A PALAVRA
Pe. Mário Fernando Glaab
A palavra é mais do que palavras. Parece que a lógica natural de cada ser humano está de cabeça para baixo. Mas é assim mesmo. E tem mais, a palavra falada é mais do que a palavra escrita. Ela é inviolável. Uma vez falada, é incontrolável. Ela vai, contendo a pessoa que a falou. A palavra que foi escrita pode ser reinterpretada, rasurada ou até apagada. A escrita pode ser violada.
Sem dúvida, não estamos falando das palavras que são jogadas por aí afora. Mas da palavra que é comunicação. Isto é, que contém a pessoa que se doa, se comunica. Estamos falando da verdadeira palavra ou da palavra que é a verdade. O comunicador, ao se comunicar, somente pode expressar a verdade. Caso contrário, a palavra não é a sua, mas transforma-se em palavras vãs (vana verba). A palavra é a própria pessoa. O ditado diz: “a boca fala daquilo que o coração está cheio”. Podemos entender coração como a realidade mais íntima do ser humano, também chamado de alma ou vida. É a dimensão onde o ser humano está aberto para Deus, ou o mais perto dele.
Pode acontecer que, apesar da veracidade intencional, as palavras não correspondem à comunicação do emitente. Elas não traduzem com fidelidade o que se pretende. Nesse caso, existe a dificuldade dos termos e das expressões e, por outro lado, a interpretação do ouvinte conta muito. Se o que ouve não está à altura da palavra que lhe é dirigida, não capta o conteúdo. Não recebe a riqueza de conteúdo que o comunicador nela depositou.
Em nossas celebrações litúrgicas vem recuperando cada vez mais importância a Palavra de Deus. Para estar acessível a todos é proclamada solenemente. Mas, pergunta-se, normalmente ela atinge, com a sua força própria, o coração dos ouvintes? Não é fácil responder. Certamente não falta, da parte de Deus, o melhor conteúdo: Ele próprio se comunica; Ele é a Palavra. A Palavra, Jesus Cristo, em nosso linguajar humano. Pode acontecer, justamente por estar no linguajar humano, que a Palavra não toque, com todo o seu alcance, o ouvinte. Quando esse não está atento ou não se sente interpelado, ainda existe a homilia que, por sua vez, pretende “ajudar” a acolher o que foi anunciado na realidade de cada um. Não seria totalmente certo dizer que a homilia atualiza a Palavra, pois mesmo sem ela, a Palavra é sempre atual. O que a homilia pretende é fazer com que a Palavra que foi proclamada permaneça nos ouvintes, que estão reunidos, produzindo frutos de compromisso e conversão. Não deve ser aula de teologia bíblica e nem sermão moralista. Somente há de ser ajuda mútua entre irmãos; e isso, quando o que prega, sabe que, em nome de Cristo, desafia a si e aos demais para que deixem que a Palavra os transforme. Não é ele que dá vida à Palavra, mas ajuda os irmãos a receber vivamente a força da Palavra.
Se em nossas celebrações litúrgicas tivéssemos consciência da importância da Palavra de Deus faríamos, sem dúvida, um esforço maior para proclamá-la melhor, e igualmente, para acolhê-la com todo empenho. Não convém convidar as pessoas para proclamarem uma Leitura somente por consideração a elas; todavia, é preciso que o leitor esteja ciente do que irá fazer, e que o faça bem. Assim como também nunca se deve escolher entre um ou outro pregador pelo fato de se gostar mais dele. O que se deve procurar é estar atento àquilo que a homilia transmite.
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