sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Quaresma e Confissão

QUARESMA E CONFISSÃO
Pe. Mário Fernando Glaab
Durante a Quaresma, e especialmente na Semana Santa, ouve-se falar da Confissão Sacramental em nossas igrejas. Talvez o pároco ou algum comentarista lembre que é bom aproveitar a oportunidade para se confessar. O que dizer da Confissão hoje? Ela ainda tem sentido?
            Não é preciso ser bom observador para constatar que os tempos mudaram, e que, ultimamente os confessionários são bem menos procurados que em anos passados. Seria isso um sinal de que os cristãos evoluíram espiritualmente em relação à concepção do pecado e do perdão? Ou, por outro lado, uma constatação de que as consciências já não acusam as culpas como no tempo de nossos pais? E, por último, as pessoas já não necessitam da misericórdia de Deus por viverem melhor, em maior conformidade com o Evangelho?
            As questões não são fáceis de responder. Ainda mais por envolverem as consciências de cada um. Sabe-se, no entanto, que o homem de nosso tempo, influenciado pelo contexto cultural que valoriza sempre mais a liberdade do sujeito e, ao mesmo tempo engloba um pluralismo religioso de amplitude inimaginável há poucos anos atrás, não se sujeita facilmente a costumes que não lhe parecem convincentes e atuais. Todavia, na busca do bem viver, para si e para o seu grupo, o homem contemporâneo defronta-se com mil e uma dificuldades que o tornam culpado. Ele sente-se culpado. É cada vez mais difícil acertar em situações tão complicadas, seja para com Deus como para com o próximo, assim como para com a natureza. O ser humano erra, e precisa aceitar o seu erro!
            A confissão dos próprios limites e das próprias culpas, mesmo não sendo a Confissão da qual estamos falando no nível da fé, é sempre dolorosa, mas é purificadora; pois permite recomeçar e fazer melhor. Na fé da Igreja a Confissão adquire o perdão de Deus que é muito mais do que uma possibilidade para recomeçar. É deixar-se envolver pelo amor do Pai que não pede nada em troca do perdão. Recomeçar, após essa experiência do amor misericordioso do Pai, é um novo início, pois conta positivamente com a graça que impulsiona para o bem. Agora será mais fácil acertar, pois o perdão assim experimentado possibilita ao cristão a ver tudo na ótica do amor. E o amor, como já se disse repetidas vezes, tem razões que a razão desconhece.
            Há de ficar claro que nos nossos tempos também o Sacramento da Penitência necessita ser reinterpretado. Não basta repetir o que era ensinado há cinqüenta anos atrás. O homem contemporâneo precisa descobrir e experimentar o Pai bondoso presente também hoje em suas conquistas e derrotas. Muitas coisas mudaram, mas a necessidade de conversão continua também para o homem e a mulher de nossos dias. Apesar de tantas conquistas nas ciências, nas comunicações, na economia e na cultura, ele e ela continuam com suas limitações que são próprias da criatura; e, em conseqüência, no dever de buscar mudanças também na vida espiritual. É a chamada conversão.
            Pelo abandono da Confissão não se desenvolve simplesmente uma nova cultura de conversão, arrependimento e perdão. O que é preciso para a nova cultura desses valores há de ser igualmente a nova cultura da Confissão. Essa há de abranger o ser humano em seu contexto mais amplo que no passado. Para se falar da escolha do bem ou do mal, deve-se levar em conta horizontes mais extensos. Este horizonte contém aspectos relacionais com Deus, com o outro e com a natureza em todas as suas implicações.
            Os comentários negativos sobre a Confissão geralmente são justificativas diante do medo da mudança. Pode-se falar, em tom bastante malévolo, da Confissão para desviar-se da penitência.  Medo da penitência. Entre medo da penitência e medo da mudança não há contradição, pois a mudança ocupa o lugar tão temido da penitência. Mudar faz bem, mas pode ser dolorido para quem já está habituado a se locomover apenas no pequeno círculo do seu eu egoísta.

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