavras também podem chegar ao coração, mas passam por muitos caminhos, pois são construções limitadas. Aliás, o Concílio Vaticano II o diz solenemente na Sacrosanctum Concilium 7: “Presente está pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escritura na Igreja”.
            Portanto, leiamos muitas e boas mensagens, muitos bons livros, mas tenhamos consciência de que quem souber ler o Evangelho com fé o escutará no fundo de seu coração, escutará o próprio Ressuscitado na intimidade de seu ser.
Pe. Mário F. Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br

sábado, 19 de abril de 2014

PÁSCOA!

       Pela passagem do evento central da fé cristã - a Páscoa - quero fazer minhas as palavras de D. Demétrio Valentini, que por acaso encontrei na internet. Portanto, a todos os amigos, conhecidos e quem for acessar o meu blog, desejo de coração:

                                                   FELIZ PÁSCOA!

                     Venho desejar a todos uma abençoada Páscoa, portadora da alegria verdadeira que sempre ela nos proporciona.
                     No momento culminante da celebração do mistério pascal de Cristo, nos é de novo assegurada a verdade central, que ilumina todas as outras: Jesus ressuscitou,  ele está vivo, permanece conosco e vai à nossa frente!
                     Com a força de sua ressurreição, ele abre caminho para transformarmos em sinais de vida os próprios sinais de morte que ainda existem no seio da humanidade.
                   A Campanha da Fraternidade deste ano nos surpreendeu, mostrando como ainda persistem práticas perversas de exploração do ser humano, reduzido a mercadoria que se compra e se vende, como mero objeto de lucro.
                   Com sua morte e ressurreição, Cristo manifestou sua vitória sobre todo tipo de mal que aflige a humanidade.
                   Animados por Ele, podemos atender aos apelos de renovação, que neste ano nos chegam especialmente da própria Igreja, que de novo se sente animada a levar a todas as pessoas a mensagem libertadora do Evangelho de Jesus Cristo.
.                    Com a graça de Deus, manifestada em seu Filho Ressuscitado,  podemos acolher estes apelos de renovação eclesial. 
                      Procuremos o Senhor, que ele se deixa encontrar!
                      Com os renovados votos de Feliz Páscoa,

                      Cordialmente,
Pe. Mário Glaab
19/04/14

sexta-feira, 28 de março de 2014

Hunsrick - In der Gute Zeite

Es komt en Briidache!
Voa de Zeite wo die Kinna alles wisse, aach das wasse net wisse breichte, un in de Zeite wo noch viel mea reinichkeet zwische de Leit woa, is mo en Geschichtje passiat wo ich eich  jetz mo vatzehle. Dat kleine Evache, wo doch imma so lieb woa, is jede Toach bei de Podda gang un hat dem vun seine Spilerei, von alles wo in de Schuhl passiat is, vazehlt. Dem Podda, woa groat uff de annere Seit von de Stross gewohnt hat, hat das aach imma orich Spass geb. Eene scheene Toch kommt dat Evache zum Podda un hot mit strohlende Aue un starke Stimm gesoat: “Podda, ich grieche en Briidache!”. Dat woa awwe fa de liewe Podda een Neiichkeet die ea net am watte woa. Das hat ea net glowe kinne. Hot dan mo gleich gefrot: “Na, wie weist du sowas? Warom griest du en Briidache?” Dat Evache hot dan mo erklert: “Vor een Joha hat die Mama mo kranck im Bett geleh, un uff eemol hot es gehes: ‘Eva, du host een Schwestache griet’. Jetz licht de Pappa in Bett un is krank; was soll ma dan do watte?!...” De podda, entwedda er ferschrock wo um dem Pappa sein Kranckheit, must awwe doch noch lache. Soat dan zum Evache: “Nee, ich glawe das es noch bisje lenga dauert bis du een Briidache griest. Un das hat nicks mit dem Pappa seine Kranckhet ze tun”. Dat Evache is heem gan ohne was ze verstehen. Heit komme so scheene Geschichtja iwwehaupt nemme voa. Die Kinna wisse jo alles schun voaraus; un noch zu viel.

