SINAL CLARO DA VERDADEIRA IGREJA
Pe. Mário Fernando Glaab
Alguém diz: “Por que Deus não dá um sinal claro ou uma prova convincente de que a nossa Igreja é a única verdadeira e que todos precisam se converter a ela para se salvar?”. A pergunta é intrigante e complicada para quem sempre aprendeu que a Igreja Católica é a Igreja fundada por Jesus Cristo e que continua pelos séculos cumprindo a sua missão de levar Cristo Salvador a todos os povos, sendo assim, instrumento de salvação, ou como afirmou o Concílio Vaticano II, “Sacramento Universal de Salvação”. Mais ainda, quando se acredita que Jesus quer que todos recebam sua mensagem salvífica e que ele tem o poder para realizar isso. Por que, então, não o faz? Seria tão bom e cômodo para os pregadores: não haveria mais aquela preocupação em explicar, em convidar, em convencer... Contudo, não é assim. A realidade do dia-a-dia é muito diferente.
Os milagres como sinais claros
Afirma-se com certeza que milagres acontecem. Mas nem eles convencem totalmente, pois geralmente os que não acreditam também não os veem. E, é preciso admitir, não são tão frequentes como se gostaria que fossem. Por outro lado, milagres estão em alta, não na Igreja Católica, mas muito pelo contrário, em diversas denominações cristãs que surgem cada vez com mais intensidade. São verdadeiros ou falsos? Essa já é outra questão. As diferentes igrejas cristãs levam a salvação de Cristo aos fiéis como o faz a Igreja Católica ou não, também é outra questão. Então, por que Deus, com um toque de mágica, na força de seu poder, não mostra claramente a todos que o caminho certo e único é o da Igreja Católica?
Tentando encontrar uma resposta séria e responsável, não se deve partir de pressupostos superficiais. Em primeiro lugar, ao crer que Deus quer a salvação de todos, não se pode ignorar o imenso esforço que as pessoas das mais diversas religiões e denominações cristãs fazem por acolher tal salvação, correspondendo à graça de Deus. O respeito para quem acredita diferentemente é indispensável. Ninguém possui o direito de considerar a fé do outro como falsa. Deus que conhece o íntimo dos corações saberá “aproveitar” de todas as chances que o ser humano lhe concede para que seja atingido. Portanto, afirmações radicais são sempre perigosas. Será que Jesus estava tão preocupado com a maneira das pessoas viverem sua fé? Ou lhe interessava bem mais a sinceridade da fé e da confiança que depositavam em Deus?
Alternativa do sinal claro
Observando com atenção as obras de Deus, até onde nos é possível conhecer, tanto na criação, na história quanto na Revelação, podemos chegar a uma resposta alternativa, bem diferente da que se esperava ao formular a pergunta. Deus deu e continua sempre dando sinais para todas as pessoas de como ele quer que seja a humanidade e, em Jesus Cristo, como quer que seja a sua Igreja. Para que esse sinal – a Igreja - tenha força e possa ser eficaz, ele, no entanto, necessita de colaboração das pessoas de boa vontade. É por meio de humanos que ele pode falar aos humanos. Isso não por ser incapaz, mas pelo fato de os seres humanos serem incapazes de ouvir uma palavra não humana. Quem, então, de fato tem a incumbência de ser o sinal, claro até onde for possível para humanos limitados, somos nós mesmos. Isso quer dizer que quanto mais vivermos e testemunharmos que entre nós o Reino de Deus se atualiza, tanto mais o sinal da vontade de Deus sobre a sua criação será eficaz, e quanto mais alguém testemunha que em sua Igreja o mandamento do amor é vivido, tanto mais a sua Igreja é verdadeira e portadora da salvação que Jesus continua a oferecer para todas as criaturas. Nesse sentido, cada católico e cada membro de outra religião ou confissão cristã, ao praticar o mandamento do Senhor colabora com Deus e com Jesus que, em linguagem humana, dá o sinal da verdade de sua ação salvadora. Merece crédito, não o fiel como tal, mas o que Deus realiza nele e por ele, à medida que se abre e acolhe o desejo infinito de Deus em oferecer a todos o seu amor, sua vida e sua salvação.
A linguagem do amor, para ser verdadeiramente humana e capaz de provocar respostas igualmente humanas, precisa se impor a tal modo que não fique em teoria abstrata. Ela se faz relevante quando atinge concretamente as pessoas, libertando-as de tudo o que as oprime ou faz sofrer. O sinal que Deus espera de nós é que nos envolvamos diretamente na construção de um mundo onde não haja distinção entre as pessoas. Qualquer injustiça contra quem quer que seja deve ser denunciada e que as lutas dos mais fracos sejam assumidas e compartilhadas por nós. Os fracos, bem entendido, são os pobres de bens materiais, dos bens espirituais, de saúde de conhecimentos, de voz e de vez. A igreja que mais se identifica com o Reino onde todos têm acesso à vida em abundância, conforme Jesus de Nazaré o anunciou e viveu, é a mais verdadeira e o sinaliza melhor.
Dessa nova consciência de responsabilidade que cai sobre cada um de nós, muda totalmente a questão. Não mais se interroga sobre o porquê de Deus, mas se coloca em cena a colaboração e a responsabilidade de cada cristão e de cada cristã. A iniciativa é de Deus, e ele a leva a cabo a tal ponto de se fazer um ser humano para poder se comunicar humanamente; mas quem tem a tarefa de interpretar e atualizar hoje essa comunicação é cada um que ouviu o apelo e o deixa produzir frutos. Não tem nenhum sentido achar que somos melhores do que os outros – todas as pessoas de boa vontade estão procurando responder a seu modo – mas talvez caiba a nós, cristãos e, de modo especial aos católicos, a partir de sua fé na Revelação e na presença de Jesus, o Ressuscitado, mostrar que verdadeiramente em nossa maneira de viver os valores do Reino, a Igreja de Cristo Jesus está em ação.
Conclusão
Não se deve pedir a Deus que faça o que já fez, uma vez que agora a missão é nossa. Não se deve esperar dele o que ele quer do ser humano faça. Jesus, Deus e Homem, Já nos deu o sinal. Nós, os humanos, necessitamos acolher esse sinal. Acolher, no entanto, significa passá-lo adiante, ou melhor, torná-lo eficaz. Deus não quer e não pode passar por cima da liberdade do ser humano. Deus, em Jesus de Nazaré, está sempre apoiando cada homem e cada mulher a ser sinal verdadeiro e eficaz juntamente com os demais homens e mulheres para que o mundo possa crer. Mesmo que os humanos sejam limitados, com a força do Deus que se revela de forma tão humana que somente pode ser divino, eles são capazes de transformar o mundo, de converter os corações, pois seu ser, na força do Espírito de Deus, está perpassado do amor de Deus.
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