Glaabsmário.

domingo, 9 de março de 2014

Concílio Vaticano II hoje (14)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 13)

            O décimo terceiro e último item do Pacto das Catacumbas diz: “Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces. Ajude-nos Deus a ser fiéis”.
            Sem sombra de dúvida, o último item do pacto revela a seriedade do propósito. Demonstra que o compromisso não deve ficar guardado entre os bispos somente. Os diocesanos devem saber o que os bispos assumiram. E mais ainda, aos diocesanos se pede ajuda, compreensão e orações. Revela humildade diante do desafio, que não haveria ser pequeno.
            Depois de meio século do histórico Pacto das Catacumbas não é possível dizer superficialmente que tudo ficou no passado. O pacto, e claro, bem mais ainda, o ar renovador do Concílio Vaticano II, produziram muitos frutos na América Latina e pelo mundo afora. Talvez um ou outro bispo não conseguisse atingir, de imediato, seus diocesanos como gostaria. Mas os novos ares se alastraram pelo mundo. Muitas transformações ocorreram.

O jubileu
            Como sugerimos em todos os itens, agora na conclusão, achamos útil lembrar que o jubileu pode ser um momento oportuno para rever, à luz do Pacto das Catacumbas, o nosso modo de ser Igreja hoje. Se por um lado o cansaço freou o ritmo da caminhada de muitas comunidades; por outro, pululam em todos os cantos novas iniciativas. Os pastores estão mais perto do povo. Aliás, são forçados a se aproximarem, caso contrário, ficam sozinhos, ou seu rebanho perde toda expressão. O bispo, o padre, ou qualquer agente de pastoral, se não se coloca junto ao seu povo, não será procurado por ninguém! O povo encontra um outro mais atencioso e simples. Isso é muito positivo.
            O papa Francisco ensina que o pastor precisa estar na frente do seu rebanho para abrir caminhos, estar no meio para caminhar com ele, e, estar atrás do rebanho para segui-lo, pois também o rebanho, inspirado pelo Espírito, percebe onde pode encontrar verdes pastagens. Portanto, o pastor que ainda busca seu bem-estar antes do bem-estar do rebanho está desatualizado. Sendo generoso para com um bispo assim, pode-se dizer que está, ao menos, atrasado por mais de cinquenta anos!
            Concluindo, queremos fazer nossas as palavras do teólogo A. T. Queiruga: “Não é possível colocar portas ao livre vento do Espírito. A nós cabe esperar humildemente, abrindo-lhe as velas de nossa fidelidade e emprestando-lhe generosamente nossas mãos. Mãos que somente têm direito de apresentar-se diante do mundo unidas no diálogo e no trabalho do amor, acima de quaisquer discrepâncias teóricas” (Congresso Continental de Teologia, São Leopoldo, 2012).
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br

sábado, 1 de março de 2014

Concílio Vaticano II hoje (13)

PACTO DAS CATACUMBAS (PONTO 12)

            No décimo segundo item do Pacto das Catacumbas os bispos assim se expressaram: “Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: - esforçar-nos-emos para ‘revisar nossa vida’ com eles; - suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo; - procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...; - mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. (Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1 Tm 3,8-10)”. Os textos citados pelos bispos assinantes do pacto são os que seguem: “Chamou, então, a multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará”; “Naqueles dias, o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de língua grega começaram a queixar-se dos fiéis de língua hebraica. Os de língua grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. Então os Doze apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: ‘Não está certo que nós abandonemos a pregação da palavra de Deus para servirmos às mesas. Portanto, irmãos, escolhei entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, para que lhes confiemos essa tarefa. Deste modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra’. A proposta agradou a toda a multidão. Escolheram então Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um prosélito. Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. Entretanto, a palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos se multiplicava consideravelmente em Jerusalém. Também um grande grupo de sacerdotes judeus aderiu à fé”; “Os diáconos, igualmente, devem ser pessoas decentes, homens de palavra, não viciados no vinho nem afeitos a lucros torpes. Saibam guardar o mistério da fé graças a uma consciência pura. Será preciso, primeiro, examiná-los; depois, caso não haja nada a censurar-lhes, é que assumirão as funções de diácono”.
Os textos neotestamentários não poderiam ser mais claros. Os pastores do povo de Deus necessitam estar dispostos a servir, e servir sempre, assim como Jesus soube dar a vida pela causa do Reino do Pai. O testemunho dos pastores dava condições para que o número dos discípulos crescesse cada vez mais. O que esse item do Pacto das Catacumbas pretende renovar na Igreja pós-conciliar?

Partilhar a vida
            Os bispos entenderam muito bem que o ministério será verdadeiro serviço se toda a vida deles for partilha de vida; caso contrário, o ministério será, diríamos hoje, atividade profissional. Algo feito em vista do salário e, que se sujeita a horário determinado. Esta nunca pode ser atitude do pastor que serve verdadeiramente como o Bom Pastor. O que caracteriza a partilha da vida é a caridade pastoral. Alguém até pode dar a vida por alguma causa, mas a caridade pastoral vai muito além. Ela quer que ninguém se perca e, que os “perdidos” sejam reencontrados e recuperados – salvos -, custe o que custar. A caridade, por sua vez, não pede nada em troca; ela é gratuita.
            A partilha da vida acontece com os “irmãos em Cristo”. Em outras palavras isso quer dizer que é com todos aqueles pelos quais Cristo derramou o seu sangue. Não resta dúvida, a partilha há de ser sem reservas. Cristo deu a sua vida por cada ser humano, e, espera que os bispos façam a mesma coisa. Contudo, como não poderiam deixar de fazer, tiverem presentes as pessoas concretas de suas dioceses, os sacerdotes, os religiosos e toda a multidão de leigos a eles cofiada. A partilha da vida, no entanto, não pode ser sem estratégias. Por isso a necessidade de revisar sempre de novo com o povo a vida que não pode ficar em propósitos bons, mas confrontada com as carências e anseios das pessoas. Sem colaboradores bem formados e escolhidos para animar os irmãos em Cristo poucos frutos serão colhidos. Mas estes últimos não podem ter espírito mundano que, quando mais alto na hierarquia, tanto mais honrarias quer. A palavra “colaboradores” o expressa bem: não são chefes, mas servidores. O desejo de estar humanamente presentes e ser acolhedores aponta para o compromisso de caminhar juntos. Os bispos têm consciência de não serem melhores do que ninguém, mas que com todo o povo de Deus precisam de conversão contínua, avançar no caminho do bem e, aprender com o povo simples as virtudes que aí se escondem. A abertura às diversas religiões expressa a disposição para o diálogo. A ninguém é permitido fechar as portas, e todos podem enriquecer a experiência religiosa, quando é feita com humildade.
            A proposta de partilhar a vida foi ousada. Como Cristo mostraram-se dispostos a tomar a cruz de cada dia, como os apóstolos procuraram estar cheios do Espírito Santo, e como os diáconos, pessoas cheios de fé.

Por 50 anos na América Latina
            Alguém tenta segurar a Igreja – seus pastores – nas sacristias! E o pior, alguns bispos, padres, religiosos e agentes de pastoral gostaram da proteção da sacristia. Ir para as ruas é muito perigoso! Lá tem muita violência, malícia e todo tipo de maldades: “a Igreja não pode se misturar com essas coisas! Política? nem se fala. Onde é que se viu, agora até a Igreja quer se meter em questões políticas e econômicas!”. Surgiram os padres dos shows, das novenas, das pregações entusiastas etc. Apareceram muitos abastados dispostos a “contribuírem” com obras sociais, com esmolas para os pobres, e outros tantos. Boa anestesia para a consciência! Ainda mais quando os nomes constam nos relatórios das paróquias, entre os contribuintes; quando são lembrados nas intenções das missas ou de outras orações feitas nas comunidades. Tudo isso sempre existiu, existe, e existirá. Na América Latina, nos 50 anos que sucederam ao Concílio Vaticano II, não foi diferente.
            Porém, quem tem olhos para ver, ouvidos para ouvir, e os demais sentidos afinados, mormente os da mente e do coração, sabe muito bem que outra face da Igreja, do episcopado, do clero e do povo de Deus (fiéis leigos), brilhou e continua a brilhar no Brasil e na América Latina nesses 50 anos posteriores ao Pacto das Catacumbas. Ninguém em sã consciência pode negar os imensos avanços da Igreja para junto do povo pobre e oprimido – a grande maioria -, que a Caminhada da Libertação proporcionou com sua insistência em apontar, como teologia, para além de todas as realizações imediatas de prosperidade e sucesso, ao Reino de Deus e de sua justiça. Pequenos grupos se formaram onde a Igreja se fez experiência do Reino de Deus. Bispos, padres, religiosos e leigos, todos juntos, compartilhando as dores e as alegrias, lutando por mais vida, e celebrando, na fé e na esperança, a presença do Senhor Ressuscitado. A inclusão dos descartados nas comunidades de periferia perturbou aos poderosos deste mundo. Entre os poderosos perturbados também estão lobos vestidos com peles de carneiros: são os que ainda insistem em ver os postos hierárquicos como honras conquistadas e defendidos a unhas e dentes.
            Para quem pensa que os propósitos dos bispos das catacumbas foi apenas fogo de palha, que agora as coisas já voltaram para o marasmo de sempre, queremos recordar as sábias palavras do nosso ilustre e influente teólogo da libertação, Pe. Libânio – falecido há pouco – de que se pode imaginar o movimento teológico da libertação como uma imensa estátua de sal diante dos olhos da sociedade. Com o passar dos anos, o medo que essa estátua provocava foi diminuindo, e aos poucos tentaram desmanchá-la, jogando água contra ela. De fato, ela se diluiu. Sua cabeça mal aparece por cima das águas que se espalharam por toda a superfície. Porém, puro engano! O sal da estátua se diluiu, mas as águas o levaram para todas as valetas; seu sabor atingiu os mais recônditos espaços ocupados pelos seres humanos que já não contavam mais para a sociedade. Hoje já não se pode prescindir dessa certeza de que todos lutam por seus direitos e aí daqueles que simplesmente passam por cima dos outros, seja de quem for!
            É bom lembrar que quanto mais os bispos e os chefes de comunidades tiveram a coragem de se tornar animadores, presentes no dia a dia da vida do povo, abertos ao diálogo, tanto mais os pobres, os indefesos e os deserdados da vida tomaram consciência de sua dignidade. Retomaram sua voz para também ter vez. A Igreja produziu muitos mártires nesses anos. Mártires da luta, do serviço humilde e, principalmente da persistência teimosa em sonhar com um mundo melhor, onde todos têm vez e voz. A Igreja estava e está com eles. Melhor ainda, eles são a verdadeira Igreja de Cristo que, como Ele, não se cansa de anunciar e implantar o Reino de Deus, seu Pai.

Puxada de orelhas
            Tudo o que é humano é limitado. Até os propósitos mais santos e sérios. Não há dúvida de que também o compromisso assinado pelos bispos do pacto vai aos poucos esmorecendo. É preciso que alguém os lembre novamente do que se propuseram, e que faça isso com muita convicção, um puxar de orelhas!
            Muito se falou e se escreveu sobre a necessidade de recuperar o espírito renovador do Vaticano II, mas para a surpresa de toda a Igreja, o impacto causado pelo fenômeno Papa Francisco, não é apenas um puxar de orelhas, mas verdadeiro sopro do Espírito, executado com autoridade, que interpela a todos, primeiramente aos bispos e responsáveis pelas igrejas e comunidades de todos os cantos da terra. Em seus discursos, Francisco não mede as palavras para chamar a atenção dos líderes (bispos, padres etc.) para sua real responsabilidade pelo rebanho de Cristo. Nada de honras, mas serviço! Falando aos responsáveis pela escolha dos futuros bispos, Francisco lhes adverte de que devem estar certos de que os nomes por eles apresentados foram antes pronunciados pelo Senhor. Necessitam possuir tal garantia. Por isso, os bispos eleitos precisam ser antes eleitos pelo Espírito Santo, e requeridos pelo Povo Santo de Deus; devem ser pastores, não ‘para si’, mas para a Igreja, para os outros, sobretudo para aqueles que, segundo o mundo, devem ser descartados. Bispos que fiquem em suas dioceses e não andem viajando para participar de ‘encontros e congressos’, pelo mundo todo. Bispos que saibam oferecer a própria vida pela Igreja, não sozinhos, mas junto com ela. Que saibam elevar-se à altura do olhar de Deus, para de lá guiar o povo. A Igreja não precisa de bispos dirigentes, administradores de empresa, e muito menos de alguém que está ao nível das deficiências ou pequenas pretensões das pessoas, mas de alguém que olhe com a amplidão do coração de Deus. Todas as qualidades humanas, intelectuais, culturais são importantes, contudo devem ser uma declinação do testemunho central do Ressuscitado, subordinados a este compromisso prioritário.
            Boa puxada de orelhas! Talvez para alguns seja exagerado, mas é sempre bom aproveitar a oportunidade para se renovar. Ao achar que está tudo bem, as pessoas e as comunidades de acomodam. O verdadeiro discípulo de Jesus de Nazaré não pode nunca estar “tranquilo”, mas sempre atento e ouvindo continuamente as palavras do Divino Mestre: “Vai!”.
            Que bispos, padres, religiosos e leigos, louvando a Deus pelo jubileu de ouro do Concílio Vaticano II, e pela força inovadora derramada sobre todos com a novidade do Papa Francisco, se renovem e deixem o Espírito agir para que Ele renove a face da Terra.
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com.br